A investigação sobre o ataque com martelo a um policial na frente da catedral de Notre-Dame de Paris se concentrava, nesta quarta-feira (7), na personalidade do agressor que jurou lealdade ao grupo Estado Islâmico (EI), um universitário argelino de 40 anos desconhecido dos serviços de Inteligência.
Farid I. não "apresentava sinais de radicalização", e todas as indicações confirmam a tese de "um ato isolado", afirmou hoje o porta-voz do governo, Christophe Castaner.
Em seu apartamento alugado em Cergy, perto de Paris, a Polícia encontrou um vídeo, no qual ele jura fidelidade ao EI, segundo uma fonte próxima à investigação. Durante as buscas, também foram apreendidos "vários aparelhos eletrônicos que estão sendo analisados".
O agressor está hospitalizado depois de ter sido ferido a tiros pela polícia, no momento em que avançou na direção de um agente com um martelo na mão.
Durante o ataque, ele gritou "isto é pela Síria" e disse ser "um soldado do califado", uma referência ao califado anunciado pelo EI de modo unilateral, em junho de 2014, nas áreas sob seu controle no Iraque e na Síria.
O policial agredido, de 22 anos, ligeiramente ferido no pescoço, também foi hospitalizado e recebeu alta hoje.
O ataque, no coração de Paris e em um dos principais pontos turísticos da capital francesa, aconteceu apenas três dias depois de um novo atentado em Londres, que deixou sete mortos e 48 feridos. Os três agressores foram abatidos pela polícia.
Desde 2015, a França viveu uma série de ataques que fizeram 239 mortos.
Ligações com a Suécia
O agressor tinha documentos de identificação com o nome de Farid I., nascido na Argélia em janeiro de 1977. Desde 2014, fazia Doutorado em Ciência da Informação na Universidade de Metz (leste da França).
Ontem, o ministro francês do Interior, Gérard Collomb, indicou que os documentos "ainda devem ser autentificados".
Farid I., que "não tinha antecedentes psiquiátricos conhecidos", de acordo com uma fonte ligada à investigação, era um estudante "totalmente oposto" a um perfil "jihadista" e que defendia "os valores democráticos", disse à AFP seu orientador, Arnaud Mercier.
Questionada pela AFP, a Universidade de Uppsala, ao norte de Estocolmo, confirmou que ele foi aluno da prestigiosa instituição entre 2009 e 2011, quando se formou em Jornalismo.
De acordo com o tabloide sueco Expressen, até 2005 foi casado com uma sueca e deixou o país em 2013.
Segundo uma ficha em seu nome no site profissional LinkedIn, Farid I. diz ter dirigido um jornal local em Bejaia, na Cabília, e trabalhado para o jornal argelino El Watan, conhecido por sua linha anti-islamita.
"Não era um islamista de barba longa. Pelo contrário, era do tipo que usa calça de sarja e jaqueta (...) Com jeito de professor. Alguém que não levanta qualquer suspeita", afirmou um dos inquilinos de seu prédio, lembrando dele como um homem "muito discreto" que mora ali "há um ano e meio, ou dois".
Nesta quarta-feira, os turistas voltaram a lotar a catedral, dentro da qual centenas de pessoas tiveram que permanecer confinadas por mais de duas horas na terça-feira (6).
"Não é um louco que vai parar. Confiamos na polícia e, finalmente, ninguém - além do idiota com o martelo - ficou gravemente ferido ontem", comentou Joe, um americano de 53 anos.
Em um café próximo, Le Notre-Dame, situado no Quai Saint-Michel, é uma manhã como outra qualquer. "Como se nada tivesse acontecido, as pessoas nem sequer comentam. Acostumaram-se", declarou Claude, atrás do bar.