Cento e cinquenta pessoas morreram nesta terça-feira na queda de um Airbus A320 da companhia de baixo custo Germanwings, pertencente à alemã Lufthansa, nos Alpes franceses, na pior tragédia aérea do país nos últimos 30 anos. Uma das caixas-pretas da aeronave já foi encontrada e enviada para análise.
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O A320 da Germanwings voava entre Barcelona e Düsseldorf, com 144 passageiros e seis tripulantes. O aparelho caiu entre Digne e Barcelonnette, em um vale escarpado do maciço de La Blanche, cerca de 1.500 metros acima do nível do mar.
"Até o momento, não há sinais de que alguém tenha sobrevivido ao acidente", declarou em Seyne-les-Alpes o general David Galtier, da Gendarmeria regional. "Os corpos estão destroçados e nenhum pedaço é maior que uma pequena mala".
A maioria dos passageiros era alemã e espanhola, mas há informações sobre a presença de três mexicanos, dois colombianos, dois argentinos, dois australianos, um belga e um dinamarquês a bordo.
Tóquio informou que na lista de passageiros constavam os nomes de dois japoneses residentes em Dusseldorf, e Londres revelou a possível presença de cidadãos britânicos no voo.
A imprensa do Marrocos noticiou que um casal do país está entre as vítimas.
Segundo a Germanwings, 67 alemães viajavam no aparelho, entre eles dois bebês e 16 adolescentes que retornavam de um intercâmbio escolar com estudantes espanhóis.
Entre as vítimas há dois cantores de ópera: o baixo barítono Oleg Bryjak, de 54 anos, e a contralto Maria Radner, 33, que regressavam a Düsseldorf após cantar a ópera de Richard Wagner "Siegfried" no Gran Teatre del Liceu de Barcelona.
A Espanha decretou três dias de luto oficial.
A chanceler alemã, Angela Merkel, e o chefe de Governo espanhol, Mariano Rajoy, anunciaram que viajarão na quarta-feira ao local do acidente. Lá, ambos se reúnem com Hollande.
"É dilacerante, porque, aparentemente, significa a perda de muitas crianças", reagiu o presidente americano, Barack Obama, que enviou seus pêsames aos governos alemão e espanhol.
"Nossos pensamentos e orações estão com nossos amigos na Europa, especialmente com os povos de Alemanha e Espanha, após este terrível acidente", declarou Obama.
Operação difícil
Um grupo de 30 gendarmes e um pelotão de montanha deve chegar na manhã desta quarta-feira aos destroços do aparelho, em uma zona escarpada e de difícil acesso do maciço de La Blanche, cerca de 1.500 metros acima do nível do mar.
"O grupo de 65 gendarmes partiu durante a noite para chegar ao local por terra e vai pernoitar lá", informou o tenente-coronel Jean-Marc Ménichini. Outros cinco policiais já estão no local para resguardar os destroços do avião.
No total, a operação envolve 300 bombeiros e outros 300 gendarmes, dez helicópteros e um avião militar.
"Uma das dificuldades que temos é o acesso ao local do desastre, particularmente hostil, (que estará) em breve sob neve e chuva", indicou o general Galtier. "É um lugar muito inacessível que só pode ser alcançado de helicóptero, ou a pé".
Nenhuma hipótese descartada
Segundo um investigador, entre os milhares de fragmentos do avião "é possível identificar apenas o trem de pouso", o que indica que o aparelho bateu diretamente contra a montanha.
"Neste estágio, nenhuma hipótese pode ser descartada para explicar o acidente", declarou na Assembleia Nacional o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, de origem catalã, que suspendeu por 24 horas sua participação na campanha para as eleições de domingo.
Uma investigação judicial já foi aberta pelo Escritório de Investigação e Análise francês (BEA).
"Não sabemos os motivos desse acidente (...) Estamos fazendo todo o possível para viajar para o local dos fatos, entender o que aconteceu e poder acolher as famílias das vítimas nas melhores condições", garantiu o premiê francês.
Em entrevista coletiva no aeroporto de Barcelona, a vice-presidente para a Europa do grupo Lufthansa, Heike Birlenbach, disse se "tratar de um acidente, e qualquer outra coisa seria especulação".
O grupo Airbus também declarou "não ter nenhuma informação" até agora sobre as circunstâncias do acidente.
As investigações devem avançar rapidamente, já que "uma caixa-preta da aeronave foi encontrada e será encaminhada para os serviços competentes", anunciou o ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve.
Sem contato com a tripulação da aeronave e nenhum sinal de radar, a Direção de Aviação Civil francesa (DGAC) declarou o voo em perigo às 9h30 GMT (6h30 no horário de Brasília), perto da pequena cidade de Barcelonnette.
A tripulação do avião não chegou a emitir um sinal de emergência, segundo a DGCA.
A queda do avião durou cerca de oito minutos, relatou a Germanwings, acrescentando que "o piloto tinha mais de dez anos de experiência e 6.000 horas de voos".
Uma testemunha que esquiava perto do local do acidente contou a uma emissora de televisão francesa que ouviu "um grande barulho".
Com capacidade para transportar de 150 a 180 pessoas, o A320 acidentado foi entregue à Lufthansa "em 1991" e passou por uma ampla revisão "no verão de 2013", assegurou Thomas Winkelmann, um dos diretores da empresa em Colônia, no oeste da Alemanha.
A Germanwings comunicou na noite desta terça-feira a anulação de certos voos porque alguns tripulantes decidiram não embarcar após o incidente.
Este desastre é o primeiro na França desde a queda de um Concorde da Air France, que causou 113 mortes (100 passageiros, nove membros da tripulação e quatro mortos no chão), em 25 de julho de 2000, pouco depois de decolar do aeroporto Roissy-Charles de Gaulle.
Também é o mais grave no país em mais de 30 anos, após a queda de um DC-9 da empresa Inex Adria em uma montanha da Córsega, que deixou 180 mortos.
O pior desastre aéreo na França aconteceu em 3 de março de 1974, quando um DC-10 da Turkish Airlines caiu ao norte de Paris, causando 346 vítimas fatais.