A aceleração das mudanças climáticas e seu impacto sobre a produção agrícola mundial exige que profundas mudanças sociais sejam implementadas nas próximas décadas para alimentar uma população mundial crescente, alertaram cientistas em uma conferência científica anual.
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Segundo os cientistas, a produção alimentar terá que dobrar nos próximos 35 anos para alimentar uma população global de 9 bilhões de habitantes em 2050 contra os 7 bilhões atuais.
Alimentar o mundo "implicará algumas mudanças em termos de minimizar o fator climático", disse Jerry Hatfield, diretor do Laboratório Nacional para a Agricultura e o Meio Ambiente.
A volatilidade das chuvas, as secas frequentes e o aumento das temperaturas afetam as lavouras de grãos, razão pela qual será preciso adotar medidas, afirmou Hatfield neste domingo, durante a reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência.
"Se avaliarmos a produção de 2000 a 2050, basicamente teríamos que produzir a mesma quantidade de alimentos que produzimos nos últimos 500 anos", previu.
Mas, globalmente, os níveis de uso da terra e a produtividade continuarão degradando o solo, advertiu.
"No que diz respeito à projeção para o Meio Oeste (dos EUA), estamos convencidos de que as temperaturas aumentarão bastante", afirmou Kenneth Kunkel, climatologista da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica americana, referindo-se à região de maior produção de grãos, situada no centro do país.
Kunkel estudou o impacto do aquecimento global no Meio Oeste americano, onde a maior ameaça para a segurança alimentar é a seca.
A possibilidade é alta que esta região sofra com a pior seca no século XXI entre as registradas no último milênio, representando uma ameaça direta para os moradores da região, alertaram cientistas nesta quinta-feira, na abertura da conferência, celebrada em San José, na Califórnia (oeste).
As mudanças climáticas estão ocorrendo tão rapidamente que os seres humanos enfrentarão em breve uma situação sem precedentes, afirmou Kunkel.
Mas James Gerber, especialista em agricultura da Universidade de Minnesota, disse que reduzir o desperdício de alimentos e o consumo de carne vermelha ajudaria.
A redução do número de cabeças de gado diminui o impacto ambiental, inclusive as emissões de metano, um poderoso gás de efeito estufa.
Gerber disse que os cientistas identificaram "tendências bastante preocupantes", como a diminuição global das reservas de grãos, que dão à sociedade uma importante rede de segurança.
O cientista também expressou sua preocupação sobre o fato de que a maioria da produção de grãos está concentrada em áreas vulneráveis ao aquecimento global. Gerber não descartou um uso maior de organismos geneticamente modificados como forma de aumentar a disponibilidade de alimentos.
Paul Ehrlich, presidente do Centro para a Conservação Biológica, da Universidade de Stanford, disse que o problema requer "uma real mudança social e cultural em todo o planeta".
"Se tivéssemos mil anos mais para resolvê-lo, estaria muito tranquilo, mas podemos ter 10 ou 20 anos" apenas, advertiu.