É a quarta vez que um defeito na subestação Bongi da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) deixou uma parte do Recife sem energia. O apaguinho de ontem afetou cerca de 250 mil pessoas em bairros da Zona Norte, Oeste e Sul da capital. Em nota, a estatal atribuiu a falta de energia a um “defeito interno” na unidade, o que provocou a interrupção no fornecimento de 230 megawatts (MW). Isso corresponde a pouco mais de 15% do consumo médio de Pernambuco que é, em média, 1,5 mil MW.
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Para os recifenses, a manhã de ontem foi de caos. A falta de energia suspendeu o funcionamento do metrô, desligou os semáforos dos bairros afetados – complicando ainda mais o trânsito –, derrubou o sistema de algumas agências bancárias, e até a rede de internet das telefonias ficou comprometida. A situação se normalizou, depois que o serviço foi restabelecido.
Só que o problema pode se repetir, considerando o histórico dos apaguinhos. Com exceção de 2015, todos os anos a partir de 2013 ocorreram problemas nessa subestação, que fica próxima à sede da Chesf. Eles acontecerem em 2013, no dia 07 de abril; em 2014, no dia 17 de dezembro; e em 2016 no dia 17 de junho.
“O que chama a atenção é a repetição dos incidentes, o que deve indicar que algo não está caminhando como deveria na subestação do Bongi”, afirma o engenheiro Antonio Feijó, especialista em energia. O “defeito interno” citado pela Chesf significa uma falha em algum equipamento. Um funcionário da estatal que preferiu não se identificar disse ao JC que a manutenção de todos os equipamentos da companhia são feitos rigorosamente em dia e documentados. “Já a compra de (novos) equipamentos pode ter sido comprometida nos últimos anos...”, revelou.
Os equipamentos têm um tempo de vida útil e, depois disso, param de funcionar. Só que algumas máquinas do setor elétrico não são baratas e a Chesf está passando por um momento difícil financeiramente. A empresa perdeu parte da sua receita desde 2013, por causa da lei federal 12.783, que tinha por objetivo reduzir em 20% a conta dos brasileiros, o que nunca ocorreu. Para isso, a Chesf foi obrigada a vender sua energia mais barata.
Como consequência, a estatal passou a ter as receitas praticamente iguais às despesas. Isso provocou a paralisação de mais de 100 obras. Além do problema financeiro, a companhia também teve um bloqueio judicial de cerca de R$ 490 milhões que, mesmo estando na conta da empresa, não poderiam ser movimentados entre meados de 2016 até janeiro de 2017. Esse bloqueio dos recursos, referente a problemas judiciais, contribuiu para o atraso na conclusão de mais obras de geração e transmissão.
A subestação Bongi é a mais antiga da Chesf na cidade e, até a década de 1970, também abastecia João Pessoa, na Paraíba. Atualmente, passam por lá cerca de 40% da energia distribuída para a Região Metropolitana do Recife. A interrupção do serviço ontem começou às 6h54, horário local, e só foi 100% restabelecido às 9h56.
RESPOSTA
Por nota, a Chesf informou que a subestação Bongi tem um desempenho dentro da normalidade e o plano de manutenção é cumprido rigorosamente. De acordo com a empresa, os equipamentos que apresentam registro de não-conformidades (falhas) são reparados ou substituídos. “A ocorrência de ontem teve origem distinta de registros anteriores, não havendo nenhuma relação de causalidade”, defendeu, emendando que os equipamentos que apresentaram defeito, na manhã de ontem, já tinham passado por inspeções e não tinham qualquer registro de anormalidade que indicasse a necessidade de substituição.