O presidente francês, Emmanuel Macron, não conseguiu nesta sexta-feira (23) em sua primeira cúpula europeia convencer seus sócios a dar mais poder a Bruxelas para controlar os investimentos estrangeiros, especialmente chineses, com o objetivo de proteger setores estratégicos.
Após uma longa discussão na manhã, os mandatários dos 28 países europeus reescreveram até mesmo as conclusões que previam adotar sobre a questão para reduzir sensivelmente seu alcance diante da pressão de alguns países do sul.
O novo chefe de Estado francês "defendia claramente esta proposta, mas outros resistiram", comentou uma fonte europeia, que citou Portugal, Grécia e Espanha, países que na sua opinião precisam de dinheiro para "respirar" e que temem uma desaceleração dos investimentos estrangeiros.
Outros países do bloque mais comprometidos com a abertura dos mercados, como os nórdicos, expressaram suas "dúvidas".
A proposta de Macron, apoiada discretamente por Berlim, tinha especialmente como objetivo os investidores chineses, cujo apetite pelas empresas industriais europeias preocupa o bloco há alguns anos.
Por suas aquisições, as empresas chinesas, frequentemente públicas, são acusadas de concorrer com um preço mais baixo que o de mercado (dumping) e de modo desleal com conhecimentos e tecnologias chave.
Em 2016, a Alemanha e a UE só puderam constatar, impotentes, a transferência de tecnologias "made in Germany" durante a compra da fabricante alemã de robôs industriais Kuka por parte do gigante chinês de eletrodomésticos Midea por 4,6 bilhões de euros.
É uma questão "politicamente muito sensível", confessou na terça-feira a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, que defende uma UE aberta, com livre mercado.
"A concorrência justa é preferível à lei da selva", insistiu Macron ao fim da cúpula, durante uma coletiva de imprensa conjunta com a chanceler alemã, Angela Merkel.
'Europa aberta, não à venda'
Na realidade, as conclusões da cúpula, como foram reescritas durante a manhã e adotadas pelos líderes europeus, já não convidam a Comissão a se encarregar da questão em nome dos 28, como estava previsto.
O termo "controle" ("screening", em inglês) dos investimentos desapareceu do texto final.
Segundo a fonte europeia, o executivo comunitário estudará, contudo, a questão nas próximas semanas, a iniciativa própria. Seu presidente Jean-Claude Juncker deveria se referir a isso em seu discurso sobre o Estado da União em setembro.
"Pessoalmente, compartilho por completo o ponto de vista do presidente da República francesa", "quero ter uma Europa aberta, não uma Europa à venda", disse o presidente da Comissão.
Os dirigentes europeus também pediram nesta sexta-feira que se defenda "um comércio aberto e multilateral" e que se "combata o protecionismo", enquanto comemoravam os instrumentos de defesa comercial da UE para responder às práticas "injustas" de terceiros países.
Bruxelas, responsável pela política comercial em nome dos 28, lançou há meses uma reforma de sua legislação, especialmente com o objetivo de luta contra o dumping chinês no setor das matérias-primas.
Os novos textos preveem um sistema de cálculo modernizado dos direitos antidumping e permitirão adotar sanções mais duras contra as práticas abusivas.
Ânimos de Pequim
Apesar dessas conclusões comuns, os 28 não conseguem chegar a um acordo no âmbito comercial, entre defensores do livre-comércio e os partidários de uma política comercial mais protetora.
O protecionismo defendido pelo presidente americano, Donald Trump, a ameaça crescente do dumping chinês e a oposição dos cidadãos aos tratados de livre-comércio negociados pela UE, como o do Canadá (Ceta), polarizaram as posições europeias esses meses.
"A divisão é entre aqueles que querem primeiro um comércio livre e aqueles que privilegiam regras justas", resume um diplomático europeu.
A resposta chinesa às conclusões da UE não demorou a chegar. A chancelaria do país afirmou que seu país continuará "estimulando as empresas chinesas a investir na UE" e "pedindo-lhes respeito às leis e regulamentos locais".
"Esperamos também que a UE possa oferecer um ambiente seguro, justo e imparcial às empresas chinesas dispostas a investir e a fazer negócios" no bloco, declarou Geng Shuang, porta-voz do ministério.