Uma nova fase da operação que investiga um esquema de corrupção e sonegação fiscal na Receita Estadual do Paraná deve cumprir 59 mandados de prisão nesta quarta-feira (10), sendo 50 deles contra auditores fiscais.
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Entre os atingidos, está o primo do governador Beto Richa (PSDB), o empresário Luiz Abi Antoun, e o ex-chefe de fiscalização do fisco, o auditor Márcio de Albuquerque Lima -que era companheiro de corrida de Richa.
Lima já está preso preventivamente. Abi, que Richa diz ser um "primo distante" da família, não havia sido encontrado até o início desta tarde. Segundo sua mulher informou aos policiais, ele viajou no dia anterior, mas ela não disse para onde. A polícia ainda não o considera foragido e está atrás de informações sobre seu paradeiro.
Abi, que já foi preso no início do ano, acusado de fraude à licitação, teve a nova prisão decretada devido à influência que tinha na indicação de diretores da Receita Estadual -que conduziam um esquema de corrupção, segundo as investigações. Albuquerque, por exemplo, teria sido indicado ao posto por ele.
"Nosso entendimento é que ele fazia parte da organização criminosa", diz o promotor Jorge Barreto. Ainda não há provas, contudo, de que o primo de Richa tenha recebido propina do esquema.
Segundo o promotor, são investigados os crimes de corrupção e sonegação fiscal, concentrados na delegacia regional de Londrina (no norte do Paraná). "É a mesma organização criminosa, mas identificamos novos crimes e novos integrantes", afirmou ele.
Entre os presos desta quarta, estão "figuras importantes e de proa" na Receita Estadual, de acordo com Barreto. O ex-coordenador-geral do órgão, José Aparecido Valêncio da Silva, que pediu exoneração no final de maio, é um deles. Em nota divulgada à época, ele negou "com veemência e indignação" qualquer participação em atos ilícitos.
Quinze auditores fiscais baseados em Londrina já foram denunciados, em abril, sob acusação de anular dívidas milionárias de empresas em troca do pagamento de propina. Há indícios de que o esquema exista em outras regionais.
Agora, novos fatos foram descobertos pela polícia e pelo Ministério Público, a partir do depoimento de outras vítimas do esquema e também de auditores que resolveram colaborar com a Justiça, fazendo acordos de delação premiada.
Os auditores, segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime, vinculado ao Ministério Público), escolhiam uma empresa para ser "trabalhada". Avisavam sobre dívidas tributárias e ameaçavam com multas altíssimas. Ofereciam, então, uma saída: propina. "Os que não aceitavam [pagar] recebiam retaliações. Quem aceitava não era autuado ou recebia uma multa bem menor", afirma Barreto.
Até as 14h, 47 mandados de prisão já haviam sido cumpridos. Um ônibus foi utilizado para levar os presos até a Penitenciária Estadual de Londrina.
As prisões estão sendo realizadas nas cidades de Londrina, Cambé, Apucarana, Arapongas, Ibiporã, Cornélio Procópio, Rolândia, Assaí e Curitiba.
A mulher de um auditor fiscal preso em Londrina chegou a fugir quando os policiais chegaram e bateu o carro após perseguição. Ela, que não ficou ferida, afirmou depois que achou que sua residência estivesse sendo assaltada e por isso saiu com o carro.