Entrevista

'Flamengo tem direito de chorar', diz Emerson Leão sobre título de 87

Peça importante na conquista do Brasileiro de 1987 pelo Sport, Leão falou sobre o título e a repercussão nessas três últimas décadas

Filipe Farias
Cadastrado por
Filipe Farias
Publicado em 06/02/2018 às 8:27
Foto: arquivo/ JC Imagem
Peça importante na conquista do Brasileiro de 1987 pelo Sport, Leão falou sobre o título e a repercussão nessas três últimas décadas - FOTO: Foto: arquivo/ JC Imagem
Leitura:

Emerson Leão tinha 37 anos quando foi contratado para ser goleiro do Sport em 1987. Acumulou o posto com o cargo de treinador na decisão do Estadual, quando o Leão perdeu para o Santa Cruz. Para o Brasileiro, Leão seguiu no comando do rubro-negro, que fez uma campanha muito positiva no Módulo Amarelo. Com a recusa de Flamengo e Internacional de disputarem o quadrangular previsto no regulamento, a competição atrasou e Leão não disputou as finais do Brasileiro contra o Guarani - Jair Picerni foi o seu substituto. Peça importante na conquista do Sport, que completa 30 anos nesta quarta-feira, Leão falou sobre o título e sua repercussão nessas três décadas.

Confira a entrevista completa com Leão:

GOLEIRO/TÉCNICO

Não me tornei técnico porque achava que era possível, mas aconteceu. Nunca passou pela minha cabeça e nunca pleiteei nada. Não tinha nada no meu script acabar de jogar e assumir a liderança da equipe. Mas, quando o campeonato amarelo (Módulo) começou, para a nossa surpresa, nos colocaram para fazer três jogos seguidos fora de casa. Todo mundo no Sport pensou que queriam nos ver desclassificados. Sendo que jogamos fora e não perdemos e voltamos ao Recife quase classificados. Começamos a acreditar que era possível disputar o Módulo Amarelo. A nossa preocupação era essa. O outro bloco (Verde) não interessava pra gente. Só se fôssemos campeões, porque o regulamento determinava o cruzamento, o que todos já sabem.

PREPARAÇÃO

O que eu me preocupei foi de encontrar uma maneira de jogar coletivamente. Segundo era mostrar que a Ilha do Retiro seria um terror para os adversários, pois íamos fazer de tudo para vencer em casa. Terceiro era mostrar aos jogadores que se eu, que era campeão do mundo, aceitei jogar no Sport, é porque em alguma coisa eu acreditava. O complexo de inferioridade não poderia existir dentro do nosso grupo. E começamos a fazer uma mescla de jogadores do clube com outros de fora e foi uma beleza. Quando os adversários perceberam que o Sport era o time a ser batido, a nossa situação já estava definida. Quando chegaram os confrontos diretos nós já acreditávamos que éramos superior aos adversários, pois a Ilha fazia a diferença.

VIRTUDES

Naquele time todos eram importantes. Não era só um jogador, mas, sim, todos. Esse todo se tornou um só. Sabíamos que tecnicamente alguns times eram melhor que a gente, pois o poder aquisitivo adversário era muito maior. Mas vontade e dedicação não poderiam nos superar. O Sport tinha uma equipe que passava confiança de dentro para fora para o torcedor. Uma confiança que nunca teve antes. E, a partir daí, todo mundo acreditou em nós.

QUADRANGULAR

Gostaria que tivesse sido possível, mas eles (Flamengo e Internacional) foram espertos, mas errados. O que está escrito tem de ser cumprido. Nós cumprimos. Se poderia ser diferente se eles tivessem jogado? Sim, nós vencendo-os. Eles eram tecnicamente superiores a nós, mas tem hora que a técnica vai ficar de lado. Contra a individualidade, a força e o coletivo precisam estar presentes. O Sport não tinha o estádio que tem hoje. Era um gramado que apresentava dificuldade. Lá éramos gigantes e não facilitávamos pra ninguém.

VISIBILIDADE

Trinta anos se passaram e estamos falando do mesmo título. Pra mim, o Sport se classifica antes e depois do título do Brasileiro de 1987. Depois daquilo, o clube nunca mais mudou. Teve uma queda ou outra pra Segunda Divisão, mas sempre voltou se rearrumando, com uma condição financeira melhor.

FLAMENGO

Essa questão de justiça é só um reconhecimento do erro deles (Flamengo e Internacional). Eles se achavam superiores ao regulamento, mas acabou provado A mais B que não eram. Foi cumprido o regulamento, o que eles não esperavam. Na época, falaram pra mim que não teria jogo com Flamengo e Inter. Que poderia ir embora pra minha cidade (Recife). E fui. Realmente não teve jogo. Mas o título ficou conosco. O Flamengo tem direito de reclamar e chorar. Quem não sabe ler da nisso. Basta ler o regulamento pra saber que foi o campeão.

REPERCUSSÃO

Por onde passei me perguntavam o porquê fui pra lá (Sport). Depois o que foi que aconteceu pra conseguir o título. Sempre volto ao Sport numa fria, nunca no status. Só quando não tem dinheiro, com problemas, mas sempre solucionamos tudo. Conseguimos estar juntos, numa unidade... Isso que a torcida pensa. Foi no Sport que fui convocado pra comandar a seleção brasileira. Antes, todo mundo falava: vixe, você vai jogar lá no Sport. Agora é diferente, todo mundo respeita o Sport.

RESPEITO

É o que eu digo: existe um Sport antes e depois daquele título. Até hoje existe um reconhecimento e respeito muito grande. Graças a Deus acabou com o complexo de inferioridade que existia de um time do Nordeste em relação as equipe do Sul e Sudeste. Acabou.

Últimas notícias