Lenín Moreno vai assumir a Presidência do Equador nesta quarta-feira (24), com o desafio de impulsionar uma economia combalida e de enfrentar uma oposição fortalecida para manter a marca socialista que seu antecessor, Rafael Correa, imprimiu no país desde 2007. "Há uma ressaca econômica", declarou à AFP Farith Simon, catedrático da Universidade privada San Francisco de Quito, acrescentando que o desembolso estatal no período pré-eleitoral "gerou um superendividamento e afetou seriamente as finanças públicas".
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A dívida externa saltou de US$ 10 bilhões para US$ 25,68 bilhões (26,3% do PIB) na gestão de Correa (2007-2017), enquanto o boom petroleiro nacional acabou com a queda da cotação de US$ 98 o barril, em 2012, para US$ 35, em 2016, de acordo com o Banco Central.
Moreno admite que será muito difícil manter os níveis de investimento social alcançados pelo governo de Correa, disse à AFP o cientista político Simón Pachano, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) em Quito.
Faltando poucos dias para deixar a Presidência, Correa se vangloria de que a economia dolarizada se recupera, após enfrentar a "tempestade perfeita" com a queda brusca das exportações e a valorização do dólar que encareceu as importações.
O país, que apesar da crise mundial viu o PIB crescer até 7,9% em 2011, entrou em recessão, sacudido também por perdas da ordem de US$ 3,344 bilhões devido a um terremoto, em abril de 2016, ano em que a economia encolheu 1,5%.
"Superamos a recessão em tempo recorde, sem pacotaços (medidas fiscais) e sem aumento da pobreza, nem da desigualdade", disse o presidente em fim de mandato, eleito em três ocasiões.
No entanto, o analista Pablo Ospina avalia que o país ainda está "mergulhado em uma crise, em uma recessão, em um buraco".
"O tema econômico é um dos principais, o mais complicado e o que mais incerteza gera" para o governo de Moreno, que prometeu aumentar os subsídios aos pobres, acrescentou Ospina.
Maioria frágil no Congresso
Para Moreno, os analistas preveem um cenário menos favorável do que o proposto pelo governo.
O "panorama é: turbulências econômicas, mas certo enfraquecimento político e certas fissuras" no Aliança País (AP), o movimento no governo, cujo líder máximo é Correa, apesar de estar deixando o poder, afirmou Ospina, catedrático da Universidade andina Simón Bolívar, no Equador.
Com maioria no Congresso unicameral 2017-2021, o correísmo perdeu os dois terços obtidos em 2013 e com os quais reformou a Constituição há quatro anos, implantando a reeleição indefinida.
Essa maioria se alinha como frágil. Cerca de 20 de seus 74 parlamentares são de grupos afins à AP, enquanto a oposição de direita somou assentos entre as 137 cadeiras do Legislativo: a aliança Creo-Suma, que apoia Guillermo Lasso, passou de 10 para 34 deputados; e o Partido Social Cristão, de 7 para 15.
Nas eleições de abril, Moreno derrotou o direitista Lasso com uma diferença de 2,3 pontos percentuais.
Para Ospina, depois da década de desequilíbrio institucional, em que o Equador teve sete presidentes (três deles depostos) até Correa assumir, o período de estabilidade política e de hegemonia do partido governista "está pelo menos em dúvida", porque "há uma diferença no Congresso muito pequena, depende de aliados e não tem maioria qualificada".
"Menos confrontador"
Com um perfil diferente do explosivo Correa, Moreno está aberto a dialogar com todos os setores, deixando de lado a "forte dose de autoritarismo" que caracterizou o presidente em fim de mandato, assim como a sustentar o papel redistributivo do Estado, avaliou Pachano.
Ele já o fez com representantes dos bancos privados. O setor chegou a ser encurralado por Correa com medidas que cortaram seus ganhos e limitaram sua influência, ao proibir os banqueiros de terem capitais na imprensa - outra área com a qual o presidente também teve confrontos ásperos.
A reunião da quinta-feira passada com banqueiros "se inscreve na política do futuro presidente de promover um diálogo social construtivo e um ambiente político favorável para o desenvolvimento do Equador", avaliou a equipe de imprensa de Moreno.
"Há uma disposição de ser menos confrontador, de ter - como presidente - uma atitude menos forte perante a oposição e à mídia", avaliou Farith Simon.
Moreno "não vai mudar a orientação (política), mas sim o estilo de governo", disse Ospina.
Por enquanto, completou, "a falta de definições de políticas é algo que, afinal, significa que apenas saberemos como começar a agir".