O advogado de João de Deus, Alberto Zacharias Toron, apresentou à Justiça um pedido para que a prisão preventiva de seu cliente não seja concedida. Numa audiência com o juiz Fernando Chacha, realizada na tarde desta quinta-feira (13) Toron sugeriu ainda que, se mantida a liberdade, seu cliente estaria disposto a fazer os atendimentos espirituais escoltado por policiais ou, ainda, permitir que sessões sejam gravadas.
De acordo com Toron, não há um prazo para que o juiz decida sobre o pedido de prisão, apresentado na tarde de quarta pelo Ministério Público. "Embora não tenha tido até agora acesso aos depoimentos ou ao pedido de prisão preventiva, com todas as limitações apresentei argumentos para que o juiz negasse a prisão", completou.
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Toron chegou em Abadiânia na noite de quarta, horas depois de o MP apresentar o pedido de prisão preventiva. Hoje, encontrou-se com João de Deus e fez a visita à Casa Dom Inácio de Loyola, como é conhecido o espaço onde o médium faz os atendimentos. "Ele está muito abatido, triste e inconformado com a situação."
Acusações
João de Deus é acusado de abuso sexual por mulheres que buscaram atendimento na casa. Relatos reunidos até o momento indicam que, depois da sessão, o médium teria o costume de sugerir para as supostas vítimas uma audiência particular, momento em que os abusos seriam cometidos. Para o Ministério Público, a semelhança nos depoimentos reforçam as suspeitas contra o médium. Até o momento, foram coletados 256 depoimentos.
O pedido de prisão foi protocolado no fim da tarde de quarta, no Fórum de Abadiânia, onde o líder espiritual mantém a Casa Dom Inácio de Loyola. O MP fundamentou o pedido de prisão preventiva com dois argumentos. Para o órgão, em liberdade, haveria o risco de João de Deus coagir as testemunhas ou, mantendo o atendimento, fazer novas vítimas. Daí a argumentação de Toron. Embora ele garanta que o risco inexista, seu cliente não faria oposição a permanecer com escolta na sala de atendimento.
Toron classificou o pedido de prisão do MP de descabido. Ele argumentou que João de Deus tem residência e já se mostrou disposto a colaborar com a Justiça. Num rápido aparecimento que fez na Casa Dom Inácio de Loyola na quarta, o líder espiritual disse ser inocente e que estava nas mãos da Justiça. "João de Deus está vivo", disse ele, para um público reduzido de fiéis.
Desde que as primeiras denúncias de abuso vieram à tona, o movimento na Casa Dom Inácio de Loyola caiu. Pelos cálculos de funcionários, na quarta o local recebeu cerca de um terço do número costumeiro de visitantes. A estimativa é de que o líder atraia mensalmente cerca de 10 mil pessoas, das quais 40% são estrangeiras. Nesta quinta, com o pedido de prisão, o movimento se reduziu ainda mais.
As denúncias de abuso sexual surgiram na semana passada, quando o programa Conversa com Bial, da TV Globo, mostrou depoimento de mulheres que teriam sido vítimas de João de Deus. Depois da divulgação, surgiram novos depoimentos. Até quarta, o MP já contabilizava 256.
A cidade aguarda dividida os desdobramentos. Com 17 mil habitantes, boa parte da economia do município gira em torno das atividades de João de Deus. O prefeito da cidade, José Aparecido Alves Diniz, calcula que a casa gera direta ou indiretamente 1 300 postos de trabalho. "Não há como negar que vai ser um baque para o município", disse.
Fiéis, por sua vez, estão divididos. Apegados à fé, muitos afirmam ser necessária a distinção entre o que faz o homem e a entidade. Outros não acreditam nas denúncias. "Mas é claro que as investigações têm de ser feitas. Não devemos julgar apressadamente nem contra ou a favor", disse a paulista Elizabeth Cozza. Mesmo diante das denúncias, ela decidiu vir para Abadiânia em busca de tratamento.
Em entrevista ao Estado, o coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal , Luciano Miranda Meireles, disse estar impressionado com o relato das vítimas e afirmou não ter dúvida de que, uma vez formalizadas as denúncias, o caso João de Deus tem potencial para superar o do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado por abusar sexualmente de suas pacientes. Meireles ponderou que o número de casos é maior - pois não se restringe a uma pequena parcela de pacientes."Fora o tempo. Há relatos de abusos cometidos há 20 anos."
Nos casos de abusos sexuais, afirmou Meireles, as denúncias podem ser baseadas apenas nos relatos das vítimas. "Mas não queremos fazer isso de forma apressada. Daí a importância de ouvirmos um grande número de pessoas, para ver se as informações são conflitantes ou se elas se encaixam."
Na tarde desta quarta, antes do pedido de prisão preventiva ser feito, a recomendação era reduzir a exposição de João de Deus. Era dada como certa, por exemplo, a participação do médium nas sessões realizadas nesta quinta e nesta sexta. Havia ainda a possibilidade de se declarar um recesso na casa na próxima semana. As atividades seriam retomadas apenas no próximo ano. "Era o tempo de se baixar a poeira", resumiu Francisco Lobo.
Convidado para cuidar do caso, o consultor de crise Mário Rosa afirmou que, com as denúncias, João de Deus alterna momentos de angústia e tristeza com alguns momentos de calma. Rosa define o médium como uma pessoa rústica e pouco articulada. "Ele não funciona de acordo com a lógica da sociedade", disse. Daí a estratégia de evitar a exposição do médium.