A primeira-ministra britânica, Theresa May, deve renunciar após o retrocesso do seu Partido Conservador nas eleições legislativas desta quinta-feira no Reino Unido, defendeu o líder trabalhista Jeremy Corbyn.
May "perdeu cadeiras conservadoras, perdeu votos, perdeu apoio e perdeu confiança. Eu digo que isto é o suficiente para partir", declarou Corbyn após ser reeleito na circunscrição de Islington North, no centro de Londres.
Segundo pesquisas de boca de urna, os conservadores lideram a apuração, mas perderam a maioria absoluta que detinham no Parlamento.
De acordo com pesquisa compartilhada pelas emissoras BBC, Sky e ITV, os conservadores elegeram 314 deputados do total de 650 (tinham 330), seguidos dos trabalhistas de Jeremy Corbyn, com 266 (229); do Partido Nacional Escocês, com 34 (56); e do Partido Liberal Democrata, com 14 (9).
Em sua primeira reação aos resultados, May afirmou que os conservadores manterão a "estabilidade necessária" na Grã-Bretanha, apesar do revés eleitoral.
"O país precisa de um período de estabilidade e qualquer que sejam os resultados, o Partido Conservador garantirá que possamos cumprir esta tarefa de garantir a estabilidade", disse May após ser reeleita na circunscrição de Maidenhead, na região de Londres.
Após a divulgação das primeiras projeções, a libra esterlina caiu em relação ao euro, às 18h15 de Brasília, com 88,06 pence por euro contra 86,90 pence na véspera por volta das 18h de Brasília. Também caiu frente ao dólar, a US$ 1,2723 por libra contra US$ 1,2962 na quarta-feira.
Nos mercados asiáticos, a libra recuava nesta sexta-feira a 1,2709 dólar, seu menor nível desde abril, contra 1,2950, um retrocesso de quase 2%. O euro era cotado a 88,24 pence, contra 86,60.
'Desastre para May'
As manchetes dos jornais desta sexta-feira refletem a surpresa: "Por um fio" (Daily Mirror, com uma foto de May), "Mayhem" ("Caos", com The Sun fazendo um jogo de palavras com o sobrenome da premiê), "Choque" para May (The Guardian e Daily Telegraph).
"Será um desastre para Theresa May. Sua liderança será questionada e receberá pressões para renunciar", disse à AFP o especialista em Política Ian Begg, da London School of Economics.
O ex-ministro das Finanças conservador George Osborne reconheceu que é um resultado "totalmente catastrófico para os conservadores e para Theresa May".
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Antecipando as eleições de 2020, May "perdeu a aposta e é até prematuro afirmar que permanecerá como primeira-ministra", avaliou Paula Surridge, da Universidade de Bristol.
Comparativamente, o líder trabalhista Jeremy Corbyn melhoraria os resultados de seu antecessor, Ed Miliband, em 2015, e sairia muito fortalecido.
"Seja qual for o resultado final, nossa campanha positiva mudou a política para melhor", tuitou Corbyn nesta quinta.
Outros grandes derrotados seriam os separatistas escoceses, que perderiam 22 deputados de 56 e veriam consideravelmente debilitada sua aspiração a um segundo referendo de independência em breve.
May permanece na melhor posição para formar o novo governo, mas as negociações poderão atrasar o início das conversas de divórcio com Bruxelas, previsto para 19 de junho. O novo Parlamento se reunirá pela primeira vez no dia 13 próximo.
O líder do Ukip (Partido para a Independência do Reino Unido), à beira de desaparecer após essa eleição, chegou a pôr em xeque que o Reino Unido vá sair da UE.
"Se a pesquisa se confirmar, Theresa May pôs o Brexit em perigo", disse Paul Nuttall.
O colunista Andrew Rawnsley, do Observer, disse à rede BBC que "estamos assistindo à vingança dos 'remainers'", os defensores de continuar no bloco.
Para o veterano conservador Ken Clarke, o referendo sobre a União Europeia abriu a caixa de Pandora.
"Nunca mais um referendo sobre nada!", exclamava também em entrevista à BBC.
Corbyn, contra qualquer prognóstico
May planejou as eleições como um plebiscito entre ela, "sólida e estável", segundo seu lema eleitoral, capacitada para enfrentar uma União Europeia com sede de vingança após o Brexit, e um Corbyn que, até pouco tempo, era questionado até por seus deputados.
"Quero seu apoio para liderar o Reino Unido. Quero a autoridade para falar em nome do Reino Unido. Fortaleçam-me para lutar pelo Reino Unido", pediu May nas últimas horas de campanha.
A campanha começou com May abrindo 20 pontos de vantagem nas pesquisas, mas a distância foi-se reduzindo. Diante de três atentados em três meses, os cortes no orçamento da polícia, após seis anos de austeridade conservadora, prejudicaram a campanha de May.
O líder trabalhista de 68 anos se mostrou um adversário duro e afastou o foco do Brexit para concentrar sua campanha em temas como saúde e desigualdade.
Cerca de 47 milhões de britânicos foram convocados a comparecer às urnas para eleger os 650 deputados da Câmara dos Comuns.