ACORDO DE PARIS

Secretário da ONU diz que luta contra mudança climática não pode parar

''Não se pode deter a ação no que diz respeito ao clima'', disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres

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Publicado em 02/06/2017 às 9:02
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''Não se pode deter a ação no que diz respeito ao clima'', disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres - FOTO: Foto: JEWEL SAMAD / AFP
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"Não se pode deter a luta contra a mudança climática", advertiu nesta sexta-feira (2) o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que fez um apelo a todos os países para que continuem "comprometidos" com os acordos de Paris, após o anúncio da saída dos Estados Unidos.

"A mudança climática é inegável e constitui uma das maiores ameaças no mundo atualmente e para o futuro de nosso planeta", declarou à imprensa à margem do Fórum Internacional de São Petersburgo. 

"Não se pode deter a ação no que diz respeito ao clima", destacou.

China e União Europeia

China e União Europeia (UE) reafirmaram nesta sexta-feira a intenção de liderar a luta contra a mudança climática, após a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris anunciada por Donald Trump e que provocou consternação em todo o planeta.

"Não há volta atrás na transição energética. Não há volta atrás no Acordo de Paris", afirmou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, antes da abertura de uma reunião de cúpula entre a UE e a China em Bruxelas.

A seu lado, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, destacou a necessidade de "manter as regras, especialmente as multilaterais".

"As partes envolvidas devem cuidar deste resultado tão dificilmente alcançado" em Paris, afirmou em Pequim a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying.

Ao mesmo tempo, a chanceler alemã Angela Merkel afirmou que está "mais determinada que nunca" a agir a favor do clima.

"Esta decisão não pode e não vai deter aqueles de nós que acreditam que temos o dever de proteger o planeta", disse a chanceler em Berlim.

"Estamos mais determinados do que nunca na Alemanha, na Europa e no mundo em unir todas as nossas forças para enfrentar o desafio climático", completou Merkel.

No dia 12 de dezembro de 2015, o mundo celebrou a assinatura em Paris do primeiro acordo climático de alcance internacional, que pretende limitar o aumento da temperatura do planeta a "abaixo de 2ºC" na comparação com a era pré-industrial.

A alegria planetária virou consternação na quinta-feira, após o anúncio de Trump de que os "Estados Unidos cessarão toda a implementação do Acordo de Paris", no momento em que ainda é necessário definir vários dispositivos.

Da Europa a China, passando pela América Latina, as capitais ao redor do mundo expressaram indignação com a decisão que, nas palavras do ex-presidente americano Barack Obama, representa uma "rejeição ao futuro".

'Novas alianças'

Desde sua chegada ao poder em janeiro, Trump gerou incertezas sobre o acordo climático. Ante a eventual saída americana, a UE, com o comissário europeu de Ação pelo Clima Miguel Arias Cañete à frente, iniciou uma aproximação com a China para salvar o pacto.

China e Estados Unidos representam em conjunto quase 40% das emissões de gases que provocam o efeito estufa. O compromisso dos dois países foi crucial para a assinatura do Acordo de Paris

"A UE buscará novas alianças das maiores economias do mundo com os Estados insulares mais vulneráveis", uma associação que incluirá empresas americanas, afirmou Cañete, para quem a UE está "no lado certo da História".

A referência às empresas americanas não é um sonho, já que presidente dos Estados Unidos enfrenta uma forte pressão interna por sua decisão. Executivos de empresas como Tesla, Disney, General Electric e até as petrolíferas ExxonMobil e Chevron reiteraram seus compromissos com o pacto climático.

E, apesar de Trump ter justificado sua decisão com os possíveis benefícios para as empresas e cidadãos americanos, ele conta apenas, a nível político, com o apoio de membros de seu partido, o Republicano. 

De acordo com uma pesquisa do instituto YouGov para o Huffington Post em maio, 46% dos eleitores de Trump eram favoráveis à saída do acordo e 22% não tinham opinião.

Saída efetiva em 2020

O clima é uma nova frente, junto ao comércio internacional e aos gastos de defesa na Otan, para os aliados europeus dos Estados Unidos, que tentaram convencer Trump, sem sucesso, na reunião do G7 da semana passada sobre a importância do Acordo de Paris.

O vice-presidente americano, Mike Pence, ligou na quinta-feira para a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, para explicar a decisão de Washington e reafirmar "a solidez e profundidade das relações entre Estados Unidos e UE", segundo fontes diplomáticas.

Mogherini respondeu que a Europa continuaria "na linha de frente da aplicação" do acordo climático, "com o qual compartilham os mesmos objetivos", segundo as fontes.

De acordo com um projeto de declaração conjunta, redigido antes da decisão de Trump e ao qual a AFP teve acesso, China e UE estavam dispostas a "confirmar seus compromissos" adotados em Paris e "acelerar a cooperação" para a aplicação do acordo.

Embora a saída efetiva dos Estados Unidos possa acontecer em 2020, depois de invocar o artigo 28 do acordo, Trump afirmou que todos os compromissos não vinculantes cessam no "dia de hoje".

Além da consternação com o anúncio, a incerteza real fica por conta do financiamento americano à Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que alcança 23% do orçamento total, e sua ajuda aos países menos desenvolvidos, por exemplo, como parte do Fundo Verde.

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