MEMÓRIA

Dez anos da conquista da Copa do Brasil pelo Sport

No dia onze de junho de 2008 o Sport levantou a taça do torneio depois de derrotar o Corinthians

Leonardo Vasconcelos
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Leonardo Vasconcelos
Publicado em 10/06/2018 às 7:22
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No dia onze de junho de 2008 o Sport levantou a taça do torneio depois de derrotar o Corinthians - FOTO: JC Imagem
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O dia que saiu do calendário direto para a história. Mais que uma data, um grito. Ou melhor, um rugido que ecoou por todo um país e o fez se curvar. Onze de junho de dois mil e oito. Um dia que de tão memorável nem parece que amanhã completa dez anos. Uma década da conquista da Copa do Brasil. Parece que foi ontem. Basta fechar os olhos para sentir o tremor de uma Ilha do Retiro lotada empurrando o Sport para cima do Corinthians. Dois gols. Carlinhos Bala e Luciano Henrique. Dois a zero. Apito final. Invasão de sentimentos. Êxtase em preto e vermelho. O capitão Durval ergue mais do que uma taça e sim o orgulho de pela primeira vez - e até agora única - um time do Nordeste ter conquistado o título da Copa do Brasil. Outras décadas passarão. A data permanecerá. Rubro-negra e eterna.

10 FATOS MARCANTES DO TÍTULO RUBRO-NEGRO

1) Estreia morna, 27/2/2008
A largada não foi tão digna de lembrança assim. No primeiro jogo da Copa do Brasil, o Sport não passou de um empate de 2x2 diante do desconhecido Imperatriz, no Maranhão. O Leão chegou a abrir o placar com Durval, mas cedeu o empate. Na segunda etapa, Carlinhos colocou o time pernambucano na frente de novo, porém aos 41 houve um novo empate. Os rubro-negros não fizeram uma grande atuação e deixaram a torcida desconfiada.
“Realmente não fizemos uma boa partida. Acho que vários fatores pesaram para isso. O adversário era totalmente desconhecido, o campo era bem ruim e acho que ainda teve o peso da tensão da estreia na competição. A torcida empurrou bastante o time que estava bem empolgado por enfrentar uma equipe da Primeira Divisão e mostrou um ritmo de jogo maior. Ele nos surpreenderam lá, mas na Ilha demos o troco (Sport venceu por 4x1)”, disse Daniel Paulista.

2) Dutra encerra massacre, 30/4/2008
No primeiro jogo das oitavas de final, Sport e Palmeiras não saíram do 0x0 no Palestra Itália e a decisão mais uma vez foi realizada na Ilha do Retiro. O Leão não tomou conhecimento do Verdão com a ajuda preciosa do inspirado Romerito, que fez os três primeiros gols da histórica vitória por 4x1. No entanto, quem fechou a goleada e sacramentou o triunfo rubro-negro foi o lateral Dutra, que anotou um gol marcante ao disparar uma bomba num chute cruzado que estufou as redes do goleiro Marcos.
“A cada jogo aquele grupo se convenceu de que poderia ir mais longe. E foi assim contra o Palmeiras também. Nós acreditamos que tínhamos condições de seguir adiante. No lance do gol, a bola foi tocada pra mim e eu consegui acertar aquele belo chute de fora da área, foi um golaço realmente. Claro que todo time acredita no fator casa, mas nem todos de fato conseguem ter essa força. Mas naquele ano acabou acontecendo de sempre decidirmos em casa e conseguirmos vencer”, relatou Dutra.

3) O míssil de Durval, 14/5/2008
Depois de perder para o Internacional por 1x0 no Beira Rio, o Sport precisava dar o troco no Colorado na Ilha para superar o rival nas quartas de final. Os gaúchos, comandados por Abel Braga, tinham um timaço, com Nilmar e Fernandão no ataque. O Leão abriu o placar com Leandro Machado. O Inter empatou com Sidnei. Roger (hoje no Corinthians) colocou Sport na frente outra vez. Logo em seguida, o árbitro Heber Roberto Lopez expulsou Luciano Henrique. O rubro-negro precisava de mais um gol. E ele veio em um míssil de Durval, em cobrança de falta, sem chance para Clemer: Sport 3x1 e vaga nas semifinais garantida.
“Foi um negócio de momento, não foi nada planejado. Não teve instrução do treinador, partiu de mim mesmo. Bateu a vontade de bater aquela falta. E ainda bem que eu tive aquela vontade porque senão eu não iria fazer aquele gol e quem sabe nós não teríamos nos classificado para a próxima fase. Quando eu sento que saiu um chute bem forte e vi a bola lá na rede sinceramente eu não acreditei. Até na comemoração eu não sabia o que fazer, saí correndo, sem saber como comemorar. Essa falta vai ficar pra sempre marcada na minha carreira, por isso que nunca mais bati falta, deixei lá eternizada como a última”, afirmou Durval.

