Os postos de combustíveis amanheceram ontem (31) com um novo preço para o litro do diesel. O aumento calculado pela Petrobras para o Nordeste é de 12,5% e é resultado da desvalorização do real em relação ao dólar. O reajuste foi anunciado na quinta (30), pouco mais de três meses após acordo que garantiu subsídio e corte de impostos sobre o combustível com o objetivo de pôr fim à greve dos caminhoneiros que parou o País. Pelo acordo, os preços do diesel só são reajustados a cada 30 dias, acumulando a flutuação do dólar e os valores praticados no mercado internacional no período.
Esta foi primeira alta expressiva no preço final do produto desde o início do programa de subvenção e ocorre sem que o preço de bomba tenha caído os R$ 0,46 por litro prometidos pelo governo. Entre a primeira semana de greve, em maio, e a semana passada, a queda foi de R$ 0,41 por litro, segundo dados da ANP. Para o Nordeste, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) calcula o novo preço do litro do diesel nas refinarias em R$ 2,2592.
DIESEL
Na prática, os postos de combustíveis do Recife já apresentavam ontem o litro do diesel entre R$ 0,30 e R$ 0,40 mais caro. O reajuste foi definido com base em nova fórmula elaborada pela ANP, que considera os custos para trazer o produto ao País, conceito conhecido como paridade de importação. Embora tenha absorvido sugestões do mercado, a fórmula foi alvo de críticas das empresas do setor. Em evento no Rio ontem, o gerente executivo de Marketing e Comercialização da Petrobras, Guilherme França, disse que o preço novo aperta as margens de lucro, mas não inviabiliza importações.
No Recife Antigo, o Posto FVV, na Avenida Militar, vendia o diesel ontem por R$ 3,639 o litro. Até a quinta era R$ 3,339 (diferença de 9%). Já no posto Petro Mega, no Cais do Apolo, o gerente Russel Delon, deixou para fazer a troca dos letreiros com os novos preços na tarde de ontem. O diesel passou de R$ 3,289 para R$ 3,590 o litro (9% a mais). “Como muita gente já tinha aumentado, formou muita fila aqui pela manhã”, disse o gerente.
O caminhoneiro Jerônimo Barbosa de Souza, não escondia seu descontentamento. Ele transportava uma carga de 14 toneladas de fertilizantes. “Recebi R$ 381 pelo frete. Devo gastar uns R$ 150 de diesel”, lamentou, reforçando que o aumento do dólar também fez com que o preço do fertilizante subir, o que diminuiu as vendas e, consequentemente, o valor do frete. “Há dois meses recebi R$ 550 por essa mesma viagem. Como a tabela de frete mínimo não pegou, o comerciante paga o que quiser pra gente. E agora esse aumento absurdo do diesel. Não demora muito e vai ter outra greve.”
A Abcam, entidade que reúne os motoristas autônomos, disse ontem que pretende se reunir com o governo para discutir o aumento do preço do diesel e que fará o possível para evitar nova paralisação da categoria. O presidente do Sindicombustíveis, Alfredo Pinheiro Ramos, diz que a situação só não está pior porque os preços do diesel no mercado internacional estão estáveis e desaprova a dependência do Brasil do diesel importado, dizendo que a Refinaria Abreu e Lima só produz 1/3 de sua capacidade. “Se o preço do combustível subir e o dólar continuar variando para cima, como sempre acontece em ano de eleições presidenciais, a situação ficará insustentável.”