Quando a bola começou a rolar em Pernambuco nas primeiras décadas do século passado, o futebol era praticado em campos que não existem mais, como o do British Club (hoje onde se localiza o Museu do Estado), o do Parque Santana e o da Campina do Derby (hoje Praça do Derby). Mas logo mais um palco seria inaugurado e, diferentemente dessas outras praças esportivas, segue mais firme e mais forte do que nunca: o estádio dos Aflitos, que será reaberto no próximo domingo, com um grande evento. Na preliminar, um jogo em homenagem a Kuki com ex-atletas que marcaram história no clube. No jogo principal, o amistoso entre a equipe atual contra os argentinos do Newell’s Old Boys. O último jogo no local foi Náutico 0x1 Avaí, em 27 de maio de 2014, pela Série B do Brasileiro. O Timbu mandou seus jogos na Arena Pernambuco neste período.
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A casa dos alvirrubros, entretanto, nem sempre foi do Timbu. O estádio dos Aflitos foi inaugurado em março de 1917. O campo pertencia a Liga Sportiva (espécie de Federação Pernambucana da época), que havia alugado o terreno ao coronel Frederico Lundgren. Para a inauguração foi chamado o Remo, de Belém-PA, que de acordo com Givanildo Alves, no livro História do Futebol em Pernambuco, era considerado o principal time do Norte e Nordeste. Foram quatro jogos, tendo como disputa a Taça Centenário. No dia 11 de março, o Remo bateu o selecionado pernambucano por 4x2. No giro pelo Recife, os paraenses venceram de novo o combinado local, desta vez por 3x2. Bateram também o América por 2x0 e empataram por 0x0 com o Paulista.
Após um ano, a Liga desistiu do negócio e o Náutico assumiu o arrendamento. Posteriormente, o alvirrubro comprou o terreno, como mostra Carlos Celso Cordeiro no livro em homenagem aos 100 anos do Clássico dos Clássicos. O primeiro jogo dos Aflitos no Estadual tendo o Náutico como responsável pelo espaço foi no dia 18 de agosto de 1918. O América, que seria o campeão da temporada, venceu o Timbu por 3x0.
Em 1939, o Náutico promoveu uma grande reforma no estádio. O campo foi desmanchado e reconstruído. As barras, que ficavam na direção Leste-Oeste, foram colocadas no sentido Norte-Sul, como estão até hoje. Mesmo sem estar provido de arquibancada (apenas pequenos degraus), passou a ser o que mais oferecia acomodações para o público. A reinauguração ocorreu no dia 25 de junho de 1939, um duelo contra o Sport, válido pelo 1º turno do Estadual. O Náutico venceu por 5x2 e conquistou o turno.
TRAVES SERRADAS
Os anos de 1930, inclusive, guardam umas das histórias mais peculiares dos Aflitos. Estava em disputa o Campeonato Pernambucano de 1931. No dia 29 de novembro, o Náutico receberia o Torre. Caso vencesse ou empatasse, o extinto clube, conhecido como Madeira Rubra, decidiria com o Sport uma vaga na decisão do título contra o Santa Cruz. Como o Torre tinha um time melhor, a cúpula alvirrubra, para não ver o Sport se beneficiar, teve a ideia de evitar a realização do duelo ante o Torre na data marcada - a aposta era na realização do jogo somente após as outras partidas marcadas na tabela.
Foi então que Eládio de Barros Carvalho (nome oficial do estádio dos Aflitos), então diretor de futebol, teve a ideia de derrubar as traves, que ainda eram de madeira. A saga foi narrada com detalhes por Givanildo Alves no livro História do Futebol em Pernambuco. Na véspera do jogo, no sábado, Eládio chegou aos Aflitos por volta das 5 horas da tarde e pediu um serrote para um funcionário do clube. Ele trouxe e teve a missão de fazer um buraco no pé da trave. Depois, começou a serrar, bem no pezinho. Logo depois, o travessão ficou penso e o poste lateral ruiu. No dia seguinte, o Náutico soltou um ofício, comunicando o “acidente”, que teria sido provocado pela estrutura deteriorada por conta da umidade.
O jogo não foi realizado no domingo, mas a Federação marcou o jogo para o domingo seguinte, não depois da tabela, como imaginava o Náutico. No entanto, o Timbu surpreendeu o Torre, venceu por 1x0, e eliminou o Sport do campeonato. O Santa Cruz foi o campeão.
REFORMAS
Ao longo das décadas, o estádio dos Aflitos foi sempre alvo de reformas e melhorias. Nos anos de 1950, surgiu o famoso placar Balança mas na cai (já não existe mais). Nos anos de 1990, uma grande remodelação foi realizada, inclusive com a ampliação das arquibancadas dos Aflitos, em trabalho coordenado por Raphael Gazzaneo e com forte apoio da torcida. Hoje, a capacidade do estádio é de 19.800.