O grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou nesta sexta-feira (24) o ataque suicida que matou mais de 50 pessoas, a maioria civis, perto da cidade síria de Al-Bab.
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Poucas horas antes, os rebeldes e as tropas turcas haviam retomado a cidade das mãos dos extremistas.
Em um comunicado publicado na Internet, o grupo disse que um suicida "conduziu seu carro-bomba até uma concentração de soldados turcos e rebeldes" em Susian, um povoado a oito quilômetros de Al-Bab.
Ao menos 51 pessoas morreram na explosão na Síria, a maioria civis
Ao menos 51 pessoas morreram na explosão, a maioria civis, segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
O carro explodiu às 8h (3h, no horário de Brasília) em frente a dois centros de comando rebelde em Susian, ferindo vários combatentes também, indicou a ONG.
"Os 'cães' de [Abu Bakr] al-Baghdadi [chefe do EI] não puderam suportar esta grande perda e seus suicidas começaram sua vingança" pela tomada de Al-Bab, disse à AFP o comandante das Brigadas Mutasem, Abu Jaafar.
Jaafar explicou que os combatentes rebeldes, os soldados turcos e vários civis de Al-Bab estavam reunidos em Susian "para organizar o aparato de segurança e realizar um plano para reconstruir" a cidade.
"A informação chegou às mãos das células adormecidas [do EI] que prepararam o carro-bomba", acrescentou, explicando que os hospitais próximos estavam cheios de feridos pelo ataque.
Dois soldados turcos morreram nesta sexta-feira em Al-Bab em um atentado suicida separado, anunciou o primeiro-ministro Binali Yildrim.
A estratégica cidade de Al-Bab, 25 km ao sul da fronteira com a Turquia, era o último reduto dos extremistas do EI na província síria de Aleppo.
Cadáveres nas ruas
Um jornalista da AFP que foi a Al-Bab viu gatos abandonados rondado pelas ruas bombardeadas, farejando os corpos dos que poderiam ser combatentes do EI. No principal mercado, as portas das lojas estavam arrebentadas e havia caixas de comida e de remédios jogadas pelo chão.
Enquanto isso, no sul da cidade, equipes de resgate e escavadeiras continuavam tirando corpos dos escombros, com muito cuidado para não detonar as minas deixadas pelo EI.
Em agosto passado, a Turquia decidiu enviar tropas para a Síria, em uma operação para lutar contra os extremistas, mas também contra os combatentes curdos apoiados pelos Estados Unidos.
Graças ao apoio turco, os rebeldes sírios puderam lançar a ofensiva que permitiu recuperar Al-Bab. Essa operação é a mais sangrenta até agora para o Exército turco, que já perdeu 71 soldados na Síria.
O Exército turco assegurou nesta sexta-feira em um comunicado que os rebeldes que têm seu apoio "controlam todos os bairros de Al-Bab".
Paralelamente, nas últimas semanas, o Exército do governo de Bashar al-Assad se aproximou até 1,5 km da cidade.
A batalha contra o Estado Islâmico em Al-Bab se intensificou na última quarta-feira (22) com disparos de morteiros e artilharia, em particular no distrito rebelde de Rashideen, segundo o OSDH. O governo respondeu com ataques aéreos em massa que deixaram 32 rebeldes mortos na quinta-feira (23).
Instaurado em dezembro entre as forças de Assad e os rebeldes não extremistas, o cessar-fogo na Síria reduziu consideravelmente a violência no país. A trégua foi apoiada por Rússia e Turquia.
As áreas da Síria nas mãos do EI e de outro grupo extremista rival (a frente Fatah al-Sham, ex-braço da Al-Qaeda) não estão incluídas na trégua.
O comandante das operações militares no Oriente Médio, o general americano Joseph Votel, fez nesta sexta-feira uma visita não anunciada ao norte da Síria para se reunir com responsáveis das Forças Democráticas Sírias, informou essa aliança rebelde.
Na frente diplomática, foi aberta na quinta-feira, em Genebra, uma nova rodada de negociações de paz entre governo e oposição, a quarta, para tentar buscar uma saída para a guerra que desde 2011 já deixou mais de 310.000 mortos.
Entretanto, o enviado especial da ONU, Staffan de Mistura, advertiu que "não devem esperar milagres".
Hoje, a Rússia anunciou que usará seu direito a veto para bloquear um projeto de resolução da ONU que impõe sanções à Síria pelo uso de armas químicas.