“Marquei um pouco com a cabeça e um pouco com a mão de Deus”, disse o craque argentino Diego Maradona na saída de campo após esticar o braço em um dos gols ante a Inglaterra, em 1986. “A bola cruzou a linha? Não sei e creio que não vou saber nunca”, afirmou Geoff Hurst após marcar na final da Copa de 1966, vencida pelos britânicos. Em um tempo sem recursos de vídeo - o famoso VAR (sigla em inglês para video assistant referee ou simplesmente árbitro de vídeo) -, grandes polêmicas tomavam conta dos Mundiais. Se a tecnologia estivesse presente nas Copas desde o início, a história de algumas conquistas poderia ser diferente. A reportagem do JC elencou lances de Copas anteriores e projetou como seria o desfecho caso eles não tivessem passado despercebidos.
SE O VAR JÁ EXISTISSE, GOL DE MÃO DE MARADONA SERIA ANULADO
A resposta inusitada de Dieguito deu repercussão a uma das jogadas mais icônicas quando o assunto é falha da arbitragem. Pelas quartas de final de 1986, o camisa 10 abriu o placar contra a Inglaterra ao desviar com a mão para a meta do goleiro Peter Shilton. Os mais de 100 mil pagantes no Estádio Azteca, no México, viram o toque, menos o juiz tunisiano Ali Bin Nasser, que validou o lance. Minutos depois, Maradona protagonizou um dos mais belos gols da história do futebol, ao driblar cinco jogadores e ampliar o placar 2x0. Aos 36, Lineker até diminuiu, mas de nada adiantou para o esquadrão da terra da rainha. A Argentina seguiu na competição, eliminou a Bélgica na semifinal com mais dois tentos do craque e na final derrotou os alemães por 3x2. Brown, Valdano e Burruchaga balançaram as redes na decisão. Naquele torneio, os hermanos levantaram a taça pela segunda vez, depois de terem erguido o troféu em casa, em 1978. Caso os britânicos tivessem passado, poderiam encontrar a Alemanha na decisão e reeditar o confronto de 20 anos atrás, quando outra polêmica aconteceu.
SE O VAR EXISTISSE, FINAL DA COPA DE 1966 PODERIA SER DIFERENTE
Justamente em 1966, em solo britânico, os donos da casa ganharam a final sobre os germânicos com um gol para lá de discutível. Aos 11 minutos da prorrogação, quando o placar mostrava 2x2, Hurst chutou na trave e viu a bola quicar perto da linha. Na ocasião, o árbitro suíço Gottfried Dienst validou a jogada, mas até hoje o tento vive sob suspeita. A partida foi vencida por 4x2 e a anfitriã ergueu sua primeira e até hoje única taça. Se tivessem ganho, os alemães sagrariam-se bicampeões e hoje estariam, assim como o Brasil, na busca pelo hexa.
SE O VAR EXISTISSE, O GOL DE LAMPARD SERIA VALIDADO
Depois de 44 anos veio o troco, mas em um novo cenário. Pelas oitavas de final do Mundial da África do Sul, quando a Alemanha vencia por 2x1, o inglês Frank Lampard chutou de fora e encobriu o arqueiro Manuel Neuer aos 37 minutos do primeiro tempo. A bola entrou 33 centímetros, mas o uruguaio Jorge Larrionda deixou a partida seguir. Na etapa seguinte, os germânicos ampliaram para 4x1 com dois gols de Thomas Müller. Nas quartas, encararam a Argentina, em duelo vencido por 4x0 com tentos anotados por Müller, Klose (duas vezes) e Friedrich. Na semifinal, no entanto, veio a eliminação perante a Espanha, em jogo perdido por 1x0. Puyol foi o autor do tento da Fúria. Caso passassem, os britânicos encarariam a Argentina. O erro não foi visto, mas quatro anos depois, no Brasil, foi inserida a Tecnologia da Linha do Gol.
SE O VAR EXISTISSE, ESPANHA TERIA PÊNALTI CONTRA O BRASIL EM 1962
Em 1962, no Chile, o Brasil perdia para a Espanha por 1x0 em um jogo decisivo da fase de grupos, no qual o derrotado poderia voltar para casa. Quando o atacante Enrique Collar entrou na área o lateral-esquerdo Nilton Santos fez a falta, mas discretamente deu dois passos para frente. Sem perceber a malandragem do brasileiro, o árbitro Sergio Bustamante marcou falta fora da área e não pênalti no estádio Sausalito. O time canarinho virou a partida com gols de Amarildo no segundo tempo e se classificou para enfrentar a Inglaterra nas quartas de final, quando ganhou por 3x1. Em seguida, a seleção brasileira eliminou os chilenos na semifinal por 4x2 e superou a Checoslováquia na decisão por 3x1, com mais um de Amarildo. A campanha representou a conquista do bicampeonato da seleção. Se passassem, os ibéricos poderiam ter conquistado o primeiro título de sua história, feito que só foi alcançado 48 anos depois, em 2010.
SE O VAR EXISTISSE, DESTINO DA COREIA DO SUL PODERIA SER OUTRO EM 2O02
Os sul-coreanos foram o centro das atenções nos erros de arbitragem desta Copa do Mundo. Jogando em casa, os asiáticos saíram beneficiados em duas partidas eliminatórias. Primeiro, nas oitavas diante da Itália. Após empate em 1x1 no tempo normal, Totti foi derrubado dentro da área durante a prorrogação. Além de não assinalar o pênalti, o juiz equatoriano Byron Moreno deu o segundo amarelo para o italiano, que consequentemente foi expulso. Logo depois, um gol legal do volante Tommasi foi considerado impedimento. Nos minutos finais, um gol de ouro de Ahn Jung-hwan selou a classificação coreana. Anos depois, o árbitro reconheceu ter prejudicado a seleção italiana. Nas quartas, ante a Espanha, erros grotescos a favor da Coreia. No tempo normal, um tento de Baraja foi anulado. Na prorrogação, Joaquín cruzou e o auxiliar disse que a bola havia saído antes do gol de Morientes. Nos pênaltis, o goleiro asiático se adiantou, o egípcio Gamal Ghandour deixou seguir e os anfitriões passaram para a semifinal.