HOMENAGEM

Amor de Bacalhau pelo Santa Cruz era ''um sentimento quase religioso''

Representação de Bacalhau pela torcida do Santa Cruz era tão grande que até o livrou de um assalto, segundo o fundador do Blog do Santinha

Diego Borges e Túlio Feitosa
Cadastrado por
Diego Borges e Túlio Feitosa
Publicado em 04/07/2018 às 17:50
Foto: Reprodução/Twitter
Representação de Bacalhau pela torcida do Santa Cruz era tão grande que até o livrou de um assalto, segundo o fundador do Blog do Santinha - FOTO: Foto: Reprodução/Twitter
Leitura:

Se você perguntar a qualquer torcedor do Santa Cruz pelo nome de Jairo Mariano da Silva, dificilmente receberá a resposta que deseja. No entanto, se chamar pelo apelido de 'Bacalhau', difícil vai ser achar algum tricolor que não o conheça. Maior torcedor símbolo da história recente do clube, o ilustre cidadão garanhuense faleceu aos 77 anos após ter passado mal em casa e ser socorrido ao hospital pelos familiares na manhã desta quarta-feira (4).

Segundo os parentes do torcedor coral, ele sofria de Alzheimer e não estava se alimentando bem por conta da doença, dificultando seu quadro de saúde.

“Bacalhau certamente é uma referência para a nossa geração, dos 25 aos 30 anos. Talvez seja um dos maiores referenciais que temos de torcedor. Ele nos mostrou, na prática, qual a dimensão do sentimento que o torcedor pode ter pelo seu clube”, explicou Esequias Pierre, conselheiro e colaborador da curadoria da sala de troféus do Santa Cruz Futebol Clube. Ele destacou o amor, ao clube tricolor, exercido 24h por dia pelo torcedor ilustre.

De acordo com Anízio Silva, designer gráfico e administrador do perfil Twitter do Santinha, “era um sentimento quase religioso” que Bacalhau tinha com o Santa Cruz, expressando isso até na sua aparência física. “Transcende a explicação racional. Não é científico”, completou. Anízio teve a oportunidade de visitar a casa de Bacalhau em Garanhuns, no Agreste, onde comprovou que o amor pelo time recifense é enorme ao ver que tudo na casa era pintado de vermelho, branco e preto. “Ele tinha várias bicicletas, mas ele foi até a Bahia ver o Santa Cruz em uma tricolor”, relatou.

O administrador do perfil Trompete Coral, do Twitter, tem memórias desde sua infância sobre o amor que Bacalhau tinha pelo Santa Cruz, mesmo sabendo pouco sobre a vida dele. “Bacalhau me ensinou que, ganhando ou perdendo, a gente tem que encarar com sorriso e mostrar o amor pelo que nos faz feliz”, declarou.

Suspeito de assalto

O fundador do Blog do Santinha, Inácio França, jornalista e ex-diretor de comunicação do Santa Cruz Futebol Clube, mencionou a adoção que ele teve por toda torcida tricolor. “Ele me parecia um cara muito puro, disponível e acessível. Uma alma muito boa, independente da cor ou do time”, expressou o jornalista.

Segundo Inácio, no lançamento do padrão de 2009 do Santa Cruz, Fernando Bezerra Coelho ainda era o presidente do clube e convidou Bacalhau para receber uma camisa com o nome dele e o número 10 estampado durante a cerimônia. O torcedor ficou muito orgulhoso e guardou a camisa. Depois ele iria se encontrar com um morador de Garanhuns, que ia levá-lo de volta para casa. Bacalhau pediu para Gerrá Lima, redator do Blog do Santinha, deixá-lo no terminal de ônibus do Cais de Santa Rita, no Centro do Recife.

Meia hora depois, o celular de Gerrá tocou com a notícia de que o ônibus que Bacalhau estava havia sido assaltado e que ele, de vítima, passou a ser suspeito. Ainda de acordo com Inácio, um dos ladrões viu o parceiro pegar a camisa e o dinheiro do torcedor, mas logo disse “Esse daí não. É Bacalhau do Santa Cruz” e devolveu a ele o que havia sido roubado. “Alguns passageiros ficaram revoltados, mas o delegado que atendeu eles na delegacia também era tricolor e contornou a situação”, explicou o ex-comunicador do clube tricolor.

Gerrá buscou Bacalhau e levou ele até o amigo que o deixaria em Garanhuns. “É uma história que dá ideia do tamanho do carisma que ele tinha e que representava à torcida”, completou Inácio.

Enterro

O velório de um dos torcedores mais ilustres do futebol pernambucano aconteceu na tarde desta quarta-feira e o enterro acontecerá na quinta-feira (5), às 16h, no Cemitério São Miguel, onde o próprio Bacalhau já havia escolhido o túmulo, padronizado com as cores do tricolor.

Últimas notícias