Um séquito com os caixões de 136 vítimas identificadas do massacre de julho de 1995 partiu nesta quinta-feira de Visoko, na Bósnia, em direção ao memorial de Srebrenica, onde serão enterrados no sábado, coincidindo com o 20º aniversário desta tragédia.
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Até agora, 6.241 das vítimas encontradas e identificadas do massacre, o pior registrado na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, foram enterradas no memorial de Srebrenica, e 230 em outros cemitérios. Várias centenas de pessoas, entre elas parentes das vítimas, acompanharam o início do cortejo nesta pequena cidade próxima à capital Sarajevo.
Hafiza Tihic, de 60 anos, estava em Visoko para se despedir de seu pai, Ramiz. "Não sei como foi assassinado, mas me lembro do momento em que o separaram de nós. Subi em um ônibus e o afastaram para um lado. O que fizeram depois? Só eles sabem", conta esta senhora com a cabeça coberta com um véu branco.
"Hoje é um dia de muita dor, como se tivesse acabado de morrer", acrescenta Hafiza, cujo irmão também morreu em uma emboscada em uma floresta próxima a Srebrenica, quando tentava fugir do enclave tomado pelas forças sérvias da Bósnia.
"Nós o encontramos e enterramos há alguns anos. O que aconteceu em Srebrenica é inconcebível. Matar um número tão grande de pessoas (...) eu não consigo entender", acrescentou.
Samira Agovic, de 39 anos, também foi se despedir de seu pai, de quem "apenas foram encontrados quatro ossos". Samira já enterrou um irmão que tinha 15 anos durante o massacre e outro, de 22 anos, nunca foi encontrado. "Não consigo entender o que ocorreu há 20 anos. Tenho a sensação de que aconteceu hoje. E a cada ano, em julho, a mesma sensação volta", conta.
No momento que o enclave caiu, sua família não sabia para onde ir, relata Samira. "Nós nos separamos. Os homens partiram para a floresta, nós para Potocari (a base da ONU). Eles apenas nos disseram para termos cuidado".
Há 20 anos, em julho de 1995, 8.000 homens e jovens muçulmanos foram assassinados em Srebrenica, na Bósnia Oriental, pelas forças servo-bósnias, um pouco antes do fim da guerra intercomunitária (1992-1995), um massacre que a justiça internacional considera um genocídio. Vinte anos depois do massacre de Srebrenica, que precedeu o fim do conflito da Bósnia, o país balcânico, um dos mais pobres da Europa, segue preso em suas divisões étnicas.
A Bósnia não conseguiu fechar as feridas do conflito que deixou 100.000 mortos, e muçulmanos (40%), sérvios (30%, cristãos ortodoxos) e croatas (10%, católicos) seguem se encarando com desconfiança. Na quarta-feira a Rússia vetou um projeto de resolução da ONU para reconhecer o massacre de Srebrenica como um "genocídio", chamando o texto de "agressivo" e indicando que ameaçava a reconciliação na região.
O projeto de resolução, proposto pelo Reino Unido, é considerado por este último como um "pré-requisito para a reconciliação" na Bósnia, visando condenar "nos termos mais fortes o genocídio", uma tragédia que envenenou as relações entre Sérvia e Bósnia.