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Conheça os eleitores da extrema-direita na França

Extrema-direita representada por Marine Le Pen têm votos nas aldeias

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Publicado em 04/05/2017 às 17:00
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PUGET-THÉNIERS, França ­- "Eles nos marginalizaram por mais de 40 anos". A aldeia de Puget-Théniers é um claro exemplo da onda de indignação nas áreas rurais da França, que resultaram em um voto de confiança na extrema-direita.
A meio caminho entre as montanhas e o Mediterrâneo, este povoado meridional foi contundente no primeiro turno das eleições presidenciais de 23 de abril: 37% dos 1.300 votantes apoiaram a líder do ultra-direitista Frente Nacional, Marine Le Pen, e 18% à esquerdista Jean-Luc Mélenchon. Outros candidatos "antissistema" somaram 10%.

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A aldeia de Puget-Théniers é um claro exemplo da onda de indignação nas áreas rurais da França - AFP / Yann COATSALIOU
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"Nos esmagaram durante mais de 40 anos", assegura um aposentado - AFP / Yann COATSALIOU
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A meio caminho entre as montanhas e o Mediterrâneo, este povoado ao sul deu 37% dos votos a Le Pen - AFP / Yann COATSALIOU
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A nostalgia é palpável. "Agora há mais gente que tem lavadoras, mas vivemos melhor?", - AFP / Yann COATSALIOU
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Poucos no povoado acreditam que Macron - ex-ministro de Hollande - possa trazer solução - AFP / Yann COATSALIOU
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As granjas estão desaparecendo, assim como as lojas locais e os empregos - AFP / Yann COATSALIOU
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"Devemos olhar para trás para ver o que funcionou no passado", diz o prefeito - AFP / Yann COATSALIOU
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Jacques Briet, 57 anos, posa em frente aos cartazes dos dois candidatos a presidente da França - AFP / Yann COATSALIOU

"Estamos fartos de nossos líderes que favorecem os grupos financeiros, as seguradoras, os banqueiros", afirma Leo Vellutini, de 56 anos, enquanto bebe algo com amigos em um bar da praça. Ninguém na sua mesa tem algo de bom para falar da política francesa. E todos votarão em Le Pen no segundo turno de domingo, frente ao centrista pró-Europa Emmanuel Macron.
"Nos esmagaram durante mais de 40 anos", assegura um aposentado, de aproximadamente 70 anos. "Como en todas as zonas rurais da França, a aldeia vai mal", admite o prefeito, Robert Velay.

Nostalgia

As granjas estão desaparecendo, assim como as lojas locais e os empregos. Os moradores dirigem até grandes ou se conectam à internet para fazer suas compras. A nostalgia é palpável. "Agora há mais gente que tem lavadoras, mas vivemos melhor?", pergunta o prefeito. "Devemos olhar para trás para ver o que funcionou no passado", acrescentou.

Nessas eleições, o desencanto generalizado nas zonas rurais tem impulsionado mais que nunca o Frente Nacional. Os candidatos dos dois partidos tradicionais, o conservador François Fillon e o socialista Benoît Hamon, foram eliminados no primeiro turno.
Poucos no povoado acreditam que Macron - ex-ministro da Economia do presidente François Hollande - poderá trazer uma solução. O seu quartel-general em Paris, cheio de jovens de vinte e poucos anos indo de tênis aos encontros de campanha com seus laptops, parece estar a anos luz das pacatas ruas de pedras de Puget-Théniers.

Não há dúvida de que a mensagem de Le Pen ao "povo esquecido", ultrapassado pelas grandes mudanças econômicas e tecnológicas, encontra nessa cidade um terreno fértil. "Os seguidores de Le Pen querem outro tipo de França, uma França do passado", avalia Sylvie Poitte, uma vizinha de 70 anos que administra vários salões de beleza. Ela admite que a vida era melhor quando chegou ali com seus três filhos nos anos de 1980. "Se chegasse agora, não ficaria".

O filão histórico

Le Pen e o Frente Nacional, partido fundado em 1972, sempre contaram com o apoio forte no sul da França. Um mapa do demógrafo francês Hervé Le Bras evidencia até que ponto seus bastiões no sul do país e mais recentemente no nordeste coincidem com focos de desemprego, pobreza e um nível de educação baixo.

Há uma exceção para essa correlação: as zonas populares das grandes cidades não votam em geral em Le Pen, algo que Le Bras atribui ao fato de estarem "em contato com o mundo". O FN explora também o filão histórico, ao defender os chamados "pieds noirs", os brancos instalados na Argélia antes da independência da ex-colônia da França em 1962, e que se viram obrigados a retornar à metrópole.

Ondas de migrantes árabes os seguiram para trabalhar nas fábricas francesas. Jean-Yves Camus, especialista em extrema-direita, afirma que ao viver junto com aqueles que culpavam por sua desgraça, entre os "pieds noirs", gerou o ressentimento.
Outros, como o sociólogo Jean Viard, afirma que os nativos do sul viram sua identidade perigar com as chegadas do norte da França e com uma explosão do turismo. Mas nem a imigração nem a insegurança, dois temas centrais da campanha de Le Pen, parecem ser problemas para os habitantes de Puget-Theniers.

Muita gente vive com as portas de suas casas abertas, embora o prefeito Velay lembre que vários jovens foram para "a cidade" e acabaram sendo atacados por "magrebes". Martine Tescher, à frente de uma galeria de arte da aldeia, atribui o voto no Frente Nacional ao medo, após uma onda de ataques islamitas registrados na França.
"Quando ligamos a televisão, nunca há nada de positivo. Isso mantém as pessoas em um clima de terror", assegura.

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