Homicídios em larga escala, chacinas, balas perdidas, arrastões, sequestros, rebeliões. O cenário de violência que levou o Rio de Janeiro a ser alvo da primeira intervenção federal desde a Constituição 1988 não é exclusividade dele. Vários Estados do País, como Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, têm índices de criminalidade tão altos quanto ou até superiores aos do Rio, inclusive já chegaram a pedir o apoio das Forças Armadas ou da Força Nacional, em alguns momentos – ambas presentes atualmente não só no Rio de Janeiro, mas também no Rio Grande do Norte. Não é à toa que muita gente vem questionando: será que a intervenção vai ser necessária em outros locais?
Leia Também
- Já sob intervenção federal, arrastão interdita trânsito na Av. Brasil
- Câmara aprova decreto sobre intervenção federal no Rio de Janeiro
- Você é a favor ou contra a intervenção federal no Rio de Janeiro?
- Senado aprova decreto e autoriza intervenção federal no Rio de Janeiro
- Comissão de senadores vai fiscalizar intervenção federal no Rio
“Eu não vejo os Estados do Nordeste, apesar da violência alarmante, precisarem de uma intervenção federal. Ainda. Se não cuidarem, vão precisar”, avalia o especialista em defesa, relações internacionais e segurança, de São José dos Campos (SP), Marco Túlio. Já no Rio de Janeiro ele acredita que a medida é realmente necessária. “O diferente do Rio é o potencial, o fuzil que está nas mãos do traficante e em qualquer assalto e muitas vezes é vendido ou alugado pela própria polícia. Os bandidos não têm mais medo das forças de segurança. Essa é a última cartada”.
No ano passado, o número de homicídios em Pernambuco foi o mais alto que se tem registro desde que passaram a ser anotados pelo DataSUS, em 1979. Foram 5.426 pessoas assassinadas, um aumento de 21,2% em relação ao ano anterior, com 4.479 mortes. No Rio de Janeiro, foram 6.731 assassinatos, um crescimento de 7,5% sobre o ano anterior, com 6.262 mortes. O detalhe é que Pernambuco tem uma população bem menor (9,5 milhões de habitantes), ficando com uma taxa de 57,09 de homicídios por 100 mil habitantes, enquanto o Rio (com 16,7 milhões de pessoas) teve 40 mortes por 100 mil habitantes. Vale salientar que a taxa aceitável pela Organização das Nações Unidas (ONU) é de 10 homicídios/100 mil pessoas.
SEM POSSIBILIDADE
O secretário de Defesa Social de Pernambuco, o delegado federal Antônio de Pádua, garante que o governo não cogita pedir uma intervenção, nem vê necessidade disso. “Hoje, uma das prioridades do governo é a segurança, vamos fechar a gestão com quase seis mil novos servidores (das polícias militar, civil, científica e bombeiros), enquanto há estados que sequer conseguem pagar a folha”, declara, lembrando que ainda estão sendo feitos investimentos na criação de nove delegacias de combate ao narcotráfico e em inteligência.
Apesar de janeiro ter sido o segundo mais violento nos últimos dez anos, com 448 mortes, o número foi 6,1% menor do que janeiro de 2017. “Os resultados começam a aparecer”, salienta Pádua, ao mesmo tempo em que questiona os dados do Rio de Janeiro. “Lá, 50% das mortes têm causa a esclarecer e não entram nas estatísticas de homicídios, então o número certamente é maior”, observa, destacando que o histórico de corrupção em todos os níveis (com três governadores presos na sequência) foi fator determinante para a intervenção. “Houve todo um contexto de desmantelamento até mesmo da administração pública”.
PEDIDOS JÁ FEITOS
No Ceará e no Rio Grande do Norte, onde facções vêm travando uma série de confrontos com mortes, entidades já chegaram até mesmo a pedir a intervenção federal ao governo. Só em janeiro, quando registrou 482 assassinatos, o Ceará vivenciou duas chacinas, uma com 14 mortos e outra, dentro de uma cadeia municipal, com dez. Em 2017, o número de homicídios no Estado subiu 50% em relação a 2016, passando de 3.407 para 5.134.
Já no Rio Grande do Norte – que em 2017 registrou várias chacinas, sendo a maior delas na Penitenciária de Alcaçuz com 26 mortos, a maioria degolados –, o número de homicídios subiu 21% em 2017, saindo de 1.976 para 2.386. “O crescimento ocorreu porque houve redução de policiais por aposentadorias e reformas, poucos investimentos em razão da crise e atrasos salariais. No final do ano conseguimos reduções, mas não foi suficiente para modificar o quadro”, diz a secretária de Segurança, Sheila Freitas, que não quis falar sobre a intervenção, alegando ser um fato novo ainda.