Milhares de opositores protestaram novamente nesta quarta-feira (24) em Caracas, capital da Venezuela, para rechaçar a Assembleia Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro - cuja escolha foi fixada para julho -, e em seu lugar exigiram eleições gerais. "Constituinte? Constituinte, não; rebelião, sim. Isso não podemos permitir, essa ditadura tem que acabar", disse à AFP Silvia Heredia, de 34 anos, enquanto borrifava água com bicarbonato nos jovens atingidos pelas bombas de gás lacrimogêneo "para diminuir" seu efeito irritante.
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Heredia marchou à frente da multidão que tentou, em vão, chegar à sede do poder eleitoral.
Nesta quarta-feira completam-se 54 dias seguidos de protestos que exigem a saída de Maduro, que fica no poder até janeiro de 2019, mediante eleições presidenciais antecipadas.
A frustração é visível em muitos manifestantes, que ao observar o líder opositor Henrique Capriles caminhar junto com eles, o repreendiam: "Capriles, e então? Isso não funciona. Até quando?".
"Isso é uma luta de resistência. Isso é como o Muro de Berlim, tem que bater e bater, tanto, tanto, tanto, até que ele caia", respondia o dirigente.
O protesto parecia desorganizado: se dividiu e muitos não sabiam que caminho tomar. Como sempre acontece quando os opositores tentam chegar ao centro da cidade, policiais e militares os dispersaram com jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo, sendo respondidos com pedras e coquetéis molotov.
FERIDOS
Um jovem ficou ferido porque uma bomba de gás explodiu na sua mão quando tentava devolvê-la, observou um repórter da AFP.
Depois de esvaziar a estrada Francisco Fajardo, a principal da capital, vários oficiais da militarizada Guarda Nacional seguiram em motocicletas as pessoas que ainda permaneciam, dispersando-as com mais bombas.
"Embora nos reprimam, continuamos aqui para sair disto, porque o que há é fome [...] Para sair desta crise a Constituição não serve, porque o CNE [Conselho Nacional Eleitoral] está ajoelhado para o governo", disse à AFP Abel, estudante de 25 anos.
A oposição rechaça a Constituinte proposta por Maduro para reformar a Carta Magna, por considerar que é uma estratégia "fraudulenta" para se manter no poder.
Dos 540 legisladores que serão escolhidos, 176 candidatos serão propostos por setores sociais nos quais, segundo denúncia da oposição, o governo é influente.
No fim da tarde, vários manifestantes impediam o fluxo nas ruas da parte leste de Caracas com barricadas.