O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira (6) um esforço urgente para conter os ataques cibernéticos ao país, após uma reunião com a cúpula da Inteligência americana.
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Trump também rejeitou - mais uma vez - que a pirataria e a divulgação de e-mails de lideranças políticas tenham tido algum efeito no resultado da eleição de 8 de novembro passado. Nessa mesma linha, descartou o envolvimento russo.
Já os representantes da Inteligência presentes no encontro advertiram que Moscou tentará influir no processo eleitoral de outros países.
"Ainda que Rússia, China, outros países, grupos e pessoas tentem, continuamente, invadir a estrutura cibernética das nossas instituições governamentais, empresas e organizações, incluindo o Comitê Nacional Democrata, não houve - absolutamente - qualquer efeito no resultado da eleição, incluindo o fato de que não ocorreu fraude nas máquinas de votação", afirmou o republicano.
Trump divulgou a nota ao fim de uma reunião com os chefes de várias agências de Inteligência, os quais lhe apresentaram detalhes sobre a suposta ingerência da Rússia no processo eleitoral, com a pirataria e a divulgação dos e-mails das lideranças democratas.
"Houve tentativas de piratear o Comitê Nacional do Partido Republicano, mas o RNC (sigla em inglês) tinha fortes defesas cibernéticas e a invasão não teve sucesso", declarou Trump.
Na nota, o presidente eleito disse que houve uma "reunião construtiva" com a cúpula de Inteligência e garantiu ter um "respeito enorme pelo trabalho e pelos serviços oferecidos por essa comunidade à nossa grande nação".
Trump antecipou que montará uma equipe que deverá apresentar em 90 dias um plano para enfrentar as ameaças cibernéticas por parte de governos, ou de grupos estrangeiros.
"Os métodos, ferramentas e táticas que usamos para manter os Estados Unidos protegidos não devem ser alvo de uma discussão pública que beneficiará os que querem nos prejudicar", acrescentou.
Participaram do encontro o diretor de Inteligência Nacional, James Clapper; o chefe da Agência de Segurança Nacional (NSA), Mike Rogers; o diretor do FBI (a Polícia Federal), James Comey; e o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), John Brennan.
'Caça às bruxas'
A reunião aconteceu em um momento de alta tensão entre a comunidade de Inteligência e o futuro presidente, que questionou os relatórios de que Moscou inclinou as eleições a seu favor.
De acordo com Trump, a polêmica sobre a interferência russa nas eleições americanas não passa de uma "caça às bruxas", porque ignora a capacidade de outros atores - como a China - e tem motivações políticas.
"Há relativamente pouco tempo, a China pirateou os nomes de 20 milhões de funcionários do governo", invadindo servidores do Escritório de Administração de Pessoal em 2014 e 2015, lembrou o presidente eleito em entrevista ao New York Times.
"Como é que agora ninguém sequer fala disso? É uma caça às bruxas política", comentou.
Em uma aparente referência aos derrotados nas urnas em novembro, Trump disse ao jornal que "estão muito envergonhados".
"De certa forma, é uma caça às bruxas. Se concentram apenas nisso", alfinetou.
O republicano ressaltou, porém, que não quer "que haja países pirateando o nosso país. Piratearam a Casa Branca. Piratearam o Congresso. Somos a capital mundial da ciberpirataria".
'Muita confiança'
Na quinta-feira (5), perante o Comitê de Serviços Armados do Senado, Clapper disse ter "muita" confiança nas provas coletadas.
"Os russos têm uma longa história de interferência nas eleições, nas suas e nas de outros povos, mas nunca havíamos encontrado uma campanha tão direta para interferir com o processo eleitoral como vimos neste caso", acrescentou.
"Tratou-se de uma campanha multifacetada", na qual os ciberataques foram "apenas uma parte, já que também incluía propaganda clássica, desinformação e notícias falsas", completou Clapper.
Em testemunho apresentado por escrito, Clapper e Rogers, assim como o subsecretário de Defesa para Assuntos de Inteligência, Marcel Lettre, afirmaram que "apenas os mais altos dirigentes russos poderiam ter autorizado" essa operação, durante a qual os hackers roubaram arquivos e e-mails do Partido Democrata.
Estes arquivos foram publicados pelo WikiLeaks, prejudicando a imagem do partido e minando os esforços de campanha de Hillary Clinton.
"A Rússia assumiu claramente uma postura mais agressiva, ao aumentar as operações de ciberespionagem, vazaram os dados roubados nessas operações e atacaram sistemas críticos de infraestrutura", completou Clapper.
Dúvidas de Trump
Trump, que prometeu uma aproximação com o governo do presidente Vladimir Putin depois de sua posse, rejeitou repetidamente essas afirmações.
No Twitter, o magnata republicano zombou dos erros anteriores de Inteligência da CIA, do FBI e de outras agências, e desafiou seus chefes a provar que os ciberataques e os vazamentos são provenientes do governo de Putin.
Na noite de ontem, Trump voltou a perguntar "como e por que eles estão tão certos sobre o ciberataque", afirmando que o Comitê Nacional Democrata impediu o FBI de ter acesso aos seus servidores.
O site BuzzFeed News afirmou que, de fato, o FBI nunca pediu para examiná-los.
Um funcionário familiarizado com o relatório confirmou à rede CNN que os intermediários que entregaram os e-mails roubados pela Rússia ao WikiLeaks foram identificados.
Além disso, as agências de Inteligência americanas interceptaram comunicações de funcionários russos de alto escalão que diziam ter celebrado a vitória de Trump como uma vitória para Moscou, segundo o jornal The Washington Post.
Uma versão "desclassificada" do relatório apresentado ao presidente - com detalhes sensíveis apagados - será publicada na próxima semana.
"Acredito que o público deva saber tudo o que for possível", defendeu Clapper.