Realidade

Esporte de alto rendimento e a relação com a síndrome do pânico

Boa parte dos atletas sofrem calados e só revelam o problema quando deixam o esporte

Luana Ponsoni
Cadastrado por
Luana Ponsoni
Publicado em 30/07/2017 às 8:38
Satiro Sodré/SSPRESS
Boa parte dos atletas sofrem calados e só revelam o problema quando deixam o esporte - FOTO: Satiro Sodré/SSPRESS
Leitura:

Acordar de um desmaio com o nariz sangrando, sozinha, no chão do quarto de hotel, era tudo que Joanna Maranhão não gostaria de enfrentar no Mundial de Esportes Aquáticos, que chega ao fim hoje, na Hungria. Naquele momento, ela soube que acabara de ter um novo ataque de síndrome do pânico. Resolveu enfrentar. Pela primeira vez desde o diagnóstico, ainda na adolescência, conseguiu superar o problema. Voltou à piscina. E não só chegou às semifinais dos 200m medley, como também estabeleceu o novo recorde sul-americano da prova, que já era dela, com 2m11s24.

“Eu levantei no chão, deitei na cama e comecei a deixar os pensamentos virem, e eram um turbilhão: ‘desiste, você já está sob estresse demais’. ‘Enfrenta do jeito que está, apenas nadar será uma vitória’. Fechei os olhos por 15 minutos e fiquei respirando. Não falei com ninguém, quis reverter sozinha. Meu nariz estava sangrando. Eu só estanquei e desci para o café. Quando tentei comer, vomitei. Depois, me senti melhor, era como se eu tivesse colocado para fora a ansiedade. No caminho para a piscina, senti meu coração acelerar, fechei os olhos e fiz a respiração. Quando fui para o balizamento, já estava calma e me sentindo vitoriosa por ter chegado até ali”, relatou Joanna sobre o episódio ocorrido no domingo passado.

Apesar de o assunto ainda não ser tratado abertamente nas competições, a pernambucana não está sozinha. Muitos atletas ainda sofrem calados com a síndrome do pânico. A maioria só revela o problema quando decide abandonar o esporte (ver quadro abaixo). As causas podem estar associadas a questões pessoais – como foi o caso da nadadora, vítima de abusos sexuais na infância – ou em razão da pressão desencadeada pelas competições.

“As pessoas sentem vergonha de falar sobre isso. Eu acho uma bobagem, eu vim para esse mundo para evoluir, não para ser exemplo de perfeição. Aliás, o meu parâmetro de perfeição não se desliga da humanidade e suas fraquezas em nenhum instante”, comentou Joanna.

DEFINIÇÃO

A síndrome do pânico é um transtorno de ansiedade que provoca crises inesperadas de medo e desespero. Durante os surtos, o corpo geralmente responde com formigamento, tontura, náuseas, dificuldade para respirar e desmaio. “O esporte de alto rendimento oferece, sim, abertura para um gatilho mental, levando o atleta a passar por momento de alta ansiedade (pânico). Podendo ser uma crise de pânico momentânea ou não. Devido, principalmente, à rotina de cobranças internas e externas, e ao perfeccionismo”, explicou a psicóloga esportiva Débora Maisa, que assiste os atletas da equipe de jiu-jítsu Gracie Barra-BV.

Em linhas gerais, o peso do evento esportivo e a incerteza sobre o resultado são aspectos que colaboram para que alguns atletas desenvolvam a síndrome do pânico. “A raiz da ansiedade é o medo. É uma ilusão que faz o atleta pensar que tudo vai dar errado. Em situações de pressão e ansiedade, é necessário focar na atenção seletiva. No que o atleta quer e está preparado para fazer. Porque, para chegar ao alto rendimento, ele treinou muito. Dessa forma, é possível estabilizar o emocional”, ensinou a psicóloga esportiva, coach e palestrante, Suzy Fleury.

 

Últimas notícias