SÉRIE ESPECIAL

Judeus e outros povos continuam sendo perseguidos atualmente

Após 70 anos do fim do conflito, o que se vê ainda é um preconceito latente e com novas nuances

JC
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Publicado em 31/08/2015 às 6:32 | Atualizado em 18/01/2022 às 9:26
Fotos: Museu da Guerra - PATRICK HERTZOG / AFP
Após 70 anos do fim do conflito, o que se vê ainda é um preconceito latente e com novas nuances - FOTO: Fotos: Museu da Guerra - PATRICK HERTZOG / AFP
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Quando se fala em  Segunda Guerra Mundial (1939-1945) uma imagem rotineiramente vem à mente trazendo repulsa por um dos atos perpetrados por Hitler: a perseguição e o assassinato de aproximadamente seis milhões de judeus, além de outras minorias. Foram famílias, histórias, futuros destruídos por uma máquina de guerra que fez do antissemitismo um dos sustentáculos de um projeto de poder que pretendia subjugar todos os povos não enquadrados no padrão ariano de “raça superior”. Após 70 anos do fim do conflito, no entanto, o que se vê ainda é um preconceito latente e com novas nuances. Os judeus, que já eram vítimas de abusos muito antes das ideias de Hitler, ainda seguem como alvo. Não só eles, em tempos de crise econômica e imigratória, o mundo observa o recrudescimento de uma onda xenófoba vitimando diversos povos. 

“Pensar que se pode guardar dentro de si um Hitler adormecido é uma ideia que chega a levar ao desespero", crava o historiador francês Gerald Messadié, em História Geral do Anti-Semitismo. Porém, permeia hoje nas discussões políticas na Europa justamente esse “despertar” na mente de parte da sociedade e de líderes extremistas, sem que as dores do passado sejam observadas a fim de evitar essas perseguições no presente. No país de Gerald, os ideais de Liberté, Egalité e Fraternité vêm sendo partidarizado e os judeus figuram na linha de alvo.

O número de atos antissemitas por lá dobrou em 2014 em comparação com 2013. De acordo com o Conselho das Instituições Judaicas da França (Crif), 851 atos antissemitas foram registrados na França em 2014, contra 423 em 2013. O cálculo é embasado nos dados do ministério francês do Interior. A alta dos atos seguidos de violência física foi ainda mais significativa e atingiu 130%.

Historicamente, a perseguição aos judeus teve dois motes, conta o filósofo pós-doutorado pela Universidade de Tel-Aviv, Luiz Felipe Pondé. A construção do cristianismo, com a acusação de que foram lideranças judaicas que perseguiram Cristo e a vinculação difundida na Europa de que judeu e ganância eram palavras indissociáveis.

 Mas para esse crescimento visto na Europa atualmente, o estudioso mostra um novo catalizador de pensamentos antissemita: a demonização de Israel e a tensão com as comunidades árabes. “Na perseguição de Hitler, os judeus eram perseguidos por serem descritos como maus. Hoje não é diferente, mas vemos uma tensão crescente entre uma comunidade já estabelecida, a judaica, e outra que não consegue se adaptar, a árabe”, explica. Pondé analisa que as tensões vistas entre Israel e Palestina acabam sendo transmutadas para a Europa justamente por essa não adaptabilidade dos árabes, que acabam acusando os judeus de impedirem essa integração.

Na Itália, recentemente, os donos judeus de dezenas de lojas e outros estabelecimentos comerciais na região central de Roma encontraram suásticas e slogans antissemitas pintados sobre suas janelas e portas. Um dos slogans afirmava que “todo palestino é como um camarada”.

 

CÂMARA DA MORTE MODERNA

 

As fronteiras europeias recebem hoje o maior fluxo de imigrantes desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Nos seis primeiros meses do ano, a Alemanha, por exemplo, recebeu quase 180 mil pedidos de asilo. Mais que o dobro do número atingido no mesmo período do ano passado. Até o fim de 2015, segundo projeção Agência Federal para Migração e Refugiados, deverá receber solicitações cheguem a 450 mil até o final do ano.

Enquanto cresce o pedido de entrada, aumenta também os ataques contra povos vindos de países como Síria, Afeganistão, Iraque e do Norte do continente africano, que sofrem com governos ditatoriais, guerras civis ou os dois cenários reunidos. De janeiro a junho deste ano, foram 202 ataques a abrigos. Alguns prédios, no Leste da Alemanha, chegaram a ser parcialmente incendiados. O Ministério do Interior confirma que o número já supera os 198 ataques que ocorreram em todo o ano de 2014. Aqui, a maior parte são muçulmanos.

Recentemente, uma cena desoladora foi vista na Áustria. Em um caminhão abandonado, dezenas de imigrantes foram encontrados mortos, outros ainda estavam vivos, em péssimas condições de saúde. Assim como eles, diariamente são dezenas que perdem a vida em embarcações ou já em terra firme no continente europeu. Enquanto isso, os países ricos seguem sem encontrar soluções duradouras que solucionem os sofrimentos dessas pessoas. 

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