O policial militar Victor Cristilder Silva dos Santos irá a julgamento nesta terça-feira (26) acusado de ter participado da chacina de Osasco e Barueri, ocorrida em agosto de 2015, na Grande São Paulo, na qual 17 pessoas foram assassinadas. O réu será submetido a júri popular.
O acusado teria trocado mensagens no celular com um guarda municipal para avisar sobre o inicio da chacina. Além disso, teria dirigido um dos carros usados na chacina, e efetuado disparos com armas de fogo contra as vítimas. Cristilder, como é conhecido, foi acusado de oito mortes e também por tentativa de homicídio.
No primeiro julgamento do caso, os sete jurados condenaram os policiais militares Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain, e o guarda civil Sérgio Manhanhã. Fabrício foi condenado à pena de 255 anos, 7 meses e 10 dias de prisão, e Thiago Barbosa Henklain a 247 anos, 7 meses e 10 dias. O guarda civil Sérgio Manhanhã foi condenado a 100 anos e 10 meses. As penas somam mais de 600 anos.
Os dois policiais, acusados de ter disparado contra as vítimas, responderam por todas as mortes e tentativas de assassinato. O guarda-civil, denunciado por 11 mortes, teria atuado para desviar viaturas dos locais onde os crimes ocorreriam.
As mortes, segundo a acusação feita pelo Ministério Público, teriam ocorrido como forma de vingança pela morte de um policial militar e de um guarda civil naquele mesmo mês. Segundo a acusação, os agentes de segurança se reuniram e decidiram fazer uma chacina.
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Júri
O júri teve início às 10h, com o sorteio dos sete jurados. Foram escolhidos quatro homens e três mulheres. Eles vão decidir se condenam ou não o policial militar por homicídio. Depois do sorteio, estão previstos depoimentos de 25 testemunhas de defesa e de acusação, feitas pela Defensoria Pública e pelo promotor Marcelo Oliveira.
“A acusação não tem trunfo. A acusação expõe aos jurados o que foi coletado no processo e expõe a prova e pede o que é justo para a sociedade. A acusação não ganha um centavo a mais para condenar inocente ou culpados”, disse o promotor, que comentou sobre o aparecimento da carta de uma testemunha que foi importante para a condenação de um dos policiais no julgamento anterior.
Para Oliveira, se Cristilder for absolvido nesse julgamento, isso não significará que os outros policiais, já condenados, devem ser absolvidos. Ele acredita que a defesa dos policiais vai buscar isso. “Juridicamente não [muda nada]. É outro julgamento, são outros jurados, que são independentes para adotarem inclusive a postura contrária aos jurados anteriores. Mas em prática, obviamente que é um argumento para a defesa, utilizando dos meios recursos que estão à disposição da defesa para tentar reverter aquele resultado”.
O advogado de defesa, João Carlos Campanini, disse que seu cliente é inocente e que a condenação dos outros policiais, no julgamento anterior, pode prejudicar Cristilder. “Entendemos que isso é uma desvantagem no sentido de que o promotor de Justiça vai tentar convencer os jurados de que há uma lógica entre a condenação do Sergio Manhanhã e meu cliente. Mas essa lógica não existe. Muita coisa nova vamos mostrar nesse julgamento”, disse.
Segundo Campanini, na noite da chacina, seu cliente saiu do quartel por volta das 22h30 e, por isso, não teria como ter participado das mortes. “Ele estava no quartel. Não tinha como ele matar pessoas, começar a matar pessoas às 20h, sendo que antes das 22h ele ainda estava no quartel. Ele não participou dos crimes”, ressaltou.
Tensão
O julgamento do policial Cristilder será acompanhado por membros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e do presidente da comissão de prerrogativa da entidade em Osasco, Walter Camilo de Julio.
A rua em frente ao Fórum foi fechada por medida de segurança. Familiares dos policiais condenados e dos mortosacompanham o julgamento. Uma faixa com fotos de pessoas que foram mortas na chacina foi colocada em frente ao fórum.
Zilda Maria de Paula, mãe de Fernando Luiz de Paula, que tinha 34 anos quando foi morto na chacina, disse esperar que o julgamento de hoje seja “igual aos outros”, quando os policiais foram condenados pela chacina.
Ela disse que sua vida, após a morte do filho, mudou completamente. “Não ouço mais rádio, vivo com sete cachorros, sozinha. Nunca pensei tanto no meu filho quanto penso agora", disse.
Julgamento
Depois do depoimento das testemunhas, segue o interrogatório do réu e as fases de debates da defesa e da acusação. Só então o júri popular se reúne para decidir se condena ou não o policial militar por participação nas mortes. O júri será presidido pela juíza Élia Kinosita Bulman. A previsão inicial é que o julgamento se estenda até sexta-feira (2).