4) De pegador a cobrador, 28/5/2008
Magrão já entrou para a história do Sport como pegador de pênaltis, mas também teve que mostrar habilidades cobrando penalidade. O caso aconteceu no segundo jogo das semifinais, em São Januário. No Recife os pernambucanos ganharam por 2x0 e no Rio de Janeiro os cariocas devolveram o placar e a vaga foi decidida nos pênaltis. Entre os cobradores lá estava Magrão, que bateu com calma e precisão e ajudou a garantir a vitória por 5x4.
“Desde o inicío da competição o professor Nelsinho (Baptista) sempre treinava cobranças de pênalti e eu sempre era um dos melhores batedores. Mas na semana do jogo contra o Vasco eu não treinei a cobrança e só fiquei no gol. Antes do jogo, no vestiário, ele me perguntou se o jogo fosse para os pênaltis se eu bateria e eu disse que sim. Como nós tínhamos vencido em casa por 2x0 eu sinceramente não achava que ia ser necessário. Mas acabou acontecendo e eu bati da forma que eu sempre treinei. Consegui converter a cobrança e todos os jogadores também. Antes bateu um nervosismo e uma ansiedade, mas deu tudo certo. Eu estava muito concentrado, já sabia onde ia bater e deu um alívio muito grande depois de ter acertado o gol”, relembrou Magrão.

5) O maestro vetado
Um dos mais importantes jogadores da equipe impedido de defendê-la no momento mais importante dela. O maestro, líder e ídolo Romerito ficou sabendo dias antes da decisão de que não poderia entrar em campo diante do Corinthians. O contrato de empréstimo do Goiás junto ao Sport havia acabado e o Esmeraldino vetou a participação do meia nos dois jogos. Um grande abalo para a equipe e para o próprio jogador, que até hoje não esqueceu o ocorrido.
“O sentimento foi de frustração. Uma das maiores da minha vida. Foi algo muito, muito ruim. Participei de 90% de toda a campanha e justamente na final ficar de fora não foi nada fácil. Eu tinha um acordo verbal para continuar no Sport, mas não cumpriram com a palavra e o Goiás exigiu a minha volta. Acompanhar os jogos torcendo e não jogando foi bem triste. Mas procurei esquecer e hoje dez anos depois digo que não tenho mais aquela mágoa. Me sinto um campeão também por tudo o que eu fiz”, declarou Romerito.

6) O gol que mudou a história, 4/6/2008
Quarenta e seis minutos do segundo tempo. Antes deste momento, o Corinthians estava impondo uma vitória convincente por 3x0 em cima do Sport, no Morumbi, com gols de Dentinho, Herrera e Acosta. Mas aí, quando ninguém mais esperava uma reação, o Leão mostrou que não desiste nunca e num dos últimos lances da partida devolveu a esperança aos pernambucanos com o gol de Enilton.
“No vestiário, durante o intervalo, nós sabiamos que precisávamos fazer algo para diminuir aquela desvantagem. Quando o Corinthians marcou o terceiro gol tínhamos consciência de que reverter o placar na Ilha não seria impossível, mas bem difícil. Então cada um procurou se doar ao máximo para marcar o gol. Não desistimos em nenhum momento. Até que naquele lance no final do jogo a bola veio pra mim e eu toquei de calcanhar pro Carlinhos Bala. Daí ele avançou e a bola acabou sobrando pra mim e no instinto completei pro gol. Foi um gol importante, pois renovou o ânimo e a confiança para o jogo decisivo no Recife”, disse Enilton.

7) Bala, o profeta!
Polêmico, marqueteiro, folclórico, frasista e...profeta! O auto-intitulado “Rei de Pernambuco” Carlinhos Bala chamou a atenção não só dentro de campo, mas também fora por suas declarações impactantes. A mais famosa, sem dúvida, foi a de que dias antes Deus teria falado com ele e dito que a taça da Copa do Brasil ficaria com o Leão. Após o primeiro jogo da final, ele ganhou ainda mais notoriedade ao afirmar que o tento marcado por Enílton foi o “gol do título”.
“Até hoje quando passo na rua falam: ‘Olha o profeta’ ou ‘lá vem o homem que falou com Deus’. O pessoal tira onda e faz muita resenha por conta disso, mas não ligo. Nem todo mundo acredita em Deus. Eu acredito e sei que ele falou comigo. Ele me mandou um sinal dizendo que o Sport ia ser campeão. No final todo mundo viu o que aconteceu. Eu sou um cara abençoado por ter passado tudo o que passei e ter virado um jogador. Naquela final fui iluminado e consegui fazer o gol. Foi um dos momentos mais especiais e marcantes da minha carreira. Ficou marcado na história”, disse Carlinhos Bala.

