O estudante canadense Alexandre Bissonnette, de 27 anos, de ideias nacionalistas, foi acusado nesta segunda-feira (30) de ser o autor do atentado a tiros que deixou seis mortos no domingo (29) à noite em uma mesquita de Québec.
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Esse foi um dos piores ataques contra a comunidade muçulmana cometido em um país ocidental.
Estudante de Ciência Política da Universidade Laval, que fica ao lado da mesquita, Bissonnette foi detido pouco depois do atentado, que também deixou oito pessoas feridas. Cinco delas se encontram em estado grave.
"Com dor e ira, ficamos sabemos da identidade do terrorista - Alexandre Bissonnette -, infelizmente conhecido por vários militantes em Québec por suas posições nacionalistas, favoráveis (à líder da ultradireita francesa Marine) Le Pen e antifeministas na Universidade Laval e nas redes sociais", afirmou no Facebook o coletivo "Bem-vindos refugiados. Cidade de Québec".
Segundo capturas de tela feitas antes de que seu perfil no Facebook fosse apagado, Bissonnette saudou na rede social o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O suspeito foi apresentado a um juiz nesta segunda-feira, acusado de homicídio doloso de seis pessoas e tentativa de homicídio de outras cinco.
Uma nova audiência está prevista para 21 de fevereiro, quando a Promotoria apresentará formalmente as acusações contra Bissonnette.
"As investigações estão em andamento e esperamos obter as provas" que levarão a acusações de "terrorismo", indicou a Polícia.
Outro estudante, o canadense de origem marroquina Mohamed Belkhadir, inicialmente também suspeito do ataque e detido quando saía da mesquita pouco depois do atentado, foi finalmente liberado pela Polícia.
Bissonnette telefonou para as autoridades para admitir sua participação no crime, informou o inspetor de Québec Denis Turcotte.
Khadri foi ouvido como testemunha e, então, liberado. Hoje, a Polícia anunciou que apenas Bissonnette era considerado suspeito.
"A Polícia de Québec (SQ) confirma que um dos indivíduos presos na noite passada em conexão com o atentado de Québec é considerado suspeito", de acordo com a corporação.
"Após a investigação, o outro indivíduo está sendo tratado como uma testemunha", declarou a SQ em sua conta no Twitter.
A Polícia e testemunhas haviam indicado inicialmente que dois homens mascarados abriram fogo dentro da mesquita no momento da oração.
O criminoso invadiu às 19H30 (22H30 de Brasília) o centro cultural islâmico de Quebec, que tinha quase 50 pessoas ao fim da última oração do dia.
"Condenamos esse ataque terrorista contra os muçulmanos em um centro de culto e refúgio", afirmou o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, em um comunicado.
As vítimas fatais tinham entre 35 e 70 anos e eram todas canadenses com dupla nacionalidade, indicou o vice-presidente do Centro Cultural Islâmico de Québec, Mohamed Labidi.
"Há dois marroquinos, um ou dois argelinos, um tunisiano e possivelmente duas pessoas da África Subsaariana", acrescentou Labidi.
Horror e incredulidade no Canadá
Este foi o primeiro ataque com essas características contra uma mesquita no Canadá, onde a população muçulmana tem 1,1 milhão de pessoas, de acordo com números oficiais.
"Como outros lugares no mundo, Québec foi atacada pelo terrorismo. Enfrentaremos juntos, com coragem e solidariedade", afirmou o chefe de Governo da província de língua francesa, Philippe Couillard.
A mesquita de Québec já havia sido alvo de um ataque no ano passado, quando uma cabeça de porco foi deixada diante de uma de suas portas.
"A diversidade é nossa força e, como canadenses, a tolerância religiosa é um valor que valorizamos", disse o primeiro-ministro.
"Os muçulmanos canadenses são parte importante do nosso tecido nacional. Esses atos sem sentido não têm espaço em nossas comunidades, cidade e país", completou.
O ataque aconteceu um dia depois de Trudeau ter anunciado uma mensagem de unidade, ao prometer receber refugiados "independentemente de sua fé", estabelecendo uma diferença em relação ao presidente americano, Donald Trump, que assinou um decreto para proibir a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países muçulmanos.
O prefeito de Québec declarou que "Québec está de luto, essa magnífica cidade vive um drama indescritível".
As testemunhas não conseguiam entender o que aconteceu na cidade.
"Não entendo por quê aqui, é uma mesquita pequena", disse um homem que estava dentro do centro cultural islâmico no momento do ataque.
"Não é Montreal, ou Toronto", afirmou.
O presidente francês, François Hollande, condenou com "firmeza" o que chamou de "odioso atentado" na mesquita de Québec.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, afirmou que a UE "está ao lado do Canadá e de todos os canadenses neste dia tão triste".
O país registrou alguns atentados nos últimos anos, mas nenhum dessa envergadura.
Em outubro de 2014, dois jovens extremistas cometeram dois ataques e, em agosto de 2016, a Polícia matou um homem de 24 anos que jurou lealdade ao grupo Estado Islâmico momentos antes de tentar executar um atentado suicida.