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Astrônomos detectaram pela primeira vez uma sucessão de rajadas rápidas de rádio (FRB) - um fenômeno cósmico muito misterioso - proveniente de uma fonte situada sem dúvidas muito além de nossa galáxia, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira pela revista Nature.
As FRBs foram identificadas em 2007 por uma equipe de cientistas liderados por Duncan Lorimer, a partir de dados recolhidos pelo observatório. Em um milésimo de segundo, elas emitem tanta energia quanto o Sol em 10.000 anos.
Antes desta descoberta realizada por uma equipe internacional, todas as outras FRBs registradas, somando 17, pareciam ser fenômenos pontuais.
Por isso, a maior parte das teorias sobre a origem dessas rajadas evocavam eventos cataclísmicos que levam à destruição de sua fonte: explosão de uma estrela gerando uma supernova, fusões de estrelas de nêutrons (astros minúsculos mas muito densos, compostos essencialmente de nêutrons).
Mas em novembro, Paulo Scholz, doutorando da universidade canadense de McGill, observou, graças a um supercomputador, uma sucessão de rajadas rápidas de rádio registradas entre maio e junho de 2015 pelo poderoso rádio telescópio de Arecibo situado sobre a ilha de Porto Rico.
"Não apenas estas rajas se repetiam, mas seu brilho e espectro diferem de outras FRBs", aponta Laura Spitler, autora principal do artigo e pesquisadora do Instituto de Radioastronomia Max Planck, em Bonn, na Alemanha.
"Nós ainda não sabemos a origem desta série de explosões, mas pensamos que pode ser um jovem pulsar" (uma estrela de nêutrons que emite pulsos de rádio regularmente como um farol muito poderoso, afirmou à AFP Victoria Kaspi, professora de física na Universidade McGill e membro sênior da equipe que conduziu o estudo. "Ou então um jovem magnetar" (uma estrela de nêutrons que produz um campo magnético extremamente forte), acrescentou.
O estudo deve dar ainda mais material paras as especulações que cercam as FRBs. "Pelo menos esta fonte contraria o fato de que essas explosões são causadas por eventos cataclísmicos de uma vez, como uma supernova ou a fusão de duas estrelas", disse Victoria Kaspi.
Os investigadores consideram que a sua descoberta "vai particularmente contra os resultados" de um estudo publicado em 24 de fevereiro na Nature, apresentando uma origem cataclísmica não repetida para uma FRB localizada em uma galáxia de 6 bilhões de anos-luz da Terra.
Entrevistado pela AFP, Evan Keane, um dos autores do estudo anterior, estima que a nova publicação é "muito animadora" já que trata-se "do primeiro exemplo de rajadas rápidas de rádio repetidas". Mas ele diz que outras FRBs, estudadas anteriormente, não dão sinais de repetição.
"A aparente contradição entre os resultados dos dois estudos poderia na verdade explicar se existe ao menos dois tipos de fontes na origem das FRBs", pondera Victoria Kaspi.
O estudo de Evan Keane é também contestado por Peter Williams, pesquisador do Centro de Astrofísica de Harvard-Smithsonian que acredita que os pesquisadores chegaram "rápido demais" a suas conclusões sobre a origem da FRB analisada por eles.