investigação

Brasileiros que aparecem em vídeo com estrangeira podem responder por crime na Rússia

Jurista e ativista feminista Alyona Popova fez uma petição contra os brasileiros

JC Online com redação do jornal Correio (BA)
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Publicado em 20/06/2018 às 8:49
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Jurista e ativista feminista Alyona Popova fez uma petição contra os brasileiros - FOTO: Foto: Reprodução
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A jurista russa Alyona Popova fez uma denúncia contra os brasileiros que aparecem no vídeo falando palavras obcenas com uma turista estrangeira. A jurista fez uma petição por violência e humilhação pública à honra e à dignidade de outra pessoa. De acordo com o portal Uol, a partir disso, o Ministério de Assuntos Interiores deve começar a investigar o caso, além de analisar os relatos já publicados na imprensa. 

Alyona é ativista feminista e uma das maiores referências em defesa dos direitos da mulher. Segundo ela, as punições para os ofensores podem variar de multa até restrições na Rússia.

“Na legislação russa, existem várias opções de multa aplicadas às pessoas que humilharam publicamente a honra e a dignidade. Assim, os cidadãos estrangeiros no vídeo podem ser responsabilizados por cometer um delito nos termos da da Parte 1 do art. 5.61 do Código de Ofensas Administrativas (insulto, isto é, honra e dignidade de outra pessoa, expressa na forma indecente - implica a imposição de uma multa administrativa aos cidadãos, no montante de mil a três mil rublos), ou processado sob Parte 1 do art . 20.1 do Código Administrativo (vandalismo), isto é, a violência da ordem pública, expressando desrespeito claro para a sociedade, acompanhados por linguagem ofensiva em locais públicos, abuso sexual ofensivo para os cidadãos", diz o documento.

Ainda na petição, Alyona afirma que os brasileiros podem responder criminalmente pelo vídeo. “E se comprovar que os estrangeiros cometeram os atos destinados a incitar o ódio ou inimizade, bem como a humilhação de uma pessoa ou grupo de pessoas em razão do sexo, raça, nacionalidade, língua, origem, atitude à religião, bem como pertencentes a um tanto o grupo social, publicamente ou usando a mídia, eles podem ser levados à responsabilidade criminal”, completa a ativista.

Para a jurista, os brasileiros deveriam pedir desculpas à turista que aparece no vídeo. “Os cidadãos estrangeiros deveriam também pedir desculpas publicamente para a menina e a sociedade russa e admitir o comportamento do sexismo, a falta de respeito às leis da Federação Russa, o desrespeito em relação a um cidadão russo, insultos, humilhação da honra e dignidade de um grupo de pessoas com base no sexo”, conclui.

Três brasileiros já foram identificados: Diego Jatobá, advogado e ex-secretário de Turismo de Ipojuca, em Pernambuco, e Eduardo Nunes, que é tenente da Polícia Militar de Lages, em Santa Catarina.

No vídeo, eles fingem cantar um hino de torcida, mas usam palavras de baixo calão para a mulher, que não fala português e repete o que é dito de maneira inocente. A mulher ainda não foi identificada e não se sabe qual sua nacionalidade.

'Se fosse na favela, era normal'

Luciano é ex-membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Piauí (Crea-PI) e possui uma empresa de engenharia no mesmo estado. "Já pedi desculpas a todas as mulheres. Todos nós somos seres humanos e erramos e além disso não conhecíamos ninguém, bebemos um pouco mais da conta e foi isso. Alguém que não conheço filmou. Mas aqui todos estavam brincando e todos entendem a agitação, mas mulheres realmente tem razão em questionar", declarou o engenheiro ao G1.

O empresário minimizou a situação e tratou como exagero a repercussão. “Somos pais de família, trabalhadores e vocês estão acabando com a vida da gente... Quem está brincando carnaval exagera um pouquinho na bebida e às vezes passa do ponto. Peço desculpas às mulheres que possam ter se sentido ofendidas, mas estão transformando um copo d’água em uma tempestade”, disse ele.

Ele também não detalhou o contexto em que o vídeo foi feito e nem a cidade onde aconteceu o fato. “Não foi feita coação, nada ali foi forçado. Tinha mais de 40 meninas ali e os próprios russos que tinham namoradas colocavam elas na brincadeira de livre e espontânea vontade. Só ganhou essa conotação porque aconteceu aqui na Rússia, mas se fosse na favela ou no carnaval, seria considerado normal”.

A repercussão do vídeo

A decepção do Brasil na Rússia neste início de mundial poderia ter ficado restrita ao empate contra a Suíça, mas a atitude de um grupo de torcedores canarinhos na sede da Copa do Mundo gerou polêmica, revolta e envergonhou muitos brasileiros. Em diferentes vídeos que circulam pelas redes sociais, pelo menos quatro torcedores com a camisa verde e amarela aparecem ao lado de uma estrangeira cantando palavras obscenas sem que a moça os compreenda. Entre o grupo de torcedores estão o advogado pernambucano Diego Valença Jatobá, ex-secretário de Turismo de Ipojuca, e o tenente da PM Eduardo Nunes.

Sem se identificar, um homem que aparece nas imagens afirmou à Folha de S. Paulo ter se arrependido de participar do vídeo. “Entrei de gaiato na história. Foi uma brincadeira de muito mau gosto. Lamento ter aparecido nisso, mas brasileiro, quando vê uma câmera, quer se meter na frente”.

A OAB de Pernambuco e a PM de Santa Catarina já emitiram notas de repúdio sobre o caso (a organização dos advogados levará o caso ao conselho de ética). Além das instituições, muitas pessoas mostraram-se indignadas com a atitude dos brasileiros, entre elas diversas artistas, que falaram sobre machismo, assédio e racismo.

Novo caso de assédio

Depois de circular um vídeo na internet com um grupo de torcedores brasileiros assediando uma mulher na Rússia, durante a Copa do Mundo, outro foi publicado com conteúdo similar. Neste segundo, ao menos três brasileiros ensinam três mulheres estrangeiras a falar: "Eu quero dar a b*** para vocês". Ao termino da frase, eles comemoram: "É a Rússia, c***!". O grupo ainda não foi identificado.

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