Atos repetidos de violência física ou emocional de aluno para aluno são replicados em escolas de Pernambuco, do Brasil e de todo o mundo. Atenta a essa realidade, a família Gracie, criadora do jiu-jítsu brasileiro, desenvolveu um programa mundial de combate a essas práticas. O No More Bullying (Chega de Bullying) usa a filosofia da arte marcial para ajudar crianças e jovens a enfrentarem esse problema. Os trabalhos começaram nos Estados Unidos, em 2012, e já se espalharam por todos os continentes. Um dos responsáveis pelo programa da Europa é o pernambucano Victor Estima, que esteve no Estado para difundir o jiu-jítsu como alternativa de erradicação do bullying escolar.
“Enquanto muitas academias se preocupavam em vencer campeonatos mundiais, as lideranças da Gracie Barra, na figura do mestre Carlos Gracie Júnior, começaram a desenvolver métodos que usam o jiu-jítsu como defesa pessoal para as mulheres, de combate ao bullying. É o jiu-jítsu para todos. Um movimento por um mundo melhor”, comentou Victor.
De acordo com o pernambucano, um dos gerentes regionais da Gracie Barra (GB) na Europa – o outro é o seu irmão Braulio Estima – o No More Bullying é estruturado em quatro passos. O primeiro faz a criança reconhecer, nos menores indícios, a proximidade da violência. Nesse estágio, a orientação é que a vítima ignore o agressor. “É a atenção que alimenta o bullying. O agressor acha que está influenciando a vítima e vai crescendo à medida que acha estar no controle da situação”, explicou.
Depois as instruções são para que as crianças que se sentem intimidadas saibam como se impor diante da situação. “A postura corporal é muito importante. Tem criança que fala: ‘Para com isso’, mas com a cabeça baixa, de forma intimidada. Ensinamos nossos alunos a se portarem de forma mais confiante.”
Se o primeiro e segundo passos não forem efetivos, os pequenos estarão prontos a se defender de qualquer reação mais intempestiva de quem lhes importuna. O estágio seguinte é pedir a ajuda de adultos e jamais tentar administrar o momento de ameaça sozinho. “Nunca ensinamos nossas crianças a serem as agressoras. Sempre falamos: existe a água e o fogo. Nossa arte não é de fogo. A gente não vai para atacar. Vai para conter o fogo. Mas também a água é muito forte e poderosa”, destacou.
Victor ressaltou que elas sabem como se defender contra os socos, encurtar a distância (para os golpes) e colocar o agressor no chão, de forma controlada. “Tenho um aluno que chegou a apanhar com taco de baseball. Ele e o irmão estudam em uma escola barra pesada de Notting Hill (Londres). Ele começou a treinar. Um dia, diante de uma tentativa de ataque, dominou a outra criança, imobilizou-a no chão e chamou a professora”, recordou.
AGRESSORES
Dentro do programa, é possível atender também os autores do bullying. “Os agressores costumam ter problema de autoconfiança. O jiu-jítsu afasta esse tipo de conduta de quem está acostumado a agredir. A criança adquire autoconfiança. Não precisa mais daquilo”, observou Victor Estima.