O Brasil questionará, na próxima reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), as medidas recentes de afrouxamento monetário nos Estados Unidos e na Europa. Segundo um representante do governo, o país defenderá os estímulos ao consumo interno e aos investimentos para combater a crise econômica global, em vez de injeções de dinheiro pelos bancos centrais.
A reunião do FMI ocorrerá em Tóquio, de 9 a 14 de outubro. De acordo com o governo brasileiro, o afrouxamento monetário afeta os países emergentes porque desvaloriza artificialmente o dólar e o euro, principais moedas usadas no comércio internacional. No caso do Brasil, a cotação dessas duas moedas cai em relação ao real, o que desestimula as exportações e incentiva as importações dos países desenvolvidos.
No encontro, o Brasil defenderá a melhoria da qualidade dos gastos nos países desenvolvidos. Segundo o representante do governo, o país pode fazer desonerações que beneficiem setores essenciais para a economia, manter os investimentos públicos e, ainda assim, continuar a reduzir o endividamento público por meio de um ajuste fiscal inteligente. Essa receita, informou a fonte, é a mesma que tem sido aplicada para estimular a atividade econômica brasileira nos últimos anos.
Em relação às reformas do FMI, o governo brasileiro não espera que decisões importantes sejam tomadas na reunião da próxima semana. O Brasil pressionará para que os países ratifiquem a redistribuição das cotas definida em 2010. O problema, segundo a fonte do governo, no entanto, é que a reforma só será concluída quando for aprovada pelo Congresso norte-americano, o que poderá ser feito apenas depois das eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro.
Na reforma de 2010, o Brasil aumentou de 2% para 2,3% a participação no FMI. Outro ponto de discussão será a revisão das fórmulas que servirão de ponto de partida para a negociação da segunda etapa de reforma das cotas, prevista para entrar em vigor em janeiro de 2014. O Brasil, os Estados Unidos e a maioria dos países em desenvolvimento defendem que o Produto Interno Bruto (PIB), que mede o tamanho das economias dos países, tenha maior peso no cálculo.
Diversos países da Europa, no entanto, reivindicam a manutenção ou o aumento do grau de abertura das economias na fórmula. Segundo o governo brasileiro, isso amplia a representação de países menores do continente, cujos fluxos comerciais e de rendas de investimentos têm maior peso sobre o PIB. O problema, de acordo com o representante do governo, é que as negociações não avançaram nos últimos meses e nenhuma decisão deve ser tomada. Pelo cronograma original, as fórmulas deveriam estar definidas em janeiro de 2013.
Paralelamente à reunião do FMI, os países do Brics – grupo que reúne o Brasil, a Rússia, Índia, China e África do Sul – farão uma reunião no dia 11. O encontro discutirá a formação de um banco conjunto de desenvolvimento, semelhante ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento, cuja criação foi anunciada em agosto, em reunião do bloco, no Rio de Janeiro. A expectativa é que a decisão final sobre a instituição financeira seja tomada na próxima reunião do Brics, em março de 2013, na África do Sul.
Os países do Brics também debaterão um mecanismo de socorro mútuo entre os bancos centrais dos membros do bloco. Em caso de crise nas contas externas, cada país teria acesso à parte das reservas internacionais dos demais parceiros do Brics. A diferença em relação aos mecanismos de socorro montados na Europa é que o dinheiro não será aplicado em um fundo internacional e permanecerá nas reservas de cada país antes de ser emprestado.