Mais de vinte civis morreram nesta quarta-feira (17) no Iêmen em um ataque aéreo atribuído à coalizão liderada pela Arábia Saudita e que faz lembrar os riscos colaterais deste conflito.
Vinte e três civis, incluindo mulheres e crianças, foram mortos perto de Taiz, grande cidade do sudoeste do Iêmen, anunciaram os rebeldes huthis, que atribuíram o ataque à coalizão militar árabe.
Uma fonte militar pró-governo confirmou o ataque e relatou 20 civis mortos, mas disse se tratar de um "erro".
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A agência de notícias Saba, controlada pelos rebeldes huthis, indicou que o ataque visou um veículo que transportava civis na sub-prefeitura de Mawzaa, cerca de 60 km a sudoeste da cidade de Taiz.
Segundo a agência, seis crianças estão entre as vítimas e seis corpos foram carbonizados e não puderam ser identificados.
O ataque aconteceu em uma área controlada pelos rebeldes, de acordo com a fonte pró-governo, que confirmou que um veículo havia sido alvejado. Seus ocupantes estavam retornando para Mawzaa após fazerem compras em um mercado na cidade vizinha de Bara.
A coalizão militar sob comando saudita, que atua no Iêmen em apoio ao governo, não reagiu imediatamente às acusações rebeldes.
O ataque ocorre poucos dias antes da primeira visita no sábado e domingo do presidente Donald Trump à Arábia Saudita, um aliado de Washington.
A coalizão árabe foi acusada diversas vezes de atacar erroneamente civis em suas operações aéreas no Iêmen. Ela reconheceu alguns erros e prometeu tomar medidas para evitá-los.
'Escudos humanos'
A guerra no Iêmen opõe as forças pró-governo aos rebeldes huthis, aliados das unidades do exército ainda leais ao ex-presidente Ali Abdallah Saleh. Os rebeldes controlam a capital Sanaa desde 2014, bem como extensas áreas do país.
O conflito viveu uma escalada acentuada em março de 2015 quando a Arábia Saudita assumiu a liderança de uma coalizão militar para repelir os rebeldes os huthis, que ela associa ao Irã e ao Hezbollah libanês.
A coalizão árabe reconheceu alguns erros como em outubro de 2016, quando seus aviões alvejaram por engano uma cerimônia de luto em Sanaa, matando mais de 140 pessoas.
Em contrapartida, acusou os huthis de se esconderem atrás de civis ou usá-los como "escudos humanos", como durante uma operação aérea que matou em março 20 civis e seis rebeldes.
A aviação da coalizão havia visado um posto militar controlado pelos huthis na cidade portuária de Khukha, no Mar Vermelho. Os sobreviventes correram para um mercado onde foram atacados novamente, sendo mortos junto aos civis.
Segundo a ONU, os civis são a maioria dos cerca de 8.000 mortos e 45.000 feridos desde março de 2015.
Os efeitos indiretos da guerra sobre os civis são pesados, segundo a ONU, que fala de 19 milhões de pessoas, ou 60% da população, vivendo em situação de insegurança alimentar.
A ONU tenta relançar os esforços de paz, mas sem perspectiva de rápida retomada das negociações entre as partes em conflito.