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Trump ataca críticos da demissão do chefe do FBI

A decisão de Trump de demitir Comey provocou um terremoto político e deflagrou comparações com o escândalo Watergate, que levou à renúncia de Nixon

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Publicado em 11/05/2017 às 6:03
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A decisão de Trump de demitir Comey provocou um terremoto político e deflagrou comparações com o escândalo Watergate, que levou à renúncia de Nixon - FOTO: Foto: MANDEL NGAN / AFP
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O presidente Donald Trump rebateu as críticas recebidas, nesta quarta-feira (10), por ter demitido o diretor do FBI, James Comey, enquanto os democratas insistiam em pedir uma investigação independente sobre as denúncias de ingerência russa na última eleição presidencial dos Estados Unidos.

A decisão de Trump de demitir Comey na terça-feira provocou um terremoto político e deflagrou comparações imediatas com o caso do escândalo Watergate, que levou à renúncia de Richard Nixon em 1974.

Questionado brevemente pela imprensa no Salão Oval nesta quarta pela manhã, Trump disse que Comey "não fazia um bom trabalho. É muito simples, não fazia um bom trabalho".

No Twitter, Trump insistiu em que "Comey perdeu a confiança de quase todo mundo em Washington, tanto de republicanos quanto de democratas. Quando as coisas se acalmarem, vão me agradecer".

Apelos da oposição

A Casa Branca rejeitou enfaticamente nesta quarta os apelos da oposição para que se aponte um procurador especial para investigar as suspeitas de laços entre membros da equipe do presidente Donald Trump e Moscou.

"Não pensamos que isso seja necessário", disse Sarah Huckabee Sanders, porta-voz de Trump, ao ser consultada pelos jornalistas.

"Não há evidência de conluio entre a campanha de Trump e a Rússia", desconversou a porta-voz.

Por ironia do destino, um dia após demitir Comey, o presidente americano recebeu na Casa Branca o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, que não visitava Washington desde 2013. A reunião foi qualificada por Trump como "muito boa" e antecipa a que deve ter com seu colega Vladimir Putin, em julho, na Alemanha.

"O presidente Trump manifestou seu interesse em colocar em vigor as relações de trabalho pragmáticas e mutuamente benéficas" com a Rússia, declarou Lavrov, que tachou de "invenção" as alegações de ingerência russa na eleição americana.

- Desculpas risíveis -
Em uma série de sete tuítes, Trump multiplicou os ataques a seus críticos, entre eles o senador democrata Richard Blumenthal, que falou com as emissoras de televisão sobre uma "possível crise constitucional" e afirmou que as razões alegadas para demitir Comey eram "risíveis".

Trump respondeu Blumenthal dizendo que ele deveria ser um dos investigados por "uma das maiores fraudes militares na história dos EUA", devido às polêmicas declarações que fez no passado sobre seu serviço militar durante a Guerra do Vietnã.

A Casa Branca informou que já está procurando um novo diretor para o FBI.

Durante a gestão de Comey, o FBI investigava se houve um complô entre o comitê de campanha de Trump e a Rússia para interferir no resultado das eleições a favor do candidato republicano.

O diretor do FBI incomodou ambos os partidos. Primeiro, foram os republicanos, depois que a agência decidiu encerrar a investigação contra a candidata democrata Hillary Clinton. Depois, foi a vez dos próprios democratas, com a reabertura dessa mesma investigação dias antes da eleição presidencial, em 8 de novembro.

Os democratas - e alguns republicanos - percebem na decisão de se livrar de Comey uma tentativa de pôr fim à investigação do FBI sobre as relações da equipe de Trump com funcionários de alto escalão do governo russo, e exigiram que a mesma seja realizada daqui pra frente por uma comissão especial independente.

"Isto é 'nixoniano'", afirmou o senador por Vermont Patrick Leahy, que qualificou como "absurda" a justificativa oficial de Trump para demitir Comey.

"Essa explicação tenta tapar uma verdade indiscutível: o presidente demitiu o diretor do FBI em meio a uma das mais importantes investigações de Segurança Nacional na história do nosso país, e que envolve funcionários de alto escalão no comitê de campanha de Trump e em sua administração", disse Leahy.

Algumas centenas de manifestantes se reuniram em frente à Casa Branca para reivindicar a nomeação de um procurador especial para o caso, aos gritos de "vergonha, vergonha!".

O influente senador republicano John McCain disse estar "decepcionado" com a decisão de Trump e pediu que uma comissão especial investigue o papel da Rússia nas eleições do ano passado.

O chefe da poderosa Comissão de Inteligência do Senado, o republicano Richard Burr, também reagiu.

"Estou preocupado com o momento e com as razões da demissão do diretor Comey", declarou Burr, em uma nota.

"Acredito que seja uma perda para o FBI e a nação", completou.

"Se a administração tinha objeções sobre a maneira como o diretor Comey administrou a investigação [Hillary] Clinton, elas já deveriam existir desde que assumiu as funções de presidente", acusou Chuck Schumer, chefe da minoria democrata no Senado, que suspeita da tentativa de obstruir as investigações.

Comey teve um papel excessivo

Os diretores do FBI são nomeados para mandatos de dez anos. Comey, de 56, que é popular entre os agentes do organismo, foi nomeado há quatro.

Comey teve um papel excessivo - e controverso - no cenário político do ano passado, lançando uma "bomba" atrás da outra, e acabou incomodando líderes de ambos os partidos.

Hillary acusou James Comey de causar sua derrota contra Trump, argumentando que ao reabrir a investigações sobre seus e-mails pouco antes das eleições assustou os eleitores e cortou seu momento.

Na semana passada, Comey declarou diante dos legisladores que sentiu "náuseas" ao pensar que pode ter influenciado a eleição ao reabrir a investigação, mas assegurou que não poderia ter tomado outra atitude.

Quando, em princípio, Trump decidiu manter Comey - que foi nomeado por Obama - em seu posto, isso levantou as críticas de quem viu neste gesto um prêmio por ter prejudicado Hillary.

Apenas poucos meses depois, Comey parecia apontar para Trump e as relações entre seu comitê de campanha e a Rússia para influenciar as eleições presidenciais.

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