Depois da morte de dois jovens, os protestos na Venezuela arrefeceram nesta terça-feira (11), aniversário de um breve golpe contra Hugo Chávez em 2002, enquanto a oposição prepara o que anuncia como a maior manifestação contra o governo de Nicolás Maduro, no próximo dia 19.
O estudante Daniel Queliz, de 19 anos, morreu na madrugada desta terça vítima de um disparo, quando policiais dispersavam um protesto na cidade de Valencia (norte), informou a Procuradoria.
É a segunda vítima fatal deixada pelas manifestações, que tiveram seu epicentro em Caracas. Na última quinta-feira (6), quando a polícia desbloqueava uma via nos arredores da capital, outro jovem, também de 19 anos, já havia morrido. Segundo o governo, ele não participava do protesto.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, disse que "não podemos admitir as vidas venezuelanas que o regime está disposto a sacrificar para se perpetuar no poder".
"Não podemos admitir que a Guarda Nacional Bolivariana e as demais forças de segurança do Estado continuem com a repressão seguindo instintos criminosos".
Caracas teve um dia calmo nesta terça, depois das mobilizações da véspera, que levaram a violentos confrontos entre policiais e manifestantes pela quinta vez desde o início de abril. Enquanto os agentes usavam gás lacrimogêneo e balas de borracha, a multidão respondia com pedras e garrafas.
Mas com a chegada da noite, foram retomados os protestos em diversos bairros do subúrbio de Caracas, como no gigantesco Petare, onde as ruas foram bloqueadas por lixo queimado.
Escombros, lixo queimado e postes de luz derrubados também bloquearam algumas ruas mais cedo. A Defensoria do Povo denunciou ataques a seus escritórios em seis cidades, mas não informou quando aconteceram.
"Denuncio, perante a opinião pública, que tenham sido atacados por grupos violentos" os escritórios da Defensoria em Caracas e em outras cinco cidades do interior, tuitou o defensor do povo Tarek William Saab.
Hoje, a oposição recebeu líderes estudantis e sindicais, além de representantes de organizações não governamentais, para definir seu apoio ao protesto da próxima terça (18).
"A luta se dá em todas as frentes. Vamos continuar na rua", disse à imprensa o presidente do Legislativo, Julio Borges.
O deputado culpou o governo pelos confrontos, que também deixaram dezenas de feridos e levaram a pelo menos 134 detenções, segundo ONGs e autoridades.
"Toda a violência está sendo gerada, porque não deixam o povo se expressar por meio das eleições", assegurou Borges.
Mais cedo, acompanhado de outros deputados, ele procurou o comando da Guarda Nacional para entregar um documento que pede "o fim da repressão".
"O papel da Força Armada neste momento é ajudar a ter eleições na Venezuela", disse Borges a um militar que o recebeu na rua, sem entrar no prédio.
Maduro como alvo
A oposição prepara uma manifestação para 19 de abril, feriado nacional. Será "a mãe de todas as marchas", adverte o vice-presidente del Parlamento, Freddy Guevara. Neste mesmo dia, está previsto um protesto chavista no centro de Caracas.
Nesta terça-feira, os seguidores de Hugo Cháves relembraram 15 anos do golpe de Estado que depôs brevemente o falecido presidente (1954-2013).
Maduro participou de um desfile militar em San Félix, no estado de Bolívar, de onde saiu sob uma chuva de ovos e pedras atirados pela multidão.
O presidente partia a bordo de um jeep militar do aeroporto de San Félix quando imagens da rede nacional de TV mostraram sua segurança tentando evitar que fosse atingido por uma enxurrada de objetos atirados por populares.
O deputado opositor Tomás Guanipa afirmou que "há vários detidos" em decorrência do incidente, e as redes sociais falam em cinco manifestantes presos, mas as autoridades não confirmaram as informações.
Em Caracas, milhares de chavistas se reuniram em Puente Llaguno, próximo ao Palácio presidencial de Miraflores, para evocar o dia em que Chávez deixou o poder após uma gigantesca manifestação da oposição. O episódio terminou com a morte de 19 pessoas.
Chávez foi restituído à Presidência dois dias depois por militares leais a ele.
'Desgaste'
Para analistas consultados pela AFP, tanto o chavismo quanto a oposição apostam "no desgaste" da outra parte.
"Nenhum grupo quer dar seu braço a torcer (...). O governo reprime, à espera de que os manifestantes se cansem, e a oposição seguirá adiante. Trata-se de quem resiste mais", explicou o cientista político Ricardo Sucre.
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Os opositores foram às ruas em rejeição às sentenças, por meio das quais o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) assumiu as funções do Parlamento e retirou a imunidade dos congressistas. Essas sentenças foram parcialmente anuladas após fortes críticas da comunidade internacional.
Os manifestantes também exigem a realização das adiadas eleições para os governos municipais e estaduais, assim como garantias de que haverá eleição à Presidência em 2018, como determina a lei.
Algumas lideranças exigem eleições gerais imediatas, o que já foi descartado por Maduro.
A oposição reivindica ainda o fim da recente sanção que impede o ex-candidato à Presidência Henrique Capriles de exercer cargos públicos pelos próximos 15 anos, por acusações de irregularidades administrativas como governador de Miranda.
Nesta terça, o advogado de Capriles, Rafael Chavero, denunciou que o objetivo do governo é tirar seu cliente da disputa presidencial.