Merenda

Cuidar da alimentação infantil pode ajudar a prevenir o câncer

Escolas investem na qualidade dos lanches, mas alertam que o ponto de partida acontece em casa

Mariana Mesquita
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Mariana Mesquita
Publicado em 01/11/2015 às 0:25
Foto: André Nery/JC Imagem
Escolas investem na qualidade dos lanches, mas alertam que o ponto de partida acontece em casa - FOTO: Foto: André Nery/JC Imagem
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Na última segunda-feira (26), a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório que afirma que os “embutidos” (carnes processadas como linguiça, salsicha, presunto e bacon) são cancerígenos e agora integram a chamada “lista 1”, que inclui substâncias como o tabaco, a fumaça de diesel e o amianto. Segundo a pesquisa realizada pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC), órgão ligado à OMS, a ingestão diária de 50 gramas de carne processada aumenta em 18% o risco de câncer colorretal. Diante destes números, redobra a preocupação com a alimentação das crianças e com os lanches servidos em nossas escolas. Até que ponto o cachorro-quente com refrigerante servido nas cantinas pode causar danos?

Para Edla Karina Cabral, nutricionista oncológica que trabalha no Hospital do Câncer de Pernambuco e no Hospital Esperança (Rede D’Or), “criança não pode substituir alimentos saudáveis, que nutrem as células, por outros que promovem o câncer”. Por estarem em fase de desenvolvimento, elas precisam de nutrientes específicos e as “porcarias”, além de não fornecerem isso, podem conter substâncias nocivas. “Nossa orientação é evitar alimentos industrializados e reforçar o consumo de frutas, verduras, alimentos frescos com fitoquímicos e nutrientes, cereais integrais. Isso ajuda a prevenir não só o câncer, mas outras doenças como a hipertensão e a diabetes”, reforça Edla, que no passado já atuou como nutricionista escolar e reconhece que, gradativamente, tem surgido uma preocupação neste sentido na maioria dos estabelecimentos.

Diretor do Colégio Boa Viagem e presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de Pernambuco (Sinepe-PE), José Ricardo Diniz confirma que o investimento em educação nutricional tem se generalizado nas unidades escolares. “A maioria já utiliza o momento do lanche com essa finalidade, começando pela base”, destaca. Isso acontece de forma sistêmica durante o período da educação infantil, mas encontra barreiras entre os adolescentes. “Com estes, o desafio é mostrar a verdadeira essência da alimentação saudável, da necessidade de comer bem todos os dias. Mas eles gostam, por exemplo, de saber o que comer para prevenir espinhas”, ilustra Edla.

“A má alimentação é um problema de saúde pública, ligado à obesidade infantil e outras questões. Não duvido que o poder público venha a estabelecer uma legislação restringindo a oferta de alguns alimentos no âmbito escolar”, reconhece Diniz. Atualmente, isso é uma iniciativa de cada escola, e a venda de frituras, embutidos, refrigerantes e outros alimentos ultraprocessados ainda é frequente nas cantinas. Mas, segundo ele, mesmo estas “estão se reposicionando”. “É preciso que todos colaborem e que as famílias tenham a consciência de que o ponto de partida tem que acontecer em casa”, alerta.

INSTITUTO CAPIBARIBE TEM EXPERIÊNCIA DE MERENDA COLETIVA SAUDÁVEL

Entre as várias escolas recifenses que instituíram o chamado “lanche coletivo”, o Instituto Capibaribe é uma das mais antigas e mais radicais neste sentido. Lá, a merenda comum é obrigatória durante toda a vida escolar, até o fim do ensino fundamental. “O lanche é adaptado se houver alguma necessidade específica, como alergia e questões religiosas ou filosóficas. Fora isso, não abrimos concessões e não é permitido trazer comida de casa”, conta a nutricionista Cristiana Menezes, que também é ex-aluna do Capibaribe. Desta forma, o lanche se torna um instrumento pedagógico e de cuidado nutricional e, pelo fato de ser partilhado com todos, ajuda as crianças a aceitarem novos alimentos.

“Neste momento, estamos investindo no acréscimo gradual de fibras e farinhas integrais nos pães e bolos”, conta Cristiana, ressaltando que este consumo também ajuda na prevenção do câncer e de outras doenças. “Para além de qualquer ‘neurose’ coletiva, o importante é estabelecer uma rotina saudável”, acrescenta. 

Cristiana frisa que na escola, desde a década de 1950 e por exigência da fundadora, a falecida pedagoga Raquel Crasto, os embutidos sempre foram abolidos dos lanches dos pequenos. “Ela era tão antenada, tão futurista, que até nisso acertou”, ri a nutricionista, ressaltando que os malefícios dos “sais de cura” (nitritos e nitratos de sódio e potássio, usados como conservantes na produção de salsichas e similares) vêm sendo divulgados desde 1977. “Há muito se sabe que esse tipo de comida faz mal, e é preciso passar essa informação adiante. Alguns alunos, principalmente adolescentes, reclamam de certos alimentos servidos por nós. Mas todos sabem que é importante comer bem”, destaca.

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