ENTREVISTA

''Não se pode dar a chave do clube ao treinador", diz Homero Lacerda

Presidente do Conselho Deliberativo do Sport avalia alguns pontos do clube rubro-negro

JC Online
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Publicado em 24/12/2017 às 8:03
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Presidente do Conselho Deliberativo do Sport avalia alguns pontos do clube rubro-negro - FOTO: Foto: JC Imagem
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Em entrevista ao repórter Leonardo Boris, da Rádio Jornal, o presidente do Conselho Deliberativo do Sport, Homero Lacerda, afirmou que estava na expectativa de ser convidado para assumir a vice-presidência de futebol, após a saída de Gustavo Dubeux, e criticou o fato de o Sport ter dado, segundo ele, a chave do clube para Vanderlei Luxemburgo.

Além disso, reprovou o orçamento deficitário apresentado pelo executivo, sugeriu uma reserva financeira e disse que os cortes para a próxima temporada serão inevitáveis. Para Homero, o Sport não deveria vender Rithely nem Diego Souza.

VICE DE FUTEBOL

Nunca pedi cargo no Sport. Sempre que ocupei algum foi porque fui convocado. Estou sempre à disposição do meu clube. Acredito que tenho experiência e poderia dar alguma contribuição. Mas cabe ao presidente decidir quem ele convida. Não digo que fiquei triste por não ter sido chamado, mas fiquei acreditando que a coisa podia andar. Não tinha só o meu nome. Mas ele achou que deveria acumular o cargo (com a saída de Gustavo Dubeux). A gente não tem nada o que fazer a não ser respeitar. O regime é esse: presidencialista. Agora é fazer a reflexão para que em 2018 possamos acertar.

CHAVE DO CLUBE

Já estou rouco de falar isso aqui: não se pode dar a chave do clube ao treinador. Isso não pode nem ser pensado. É preciso estabelecer regras. Se você é presidente do clube tem de chegar e dizer: vamos trabalhar assim e não adianta querer mudar. Todos os treinadores que contratei foi assim, inclusive Emerson Leão. Cheguei pra ele e disse que ia respeitar as suas decisões de campo, que ele teria autonomia para escalar, mas as regras e a disciplina de alimentação dos atletas seriam estabelecidas pelo clube e pelos profissionais do clube.

Determinei que todos os jogadores fizessem as três refeições no Sport, com acompanhamento da nutricionista. Jogador de futebol tem de ser atleta olímpico, preparado cientificamente para render cada vez mais. Não adianta contratar um técnico como Luxemburgo, pagar uma fortuna, dar carta branca a ele, pra fazer bobagem e chamar jogador pra tomar cervejada depois de um jogo. Normalmente já se perde três a quatro quilos e repõe tomando cerveja? É um crime o que ele fazia. Um desrespeito a camisa do Sport. Por isso eu repito: não se entrega a chave do clube a nenhum treinador.

VANDERLEI LUXEMBURGO

Ele é um dos melhores técnicos do Brasil, mas eu saía do sério quando ele ia na imprensa e dizia que ia com os jogadores tomar cerveja. Atleta de futebol não pode nem tomar refrigerante, quanto mais cerveja. Ou incentivar o grupo a ficar jogando baralho madrugada afora. Que mentalidade é essa? Quem tem de estabelecer as regras é a diretoria e o técnico tem de se submeter a elas. Por isso, em muitos jogos, o primeiro tempo do Sport era um e o segundo era outro completamente diferente. Como pode o treinador dar esse tipo de mau-exemplo ao elenco. Tem se ser o oposto. É preciso ser referência.

ORÇAMENTO DE 2018

O executivo mandou a proposta de orçamento para a temporada 2018 com as despesas maiores que as receitas em R$ 15 milhões. Isso é inadmissível, principalmente o Sport que tem uma receita anual em torno de R$ 120 milhões. Esse ano foi deficitário porque não fomos bem no futebol, as rendas caíram, alguns jogos com ingressos de graça. Esses fatores causaram um prejuízo enorme em 2017 e, ainda assim, prever um déficit no próximo ano de R$ 15 milhões, um absurdo. O Conselho Deliberativo decidiu por unanimidade que as despesas têm de ser menores. Se acontecer de a receita cair ainda mais em 2018, esse prejuízo fica inadministrável. Por isso, o conselho achou por bem adotar essa medida extremamente saudável para o clube. O executivo não pode fugir da determinação do CD.

CORTES NA FOLHA

Temos de fazer uma previsão de despesas de acordo com a nossa realidade, com os pés no chão. É preciso cortar alguns investimentos. Não adianta só ter dinheiro para contratar. É preciso ter competência também, gestão de administração dentro do futebol. Saber pegar um jogador jovem das Série B ou C, que estejam aparecendo e prepará-lo fisicamente, tecnicamente e psicologicamente. Um jogador nota seis pode render oito com preparo. Como um atleta nota nove e acontecer o que aconteceu, ao chamá-lo para uma cervejada, o rendimento cai. Gestão do futebol é tão ou mais importante que a qualidade em si. Veja a Chapecoense, com R$ 400 mil de folha, enquanto o Sport com R$ 3,7 milhões. Eles se saíram melhor que o Sport, porque houve gestão. O Sport tem as ferramentas para fazer um grande trabalho: clube de tradição, torcida de massa, estrutura física, CT incrível, mas é preciso gestão de liderança no futebol.

RESERVA FINANCEIRA

Defendo a tese de que o clube tem de ter uma reserva financeira para atender as grandes oportunidades que surgem no mercado. Mas o que acontece é o contrário. Endividamento, antecipação de receitas, e nada guardado. Admito a antecipação para uma oportunidade que surge. Por exemplo, Keno, foi oferecido por R$ 3 milhões e não tínhamos. Perdemos um jogador que hoje vale R$ 30 milhões porque não tinha dinheiro de reserva e esgotou a capacidade de antecipação. É preciso gerir o clube de futebol como se gere uma empresa, com os pés no chão. O Sport tem feito antecipações recorrentes, mas tem uma cláusula de barreira de 20%. O ideal era que não se antecipasse nenhuma receita, para sempre ter dinheiro disponível no caixa.

RITHELY E DIEGO SOUZA

O Sport é uma indústria. No momento de aperto você vai vender a máquina? Não pode vender jogador bom assim. Rithely é um craque, mas não foi tão bem no final do ano porque o time inteiro não rendeu. Sou contra vendê-lo, pois ele tem futuro, é um guerreiro, arma e defende com facilidade. Ninguém vai pagar o valor que o Sport merece por Rithely, mas respeito os companheiros que estão à frente se entenderem que têm de fazer a transação.

Já Diego Souza é outro craque de bola e não rendeu o que poderia porque não estava preparado fisicamente para isso. Jogador de seleção, artilheiro, convocado diversas vezes, o Sport deve muito a ele. Se houver uma oferta, se admite. Eu preferiria colocá-lo na ponta dos cascos para jogar bola e decidir pra gente. Ele é extremamente útil. Mas, se eu estivesse na diretoria, na época, iria estudar com cuidado a proposta do Palmeiras por Diego Souza. Talvez aceitasse e pediria para ceder Keno e outro jogador, mais dinheiro. Aí passaria a ser um grande negócio. Nos últimos meses, eu senti certa desmotivação nele depois que não foi para o Palmeiras. Isso foi falta de orientação. De trancar ele numa sala e ter uma conversa séria com ele.

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