A Procuradoria da República, no Rio, colocou o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, no topo de uma "engenhosa e complexa relação corrupta". A força-tarefa da Operação Lava Jato fluminense realiza buscas na casa de Nuzman nesta terça-feira, na Operação Unfair Play, que mira um esquema de corrupção internacional para a compra de votos para a escolha do Rio pelos membros do Comitê Olímpico Internacional como sede da Olimpíada de 2016.
A força-tarefa aponta que "neste grande esquema ganha-ganha" o empresário Arthur Soares direcionou propina que seria destinada ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) para Papa Massata Diack, filho do presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês). Segundo o Ministério Público Federal, o objetivo era "garantir mais um voto na escolha do Rio de Janeiro como sede para os Jogos Olímpicos de 2016".
"Cabral determinou que Arthur Soares realizasse pagamento de US$ 2 milhões a representante da Associação Internacional de Atletismo, como forma de obter votos para a eleição da cidade do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016", afirma a Procuradoria.
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"Carlos Arthur Nuzman, como presidente do COB (e, posteriormente, também do CO-Rio-2016), foi o agente responsável por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI, o que foi efetivamente feito por meio de Arthur Soares."
Além de presidente do COB, Nuzman, "após a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos, passou a acumular também o cargo de presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016".
"Na aludida posição, Carlos Arthur Nuzman foi um dos responsáveis por buscar apoio para escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, inclusive o apoio dos membros africanos", narrou a força-tarefa. "Importante notar que o Comitê Olímpico Brasileiro, por meio de seu presidente, Carlos Arthur Nuzman, é figura central nas tratativas para escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016."
A Procuradoria afirma que "as negociações entabuladas por Carlos Arthur Nuzman foram essenciais para que se concretizasse o repasse de vantagem indevida de Sérgio Cabral a Papa Massata Diack, por meio de Arthur Soares".
"Sem a presença e negociação entabulada por Carlos Arthur Nuzman, a engenhosa e complexa relação corrupta poderia não alcançar o sucesso que efetivamente alcançou", anota a força-tarefa.
Operação
Arthur Soares e sua sócia Eliane Cavalcante são alvos de mandado de prisão da Unfair Play. Nuzman foi intimado a depor nesta terça-feira.
Em nota, a PF informou que setenta policiais federais cumprem dois mandados de prisão preventiva e 11 mandados de busca e apreensão, na cidade do Rio de Janeiro (Leblon, Ipanema, Lagoa, Centro, São Conrado, Barra da Tijuca e Jacaré), no município de Nova Iguaçu e em Paris.
Segundo a PF, as investigações, iniciadas há nove meses, apontam que os pagamentos teriam sido efetuados tanto diretamente com a entrega de dinheiro em espécie, como por meio da celebração de contratos de prestação de serviços fictícios e também por meio do pagamento de despesas pessoais. Além disso, teriam sido realizadas transferências bancárias no exterior para contas de doleiros.
O fatos apurados indicam a possibilidade de participação do dono das empresas terceirizadas em suposto esquema de corrupção internacional para a compra de votos para a escolha da capital fluminense pelo COI como sede da Olimpíada de 2016, o que ensejou pedido de cooperação internacional com a França e os Estados Unidos. Os presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.