São Paulo

Rogério Ceni, o adeus do artilheiro de luvas

Apesar do risco assumido de atravessar o campo inteiro para cobrar faltas e pênaltis, Rogério sempre acabava voltando para defender o São Paulo, que só deixou na hora da aposentadoria

Da AFP
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Publicado em 10/12/2015 às 10:56
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Apesar do risco assumido de atravessar o campo inteiro para cobrar faltas e pênaltis, Rogério sempre acabava voltando para defender o São Paulo, que só deixou na hora da aposentadoria - FOTO: Foto: Divulgação /SPFC
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Rogério Ceni é um dos poucos goleiros que gostava de ver as redes balançar, porque ele mesmo castigava os colegas. O 'mito' se consagrou como o maior artilheiro da posição, com 131 gols marcados.

Apesar do risco assumido de atravessar o campo inteiro para cobrar faltas e pênaltis, Rogério sempre acabava voltando para defender o São Paulo, que só deixou na hora da aposentadoria.

Aos 42 anos, 25 no tricolor, o único clube da sua carreira profissional, chegou a hora de dizer adeus.

A despedida está marcada para esta sexta-feira (11), no Morumbi, com partida de gala entre os bicampeões mundiais de 1992 e 1993 e os companheiros de Ceni no tri de 2005.

Lesionado, o goleiro não pôde se despedir num jogo oficial, contra o Goiás, na última rodada do Brasileirão.

Mesmo assim, Ceni fez questão de viajar à Goiânia para apoiar os companheiros e desempenhar pela última vez o papel de capitão, da beira do gramado.  

"Quem mata o tempo não é assassino, é suicida", disse o goleiro na preleção, citando a frase do escritor Millôr Fernandes, depois da equipe garantir a vaga na Libertadores, com vitória por 1 a 0 no Serra Dourada.

Líder nato, Rogério sempre foi obcecado pela perfeição e agarrou todas as oportunidades da vida como os chutes dos atacantes adversários.

Natural de Pato Branco, no Paraná, o goleiro cresceu no Mato Grosso, onde deu os primeiros passos no futebol, no modesto Sinop, até chegar ao São Paulo em 1990, com apenas 17 anos.

Desde então, foram 1.237 partidas com a camisa tricolor. Nenhum jogador na história defendeu tantas vezes o mesmo clube.  Foi capitão durante 16 anos e conquistou 26 títulos, com destaques para o tricampeonato brasileiro de 2006, 2007 e 2008, sob o comando de Muricy Ramalho, e os títulos da Libertadores e do Mundial de 2005. 

Dos 131 gols que marcou na carreira, 69 foram de pênalti, 61 de falta e um com bola rolando. Com esta marca, ele deixa o São Paulo como décimo maior artilheiro da história do clube. "É um goleiro excepcional, que tem a melhor técnica que eu já vi com os pés. Além disso, tem personalidade muito forte, e por isso se tornou um ídolo da torcida", conta à AFP Raí, outro craque histórico do tricolor, que acompanhou o início da carreira de Ceni.

- Recordista em série -

Na reserva de Zetti, sua grande fonte de inspiração, Rogério viu desde o banco a geração dourada de 1992 e 1993 levar o clube ao bicampeonato mundial, sob o comando de Telê Santana. Sua estreia no time principal foi no dia 25 de agosto de 1993, durante um amistoso na Espanha. "Nossos triunfos marcaram o início da sua carreira. Ele fez parte de um grupo muito vitorioso e soube aproveitar", ressalta Raí.

Ceni foi alçado de vez à condição de 'mito' 12 anos depois, no dia 18 de dezembro de 2005, quando imitou os ídolos e foi eleito melhor em campo na final do Mundial de Clubes, com defesas espetaculares contra o Liverpool (1-0), em Yokohama, no Japão.

Foi o melhor ano da sua carreira, com outros dois títulos (Libertadores e Paulista), e 21 gols marcados. Oito meses depois, Ceni superou o paraguaio Chilavert na artilharia histórica dos goleiros. Em 2013, o 'mito' superou até uma marca do Rei Pelé, que disputou 1.116 partidas com o Santos.

- Roqueiro e engajado -

Yokohama foi o palco de outro grande momento da carreira de Ceni, que, em 2002, três anos de chegar ao topo do mundo com o São Paulo, já tinha se sagrado campeão com a seleção brasileira, mas a conquista teve sabor um pouco amargo, já que o goleiro ficou na reserva de Marcos, e assistiu do banco à campanha do penta.

Rogério disputou apenas 17 partidas com a camisa verde-amarela, e sua participação em Copas do Mundo se resumiu a oito minutos, contra o Japão, em 2006, na Alemanha. "Rogério teve algumas oportunidades na seleção, mas ficou marcado por um período bastante conturbado", lembra Raí. 

Como os velhos astros do rock, seu estilo de música preferido, Rogério vem flertando com a aposentadoria desde os 40 anos de idade, mas sempre encontrou motivos para esticar mais um pouco a vitoriosa carreira. No dia 13 de maio, porém, o Cruzeiro impediu o 'Mito' de encerrar a carreira da forma que sonhou, com mais um título internacional, ao eliminar o São Paulo da Libertadores, nos pênaltis.

Rogério converteu sua cobrança e defendeu outra, mas não foi suficiente. O contrato acabava inicialmente em julho, mas o goleiro resolveu dar mais uma 'esticadinha', até o final do ano, para, ao menos, deixar o clube na Libertadores do ano que vem.

Outro legado do ídolo é o engajamento fora dos gramados, pela atuação no movimento Bom Senso FC, que luta por melhorias no futebol brasileiro. O adeus final será nesta sexta-feira, no Morumbi, estádio em que se consagrou, e a torcida poderá cantar mais uma vez o hino "Todos, todos tem goleiro, só nós temos Rogério".

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