CRISE

Governo da Venezuela e oposição se radicalizam diante de protestos

Em seis semanas de protestos, 38 pessoas morreram na Venzuela

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Publicado em 11/05/2017 às 19:26
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Em seis semanas de protestos, 38 pessoas morreram na Venzuela - FOTO: Foto: AFP
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Vestidos de preto, com uma enorme bandeira venezuelana e flores, opositores marcharam novamente nesta quinta-feira (11) em Caracas contra o presidente Nicolás Maduro, em um clima de radicalização dos protestos que deixam 38 mortos em seis semanas.

"Chega de violência, nenhum morto a mais", dizia um cartaz carregado por uma jovem na manifestação realizada depois da morte, na quarta-feira (10), de Miguel Castillo, de 27 anos, que recebeu um disparo em uma marcha de milhares de opositores que terminou em fortes confrontos com as forças de segurança.

O governo e a oposição se responsabilizaram por esta e pelas demais mortes, em um conflito que tende a ser cada vez mais violento e que complica ainda mais a situação deste país afundado em uma crise econômica.

"Estão nos matando, mas não vamos nos cansar, vamos continuar nas ruas até que o governo caia, embora a repressão seja pior", afirmou Carlos Briceño, estudante da universidade onde se graduou o jovem falecido.

O governo, por sua vez, prosseguiu nesta quinta-feira suas reuniões com diversos setores que impulsionam uma Assembleia Nacional Constituinte, convocada na semana passada por Maduro para "alcançar a paz" e "derrotar os violentos".

Desde 1º de abril há manifestações que exigem a saída do presidente, e a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) assegura que não pararão até conseguir eleições gerais.

"A Venezuela necessita de estabilidade, um novo governo, porque este não tem nada a oferecer ao povo venezuelano, exceto isso que estamos vendo: morte", assegurou o líder opositor Henrique Capriles na marcha que culminou no local onde Castillo morreu, em Las Mercedes, no leste de Caracas.

 "Criptonita e ouro em pó"

Para sexta-feira (12) a MUD prepara outra marcha, desta vez liderada pelos "avós", com a meta de chegar à Defensoria Pública, a qual acusa de servir ao governo.

Mas até agora, depois de seis semanas de protestos, as forças de segurança não deixaram que os opositores chegassem ao centro, onde está o palácio presidencial de Miraflores e os poderes públicos, levando a batalhas campais com os manifestantes no leste e oeste da cidade.

"A morte deste jovem dói como se fosse filho de um parente. Estes protestos são necessários porque o país está muito mal, mas não sabemos onde vai chegar. Estamos como em uma guerra", disse à AFP Caroline Orie, estilista de 37 anos que foi para a porta do cabeleireiro para ver a manifestação.

O analista Luis Vicente León considera difícil que as manifestações acabem completamente, pois têm como caldo de cultivo a crise econômica, com a severa escassez de alimentos e remédios e uma inflação considerada a mais alta do mundo.

Como reflexo da crise, segundo cifras oficiais divulgadas esta semana, a mortalidade infantil aumentou 30,12% no ano passado em relação a 2015, enquanto a das mães disparou para 65%.

Para León, o grande desafio da oposição é garantir que as manifestações sejam "pacíficas": "o protesto pacífico é criptonita para o governo. A manifestação violenta é ouro em pó para ele", opinou.

Cada vez é mais forte o choque entre os policiais que lançam bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água, e os manifestantes encapuzados que se protegem com escudos de madeira e metal, e respondem com pedras, coquetéis molotov, bombas de pintura e até excrementos.

Na Praça Altamira, reduto opositor, um grupo de jovens recolhia dinheiro nesta quinta-feira em recipientes plásticos, de motoristas a pedestres que nem sequer perguntavam pelo destino de sua doação.

Cenário internacional

O governo venezuelano acusou nesta quinta-feira os Estados Unidos de financiar e dar "apoio logístico" aos "grupos violentos" da oposição, que "facilitaram uma insurgência armada".

A chancelaria venezuelana sustentou que a "violência extrema e o vandalismo" das últimas semanas também se deve a decisões "intervencionistas" da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Ao tomar conhecimento do falecimento de Castillo, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, condenou "a brutal repressão" e assegurou que o julgamento de civis em tribunais militares é próprio de uma "ditadura".

Pelo menos 70 civis estão sendo julgados por esses tribunais, o que a oposição atribuiu a uma tentativa de desestimular as manifestações.

"O governo impopular e autocrático da Venezuela optará por métodos mais repressivos para conter os opositores e o descontentamento nas ruas", declarou o diretor da Inteligência Nacional americana, Dan Coats.

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