O êxtase da paixão futebolística na Argentina ficará à tona neste sábado na disputa de um inédito superclássico do país na final da Copa Libertadores entre Boca Juniors e River Plate, tão populares quanto predestinados a fazer história. O primeiro cenário será a mítica Bombonera do Boca, o estádio que pulsa quando milhares de espectadores saltam e gritam nas arquibancadas. A volta acontecerá no dia 24 no grandioso Monumental, casa do River.
Os que torcem para o Boca e suas tradicionais cores azul e amarelo são os 'xeneizes', no dialeto genovês dos imigrantes italianos que povoaram o bairro portuário de La Boca. Já quem veste a camisa branca da faixa vermelha do River Plate é chamado de 'millionário' (milionário), um apelido que vem do histórico de contratações caras do clube.
Um sonho
É a primeira vez que os dois rivais se enfrentam na final da Libertadores desde que o torneio, o mais desejado do continente, foi criado em 1960. "É o jogo dos sonhos", declarou o ex-técnico da Argentina Marcelo Bielsa, hoje treinador do Leeds United inglês.
A emoção é de tirar o fôlego de qualquer um na Argentina. Os dois clubes têm juntos 70% dos torcedores do país. É melhor nem pensar na tensão que seria se os dois clubes decidissem o título nos pênaltis, no jogo de volta.
Os rivais se enfrentaram apenas duas vezes em um século na final de uma competição valendo um título oficial. Em 1976, o Boca venceu o River por 1 a 0 e ergueu o troféu do torneio Nacional. Já o River levou a Supercopa argentina naquele mesmo ano ao vencer por 2 a 0.
Lendas do futebol mundial vestiram essas camisas históricas: um tal de Diego Maradona no Boca e o inesquecível Mario Kempes no River.
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Paixão inexplicável
O difícil é saber qual o maior clássico do mundo. Sim, há outros enormes duelos pelo planeta, como o espanhol Real Madrid-Barcelona, o escocês Celtic-Rangers, o inglês Liverpool-Manchester United, o italiano Juventus-Inter ou até o gaúcho Grêmio-Internacional aqui no Brasil.
Mas um Boca-River tem algo de inexplicável. O diário inglês The Observer afirmou que um amante do futebol "não tem o direito de morrer antes de assistir, pelo menos uma vez, a um Boca-River". Mas também não precisa ser uma questão de vida ou morte: na imprensa argentina é possível ver diversas matérias com conselhos médicos de como se prevenir de um infarto provocado pelo clássico.
Nas semifinais, os dois gigantes argentinos eliminaram clubes brasileiros, com o Boca despachando o Palmeiras em São Paulo e o River levando a melhor sobre o Grêmio em Porto Alegre.
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, que já foi presidente do Boca Juniors no passado, tentou convencer os dois clubes a permitir a entrada de torcedores rivais em seus respectivos estádios para as finais da Libertadores.
O mandatário não foi ouvido
"Não quero ser responsável por uma morte", declarou o presidente do River, Rodolfo D'Onofrio. O atual presidente do Boca, Daniel Angelici, concordou com o rival, devido ao alto número de mortes relacionadas ao futebol na Argentina, mais de 300 em meio século.
A loucura também se reflete na venda de ingressos. Lugares que custavam 90 dólares nas semifinais estão sendo vendidos por 25 mil dólares para a grande decisão. Só podem entrar 53 mil pessoas na Bombonera e 67 mil no Monumental. "Precisaríamos de três Bomboneras", ilustrou Angelici.
Nos confrontos diretos entre os rivais, o Boca soma 10 vitórias a mais, além de ter vencido seis Libertadores e três Copas Intercontinentais. O River soma três Libertadores e uma Intercontinental.
Os ídolos
Os dois técnicos são ídolos de suas torcidas. O do River é Marcelo 'Muñeco' Gallardo e o do Boca é Guillermo 'Melli' Barros Schelotto. Ambos são adorados pela fidelidade aos clubes e pelas vitoriosas carreiras como jogadores e técnicos. Gallardo, porém, não poderá estar na Bombonera para o primeiro jogo devido a uma suspensão imposta pela Conmebol.
O trio de arbitragem será chileno, composto pelo árbitro Roberto Tobar e pelos assistentes Christian Schiemann e Claudio Ríos.
FICHA DA PARTIDA - BOCA JUNIORS X RIVER PLATE
Boca Juniors: Agustín Rossi; Leonardo Jara, Lisandro Magallán, Carlos Izquierdoz e Lucas Olaza; Nahitan Nández, Wilmar Barrios e Pablo Pérez; Cristian Pavon, Ramón Abila (Darío Benedetto) e Sebastián Villa. Técnico: Guillermo Barros Schelotto.
River Plate: Franco Armani; Gonzalo Montiel, Jonatan Maidana, Javier Horacio Pinola e Milton Casco; Ignacio Fernández (Bruno Zuculini) e Enzo Pérez; Exequiel Palacios e Gonzalo Martínez; Lucas Pratto e Rafael Santos Borré. Técnico: Marcelo Gallardo.