- 8) A polêmica chamada Luizinho
Luizinho Neto era o dono da lateral direita do Sport e o homem da bola parada rubro-negra. Predicados que dariam uma vaga no time a qualquer um. Ainda mais em um jogo tenso e delicado como uma final de Copa do Brasil. Todavia, para a surpresa de todos, em vez de Luizinho quem foi escalado para a final foi Diogo, para espanto dele também. Muitas “histórias” surgiram sobre o caso, mas o vice-presidente de futebol do Sport na época, Guilherme Beltrão (que ocupa o cargo novamente) disse que Luizinho teve uma crise estomocal.
“Não lembro o motivo da mudança só lembro que o Nelsinho Baptista bateu na porta do meu quarto e perguntou se eu estava preparado. Daí eu disse que sim e ele disse para eu me preparar que eu iria jogar. Isso umas duas horas antes da partida. Até então eu iria para o banco de reservas. Então quando eu desci para o vestiário já desci sabendo que eu iria jogar. Pra mim aquele jogo foi tudo, tudo que eu conquistei até hoje eu devo a aquele momento. Foi o passo mais importante da minha carreira. O maior título que eu já conquistei, 2008 teve um gosto especial, até porque só soube que ia jogar em cima da hora”, afirmou Diogo, que ainda está em atividade, no Confiança.

9) O gol do título, 11/6/2008
Diogo cobra o escanteio, a bola viaja até a área. Ela é desviada e se oferece para Luciano Henrique que bate de primeira e meio desajeitado, mas sem jeito para o goleiro Felipe que, encoberto por Enilton, aceitou e viu o Sport fazer o segundo gol aos 37 minutos do primeiro tempo na Ilha do Retiro, no segundo e decisivo jogo da final. Era o gol do título. Ainda houve uma segunda etapa inteira de tensão e nervosismo, mas o Leão foi guerreiro e fez com que a taça ficasse na Ilha.
“Não tinha como a gente não fazer um bom jogo na Ilha do Retiro. A gente entrou com tudo já pensando em fazer gol no primeiro tempo e foi em uma bola que eu consegui dar uma assistência pro Carlinhos Bala e quando ele fez o gol incendiou a Ilha. Daí a gente já tinha certeza de que iríamos levar esse título. O professor Nelsinho sempre me deixava ali na sobra do rebote dos escanteios. Aí quando o Diogo cobrou o escanteio, Wilians tirou e na hora que a bola veio pra mim eu não pensei duas vezes e bati de primeira. Ainda peguei de esquerda que não era a perna boa tive a felicidade de pegar bem na bola, nem tão forte ou do jeito que queria, mas aí o Enílton ficou na frente e atrapalhou bastante o goleiro e foi onde saiu o nosso segundo gol. Foi uma felicidade muito grande, um título que eu considero o mais importante da minha carreira”, disse Luciano Henrique.

10) A “Bombonilha”
Nunca a Ilha do Retiro fez tão jus ao título de caldeirão como em 2008. Com o apoio da torcida que compareceu em peso ao estádio, o Sport foi soberano em seu reduto. Terminou a campanha vitoriosa invicto em casa com seis convincentes vitórias (4x1 contra o Imperatriz, 4x1 diante do Brasiliense, 4x1 novamente frente ao Palmeiras, 3x1 no Internacional, 2x0 no Vasco da Gama e outro 2x0 em cima do Corinthians na grande final).
“É muito difícil você ver um casamento que deu tão certo entre um time e uma torcida como foi em 2008 no Sport. Todo mundo sabe que ela é bastante exigente e quando eu cheguei no clube eu disse que queria fazer história ali. E foi o que aconteceu. Naquele ano tudo deu certo e sem dúvida 2008 foi um dos anos mais especiais da minha vida. A torcida realmente acreditou no projeto do time e carregou os jogadores. Lembro que na final eu convidei vários amigos meus para irem para a Ilha do Retiro porque eu sabia que com ela lotada dificilmente iriamos deixar o título escapar”, afirmou o ex-volante Sandro Goiano.

 

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