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Conheça o círculo vicioso dos erradicadores de coca na Colômbia

Em 2015, a Colômbia se firmou como principal cultivador mundial da matéria-prima da cocaína

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Publicado em 10/04/2017 às 20:10
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Em 2015, a Colômbia se firmou como principal cultivador mundial da matéria-prima da cocaína - FOTO: Foto: DANIELA QUINTERO / AFP
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Os erradicadores de coca em Nariño, no departamento com mais cultivos ilícitos da Colômbia, estão em um círculo vicioso: nem terminaram seu trabalho, e os camponeses já estão plantando novos pés, matéria-prima de um pó branco que custa milhares de dólares. "Um vai arrancando [a coca] e atrás os camponeses vão semeando", diz à AFP Iván Hidalgo, auxiliar de polícia de 19 anos que, com o rosto suado e com sua arma no ombro, completa dois meses erradicando semeadouros na quente localidade de Llorente, no município de Tumaco, onde há mais plantios deste tipo no país.

Localizado no sudoeste colombiano, próximo ao Equador, Nariño tem 29.755 hectares de coca e Tumaco 16.960, segundo cifras da ONU de 2015, ano em que a Colômbia se firmou com 96.000 hectares como principal cultivador mundial desta folha, matéria-prima da cocaína. "Há muita coca", aponta o auxiliar policial Pablo Riveros, que arranca os pés com suas próprias mãos.

Apesar de as autoridades terem erradicado manualmente 200 hectares e destruído outros 422 hectares com aspersão terrestre de glifosato desde janeiro, em Nariño os esforços não bastam: as montanhas são dominadas pela cor esmeralda da folha de coca, plantação que dá quatro colheitas anuais.

"A comunidade sempre vai estar ali esperando que não cheguem para erradicar os cultivos, então sempre vai ser um impedimento para o nosso trabalho", sustentou o patrulheiro Elvins Caldon, que erradica com glifosato.

Nas últimas semanas houve na área bloqueios das ruas e enfrentamentos dos "cocaleros" com as autoridades, que deixaram um morto e pelo menos quatro feridos.

Sustento digno

"Buscamos um sustento digno para nossos filhos", afirmou em um comunicado a Coordenadora Nacional de Cultivadores de Coca, Amapola e Maconha (COCCAM), que reúne os camponeses. Eles denunciam incumprimentos do governo em planos de substituição de cultivos ilícitos, mas as autoridades sustentam que as manifestações respondem a pressões de traficantes, donos de 3.000 hectares no setor, que lhes alugam imóveis e compram a colheita.

"As famílias cultivadoras por décadas tiveram que percorrer a semeadura de cultivos de coca, amapola e maconha, não por quererem, mas por serem forçadas pelo abandono estatal sofrido em seus territórios. Não somos narcotraficantes", assinalou a COCCAM, queixando-se de que as autoridades destroem a colheita. A ganância dos camponeses é ínfima comparada com a dos outros elos da cadeia: o preço médio de um quilo de folha de coca em seu local de produção é de cerca de um dólar, enquanto um quilo de cocaína vale 1.650 dólares, segundo o último relatório da ONU.

O general José Ángel Mendoza, diretor da Polícia Antinarcóticos, assegurou que a erradicação não prejudica "nenhum camponês". "Estamos afetando o traficante, o crime organizado", apontou. No departamento operam grupos criminosos e dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Agora, o ELN

Mendoza reconheceu que com a saída das Farc da zona de agrupamento em 26 territórios do país, onde deverão deixar as armas no fim de maio, organizações criminosas buscam se apoderar do negócio, entre elas o Exército de Libertação Nacional (ELN), única guerrilha ativa e que negocia a paz. "Há locais onde nunca havíamos visto o ELN e já dizem por aqui que já estão chegando", assinalou o auxiliar Riveros.

Além das pressões das comunidades, os erradicadores enfrentam um desafio a mais: desativar minas antipessoais instaladas por grupos armados para proteger os cultivos.

A Colômbia, que vive um conflito armado de meio século, é o segundo país do mundo mais atingido por estes explosivos, atrás apenas do Afeganistão, muitos deles de fabricação artesanal e que deixaram 11.500 vítimas, incluindo 2.000 mortos. Em cada equipe de erradicadores, composta por 14 homens, há dois encarregados de verificar que o campo esteja limpo. Para isso, usam um detector de metais e um cão adestrado. "É um trabalho duro, mas [é] por uma paz com zero violência", afirmou Santiago Álvarez, outro erradicador, enquanto arrancava pés de coca a poucos metros dos camponeses.

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