Inspirados pelo aroma do papel antigo, cientistas estão documentando os cheiros evocativos de uma velha mansão britânica, a fim de preservá-los para a posteridade. A equipe está trabalhando na Casa Knole, no sudeste da Inglaterra, capturando o cheiro de livros, luvas usadas por aristocratas, discos de vinil e ceras para o chão.
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Além de testar os objetos para tentar recriar seu cheiro no laboratório, os cientistas confiaram nos registros escritos desta casa, onde a romancista Vita Sackville-West nasceu e passou a infância. "Os cheiros nos ajudam a conectar com a História de uma maneira mais humana", disse Cecilia Bembibre, doutoranda na Universidade College de Londres, que participou do projeto junto com o químico analista Matija Strlic. O projeto tem como objetivo identificar cheiros com "valor cultural", assim como "formas de documentá-los e, com sorte, conservá-los", disse Bembibre à AFP.
Strlic explicou que trabalhar na mansão foi crucial, porque os objetos estavam em seu "hábitat natural". "Em um museu, ou galeria, estariam fora de contexto", acrescentou. Strlic e Bembibre publicaram, nesta sexta-feira (7), um artigo na revista acadêmica Heritage Science, que incluiu uma pesquisa sobre o cheiro de papel feita com visitantes de vários lugares, entre eles a biblioteca da catedral londrina de St. Paul.
Descrição
Os entrevistados usaram termos como "úmido", "mofado" e "doce" para descrever o cheiro dos livros. Strlic teve a ideia de fazer este estudo quando descobriu, há uma década, que os conservadores de papel detectam se os livros estão se degradando pelo seu cheiro.
Após anos de pesquisas, ele afirma que é capaz de identificar, simplesmente pelo cheiro, "onde um papel foi feito, quando e seu nível de degradação". Entre outras finalidades, o cientista espera que suas pesquisas sirvam para detectar sinais de deterioração nas bibliotecas, mas também para a criação de arquivos históricos olfativos, principalmente para os cheiros que correm o risco de desaparecer.