Referendo

União Europeia quer investigação sobre referendo na Turquia

Principal partido de oposição da Turquia faz petição de anular votação que ampliou poderes do presidente

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Publicado em 18/04/2017 às 20:59
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Principal partido de oposição da Turquia faz petição de anular votação que ampliou poderes do presidente - FOTO: Foto: AFP
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O principal partido de oposição na Turquia apresenta nesta terça-feira (18) uma petição de anulação do referendo sobre a ampliação dos poderes do presidente Recep Tayyip Erdogan, a quem a UE pediu que ordene uma "investigação transparente".

Diferentemente dos presidentes americano, Donald Trump, e russo, Vladimir Putin, que felicitaram Erdogan por sua "vitória" em uma conversa telefônica na noite de segunda-feira, Bruxelas convocou a Turquia a realizar uma "investigação transparente sobre as supostas irregularidades" cometidas neste referendo constitucional.

O campo do "sim" ganhou por estreita margem na consulta de domingo (16), com 51,4% dos votos, de acordo com um balanço não oficial da imprensa. Dois importantes partidos da oposição denunciaram fraudes em massa, porém, enquanto observadores estrangeiros expressaram reservas sobre o processo eleitoral.

O vice-presidente do principal partido de oposição no país, o socialdemocrata CHP, pediu ao Alto Conselho Eleitoral (YSK) formalmente, nesta terça-feira, a anulação do resultado da consulta, após denunciar "manipulações" na votação.

As suspeitas de fraude são fruto da decisão do YSK de considerar como válidos os votos que não levavam o selo oficial das autoridades eleitorais. A oposição viu isso como uma manobra para possibilitar as fraudes.

"Essa foi uma votação sem legitimidade", declarou Tezcan.

Pouco depois do anúncio do CHP, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, rejeitou essas críticas "vãs" e declarou que "todo mundo, começando pelo principal partido da oposição, deve respeitar (...) a palavra da nação".

"A vontade da nação se (expressou) livremente nas urnas, o assunto está resolvido", acrescentou.

A revisão constitucional autorizada por referendo representa a maior mudança do sistema de governo na Turquia desde a fundação da república por Mustafá Kemal, em 1923.

Hoje, centenas de pessoas marcharam nos bairros de Besiktas e Kadiköy em Istambul para protestar contra o resultado da consulta, informou um fotógrafo da AFP.

Um grupo de mulheres mostrou sua insatisfação em Kadiköy, batendo panelas.

UE pede moderação

O YSK "mudou as regras no meio do processo (...) Isso é algo que não pode ser perdoado", condenou o chefe do CHP, Kemal Kilicdaroglu, em uma entrevista publicada nesta terça-feira pelo jornal "Hürriyet".

Já uma missão conjunta de observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) e do Conselho da Europa considerou na segunda-feira (17) que a campanha foi realizada em condições não equitativas, e que a votação não esteve "à altura dos critérios" europeus.

"Pedimos (...) às autoridades que abram uma investigação transparente sobre as supostas irregularidades constatadas pelos observadores" internacionais, declarou nesta terça-feira a porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, que pediu moderação.

As críticas do exterior irritaram Erdogan, que respondeu imediatamente, pedindo aos observadores europeus que "se mantenham em seus lugares".

"Não vemos e não levamos em conta qualquer relatório que vocês possam preparar", acrescentou.

Erdogan também reiterou que promulgará o restabelecimento da pena de morte, se o Parlamento votar neste sentido. Além disso, declarou-se disposto a convocar outro referendo sobre esse tema.

Isso acabaria com o processo de adesão da Turquia à UE, que já está no limbo há vários anos.

Em entrevista para o canal de notícias CNN, Erdogan rejeitou as acusações daqueles que afirmam que a Turquia está se dirigindo para uma ditadura e negou que o novo sistema de governo esteja feito sob medida para ele.

"Este não é um sistema que pertença a Tayyip Erdogan. Sou um mortal. Posso morrer a qualquer momento", declarou.

Governar por decreto

Com sua vitória, Erdogan - que superou em 15 de julho uma tentativa de golpe de Estado - pode teoricamente permanecer como chefe de Estado até 2029. Já foi primeiro-ministro entre 2003 e 2014, antes de ser eleito presidente.

Essa reforma prevê a transferência do poder Executivo ao presidente, que poderá governar por decreto, e a supressão do cargo de primeiro-ministro.

O jornal "Hürriyet" informou nesta terça-feira que é possível uma grande remodelação governamental, e que não estão excluídas eleições antecipadas a partir da primavera de 2018.

Finalmente, o governo turco decidiu na segunda-feira à noite prorrogar por três meses o estado de emergência em vigor desde o golpe de Estado fracassado em julho passado.

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