Vinicius Junior vive no Real Madrid uma situação tão desconcertante quanto seus próprios dribles. O atacante foi inscrito nesta terça-feira na Liga dos Campeões pelo time principal, mas atua pelo equipe B, na terceira divisão nacional. O atacante está com um pé lá e outro cá por causa da avaliação técnica e tática feita pelo clube espanhol. Em linhas gerais, o jovem contratado por 45 milhões de euros (R$ 154 milhões) tem um talento bruto, mas precisa melhorar - muito - no bê-á-bá do futebol, os fundamentos, na linguagem técnica.
O Estado conversou com pessoas que tiveram acesso às avaliações da comissão técnica do Real Madrid, mas que não quiseram ser identificadas. O resultado mostra uma grande diferença entre o olhar brasileiro e a visão europeia sobre o jogador de 18 anos. Além disso, o estudo sublinha um traço frequente nos torneios de base no Brasil: os problemas de formação técnica e tática dos jogadores.
Para os profissionais espanhóis, o ex-jogador do Flamengo tem de melhorar bastante seu controle de bola com a perna esquerda e o jogo aéreo. Essas são as prioridades. Outro problema sério é a capacidade de definição, que pode melhorar em termos de recursos e agilidade. Vinicius Junior finaliza mal. O brasileiro precisa aperfeiçoar a qualidade dos lançamentos com a perna direita.
Existem lições de casa e reparos também em relação ao entendimento do jogo. O jovem formado na Gávea tem de perder a bola menos vezes e escolher melhor a hora de correr com ela ou tocar de lado aos companheiros.
Tudo isso ficou sintetizado em uma sequência de lances na pré-temporada diante da Roma. Ele estava encurralado na linha lateral, mas deu um passe de calcanhar entre as pernas do adversário. Na sequência, tentou uma virada de jogo que saiu vários metros distante do alvo.
O Real quer concluir sua formação e não deve emprestá-lo. Há muito trabalho a fazer com ele. O técnico Julen Lopetegui está satisfeito com a disposição do jovem e sua vontade para seguir os treinamentos. O plano prevê que Vinicius some poucos minutos no time principal na temporada. Por outro lado, vai ganhar confiança no time B. Isso ficou claro no fim de semana. Ele fez dois gols e se destacou no 2 a 2 com o rival Atlético de Madrid.
Nos últimos dois anos, a vida do menino que nasceu em uma das regiões mais pobres de São Gonçalo, no Rio, já seguia seu estilo de jogo: rápido, frenético e com seguidas mudanças de direção. Com 16 anos, "pintou e bordou" na Copa São Paulo de Juniores de 2017. Logo depois, venceu com a seleção o Campeonato Sul-Americano de Futebol Sub-17 no Chile, também no ano passado. Foi o melhor do torneio, virou celebridade e acabou vendido em maio. O futuro extraordinário que se abria para o negro de canelas finas e sorriso fácil virou pressão. Ficou quase quatro meses sem marcar um gol. Em 2018, começou a evoluir. Cada jogo a mais era uma contagem regressiva para sua saída. O Real já o acompanhava de perto, dando palpites dentro e fora de campo. Em julho, ele se foi.
Quando treina com as feras do time principal, como Casemiro e Kroos, faz questão de postar os lances nas redes sociais. Está curtindo a vida na Espanha, como menino e como aprendiz de craque.