Ilha do Retiro

Apodi: ''Eu tinha lá amigos de verdade''

Lateral era um dos mais consternados do Sport. Ele atuou na Chapecoense em 2015 e conhecia a maioria das vítimas

ALEXANDRE ARDITTI
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ALEXANDRE ARDITTI
Publicado em 30/11/2016 às 18:44
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Lateral era um dos mais consternados do Sport. Ele atuou na Chapecoense em 2015 e conhecia a maioria das vítimas - FOTO: JC Imagem
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O lateral-direito Apodi era um dos mais consternados na reapresentação do Sport, nesta quarta-feira (30), um dia depois do acidente aéreo com a delegação da Chapecoense, que matou 71 pessoas na chegada a Medellín (COL), onde o time disputaria a ida da decisão da Copa Sul-Americana. É que o atleta atuou no clube catarinense em 2015 (fez 49 partidas) e conhecia a maioria das vítimas, que, segundo ele, “viviam um momento mágico”. Alguns, fez questão de tratar como “amigos de verdade”. O camisa 32 revelou que pretende ir ao velório coletivo dos ex-companheiros, cobrou maior responsabilidade dos encarregados pela logística de viagens dos clubes de futebol, e disse que não há clima para entrar em campo nos próximos dias, mas que os jogadores precisam ser profissionais.

 

Confira abaixo a íntegra da entrevista

 

Como você soube da notícia da queda do avião da Chapecoense e qual foi sua reação?

Foi triste para mim como para todo mundo. Não só para quem já viveu e conviveu com as pessoas que estavam lá, como para o mundo. Foi uma tristeza enorme. Eu recebi (a notícia) de madrugada. Meu cunhado que mora em Chapecó me ligou. Eu meio que não acreditei no que estava acontecendo. Imediatamente liguei a televisão, procurei na internet. Na verdade, até agora eu não quero acreditar. Eu tinha muitos amigos lá, de verdade. Passei uma temporada lá, com um grupo sensacional, 80% das pessoas que estavam lá eu trabalhei. Eu tinha amigos de verdade. Eu saía com eles, com as esposas, os filhos deles me adoravam e eu igualmente. Eu fico pensando nas pessoas que ficaram. Os filhos, as mães, as esposas, os pais... Um momento delicado. Falamos dos jogadores, mas tinham também o pessoal da imprensa, os roupeiros, os diretores... Então realmente é um momento triste. O que podemos falar é força, força Chape. Eu tenho certeza que com toda essa tragédia, as pessoas que ficaram vão tentar reconstruir tanto a equipe, a cidade, como também as famílias que perderam seus entes queridos, pessoas especiais. Perdi meu parceiro e irmão Gildo, Ananias... O que eu posso falar é força, força Chapecoense, força às famílias. Que eu estou junto com essas famílias e sinto igual a eles porque são todos os meus irmãos.

Você tinha falado com algum atleta da Chapecoense recentemente?

Sim, sempre. Eu tinha falado com os meus amigos depois do jogo da classificação (contra o San Lorenzo) e um pouco antes do jogo com o Palmeiras (no domingo passado). Eu participava de um grupo de lá (no Whatsapp), que a gente brincava sobre coisas de videogame. Como todos, eu não quero acreditar que isso aconteceu.

Os atletas da Chapecoense viviam um sonho com a possibilidade de disputar a decisão da Sul-Americana?

Sim, viviam um enorme sonho. Todos eles. Era um momento de muitas alegrias. Os jogadores coletivamente estavam muito felizes e individualmente estavam bem. Muitos já tinham várias possibilidades (de transferências). Momento especial com a possibilidade de conseguirem o maior título da história da Chapecoense, um título internacional. Eles viviam um momento mágico.

Você tem a intenção de ir ao velório?

Tenho sim, é um dos meus pensamentos. Já estou mantendo contato com amigos que estão lá. Estou esperando o desenvolver das coisas para aí tomar a decisão.

Uma tragédia como essa deixa os jogadores ainda mais preocupados com a logística das viagens dos clubes? 

Na verdade, 90% da gente (dos jogadores) não gosta de andar de avião. Eu sou um deles. A gente faz não porque somos obrigados, mas porque esse é o nosso trabalho. Como o de vocês (jornalistas) que nos acompanham. Muitas pessoas não têm o conhecimento, mas vocês vivem para lá e para cá. As pessoas que são envolvidas nesse quesito sobre arrumar as viagens precisam estar mais capacitadas, mais preparadas. Acima de tudo estão carregando pessoas. Pelo que a gente vê, foram erros que não deveriam acontecer.

Tem clima para ser disputada a última rodada do Brasileirão? 

Clima não existe, mas é o trablho. É o que tem que ser feito. Vivemos uma situação como todas as outras. Temos que fazer o nosso trabalho. É o calendário e isso não vai mudar. Temos que tirar o peso da parte humana, do sentimento, e fazer o que tem que ser feito. Vai ser difícil para todos que estão envolvidos no futebol. Não só para mim ou para outros atletas que atuaram na Chape. Porque eu acredito que se fosse possível, ninguém ia querer entrar em campo. Mas temos a tabela e temos que cumprir. E o Sport precisa entrar e vencer para se manter na Série A. Vamos ter o tempo necessário para desligar a chave e entrar em campo.

 

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