Mãe e filha mortas por balas perdidas na Mangueira, um homem atingido fatalmente por estilhaços de uma granada em confronto no Pavão-Pavãozinho, um bebê baleado na barriga da mãe na comunidade do Lixão, na Baixada Fluminense. Após uma semana sangrenta, moradores de favelas de várias áreas do Rio se reuniram na manhã deste domingo na praia de Copacabana para pedir paz.
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O evento batizado de I Encontro de Favelas pela Paz no Rio foi o pontapé inicial para a criação de um Fórum Permanente de Segurança Pública de Favelas e Desenvolvimento Social, onde haverá discussão da violência nas comunidades. O Ministério Público e Defensoria Pública foram convocados para acompanhar o movimento, organizado por presidentes de associação de moradores de 680 favelas.
Apesar da chuva, ônibus trazendo moradores de favelas de várias áreas não paravam de chegar na orla, na frente do Copacabana Palace, hotel que é um ícone do glamour da zona sul, bem distante da realidade dos moradores dos morros. Os manifestantes vestiam camisas amarelas, estampadas com uma pomba (símbolo da paz) e com os dizeres "As favelas pedem paz" e erguendo faixas com pedidos de socorro.
A presidente da Federação Municipal das Associações de Favelas do Rio de Janeiro, Deusimar da Costa, disse que o objetivo é combater o descaso público e a violência que atinge o cotidianos dos moradores, em especial a violência policial. "É dever da polícia combater o tráfico, mas também proteger o cidadão. E o cidadão de favela não está sendo protegido", afirmou. "Se o Estado não consegue fazer seu papel sem sacrificar a população, tem que buscar alternativa. O ato não é contra a polícia, mas pela paz. O que acontece na favela é um genocídio maquiado de segurança pública", alertou.
Para os líderes das favelas e os moradores ouvidos pela reportagem, a política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não surtiu efeito e a presença constante dos policiais até aumentou a violência nos morros. Os moradores se queixam também da ausência do Estado na prestação de serviços, como saneamento básico. A associação de vítimas da violência, muitas vezes inocentes, com o tráfico, também revolta.
Maria Quitéria Conceição Santos, 45 anos, diz que foi o que aconteceu com seu filho, Wesley Daniel Santos Oliveira, morto em dezembro de 2015 com três tiros na comunidade do Jacarezinho. Ele tinha 17 anos, era evangélico, trabalhava e voltava da igreja quando foi atingido. "Não existe bala perdida. A polícia diz que confundiu meu filho com bandido porque ele estava no meio do fogo cruzado", conta emocionada. Moradora do Jacarezinho há 19 anos, Maria Quitéria diz que gostaria de sair do morro, mas não tem condições. Seu maior medo é que algo parecido aconteça com seus dois outros filhos, Camila, 22, e Gabriel, de apenas 4 anos. "Vim aqui por ele (Wesley) e para pedir paz na comunidade, que está muito violenta", diz. (Mariana Durão).