VIAGEM

Rohani visita a Europa, a primeira de um presidente iraniano em 16 anos

Itália e França eram, antes das sanções impostas ao Irã em 2006, os dois principais parceiros comerciais europeus do Irã, e desejam retomar a parceria

Da AFP
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Publicado em 13/11/2015 às 11:49
Foto: ATTA KENARE / AFP
Itália e França eram, antes das sanções impostas ao Irã em 2006, os dois principais parceiros comerciais europeus do Irã, e desejam retomar a parceria - FOTO: Foto: ATTA KENARE / AFP
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Hassan Rohani inicia no sábado (14) uma visita à Itália e França, na primeira viagem europeia de um presidente iraniano em 16 anos, o que ilustra o bom relacionamento desde a assinatura do acordo nuclear em julho.

A última visita de um chefe de Estado iraniano foi em 2005, quando o reformista Mohammad Khatami visitou Roma e Paris. Em 1999 ele já havia visitado os dois países. Na ocasião, foi o primeiro presidente a ir à Europa desde a revolução islâmica de 1979.

A visita de quatro dias de Hassan Rohani, um religioso moderado eleito em 2013, será dominada por questões geopolíticas, incluindo o conflito sírio, mas também comerciais e religiosos, com um encontro previsto no Vaticano com o papa Francisco.

Itália e França eram, antes das sanções impostas ao Irã em 2006, os dois principais parceiros comerciais europeus do Irã, e desejam retomar a parceria com este país rico em petróleo e gás.

As esperanças ressurgiram com a assinatura, em 14 de julho, do acordo nuclear iraniano, após dois anos de tensas negociações entre o Irã, Estados Unidos, China, Rússia, França, Grã-Bretanha e Alemanha.

Este acordo deve permitir o levantamento em 2016 das sanções que freiam o desenvolvimento do Irã, em troca do compromisso de limitar seu programa nuclear civil e renunciar às armas nucleares.

Desde então, Teerã tem recebido inúmeros políticos europeus que desejam normalizar as relações e empresários desejosos de garantir a sua quota em um mercado de 78 milhões de habitantes.

Rohani afirmou na quarta-feira, em uma entrevista ao canal de TV France 2, que o seu país assinaria em Paris memorandos de entendimento em diferentes campos e "provavelmente" compraria aviões Airbus para renovar a frota iraniana.

Os ministros francês e italiano das Relações Exteriores, Laurent Fabius e Paolo Gentiloni, foram um dos primeiros a entrar em Teerã entre o final de julho e início de agosto, para transmitir um convite ao presidente Rohani.

A visita de Fabius foi seguida em setembro por uma grande delegação de 150 empresários franceses que vieram estudar oportunidades de investimento no Irã.

Para alguns, como as montadoras PSA e Renault, ou a petrolífera Total, presentes há tempos no Irã, trata-se de fortalecer suas atividades reduzidas pelas sanções.

Sombra da Síria

Em Paris, onde Hassan Rohani discursará na Unesco na segunda-feira, a crise síria será o foco de uma reunião na terça-feira no Palácio do Eliseu com o presidente francês, François Hollande.

O Irã é, junto com a Rússia, o principal apoio ao regime do presidente sírio Bashar al-Assad, para o qual fornece ajuda financeira e militar, incluindo o envio de assessores militares no terreno.

Sinal do degelo propiciado pelo acordo nuclear, o Irã participou pela primeira vez no final de outubro em Viena de uma reunião internacional que discutiu uma solução política ao conflito sírio, que já deixou mais de 250.000 mortos desde 2011.

Uma nova reunião está agendada para sábado na capital austríaca.

Laurent Fabius lembrou que sobre a Síria "nós temos uma divergência fundamental com os iranianos" sobre o destino do presidente Assad, que a França considera o grande responsável pela situação atual.

Mas o presidente Rohani reiterou na quarta-feira que a solução da crise síria "não é uma questão pessoal". "Precisamos, em primeiro lugar, erradicar o terrorismo. Esta é a primeira prioridade (...) A segurança deve ser criada para as pessoas voltarem para casa", disse ele.

No Vaticano, o papa Francisco deve dizer a Rohani que ele deseja que o Irã influencie Bashar al-Assad em favor de uma transição democrática.

A posição "dura" de Paris durante as negociações nucleares foram fortemente criticadas por Teerã, aumentando os temores da marginalização da França no Irã após o acordo.

Mas Fabius havia dito em julho, em Teerã, que Paris tinha mantido uma "atitude constante, firme, construtiva" a fim de "impedir a proliferação nuclear".

No plano protocolar, Teerã reiterou que Rohani se recusaria a participar de um jantar no Palácio do Eliseu, onde é servido vinho. "Em conformidade com os valores e ensinamentos do Islã", os líderes iranianos têm uma política de nunca participar de recepções onde é servido álcool, lembrou um diplomata iraniano.

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