Donald Trump ressuscitou seu projeto de construção de um muro na fronteira mexicana acrescentando um toque ecológico: o presidente americano propõe instalar painéis solares, mas os especialistas questionam tal possibilidade.
Promessa central da sua campanha eleitoral, o muro de Donald Trump até agora não conseguiu convencer o Congresso, que está relutante em financiá-lo.
Apesar das reiteradas afirmações do presidente de que o México pagará a conta, o país vizinho rejeita categoricamente a ideia. O custo de construção foi estimado em entre 8 e 40 bilhões.
Mas na quarta-feira (21) Donald Trump expressou uma ideia que considera particularmente brilhante.
"Vou dar uma ideia que ninguém ouviu falar: fronteira sul, muito calor, muito sol... Estamos considerando a construção do muro como um muro solar", declarou um comício em Cedar Rapids, Iowa (centro dos Estados Unidos).
"Isso iria gerar energia e financiaria a construção", acrescentou.
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A organização profissional SEIA (Associação das Indústrias de Energia Solar) recebeu com cautela o reconhecimento dos benefícios das energias renováveis, para as quais o presidente Trump não demonstrou muito apoio até o momento.
"Estamos felizes em saber que o presidente aprecia os muitos benefícios da energia solar", disse Dan Whitten, porta-voz do SEIA, em um comunicado.
"Esta seria uma abordagem econômica e respeitosa com o meio ambiente, mas vamos esperar para saber mais sobre este plano para fazer mais comentários."
Ceticismo
Outros se mostram mais céticos sobre a implementação de um projeto como este.
Para que a energia solar seja rentável, é necessário que os compradores e os usuários não estejam muito distantes da fonte de produção, afirma Anya Schoolman, chefe da Community Power Network, uma associação que apoia projetos de energia solar locais e regionais.
"Estes painéis vão estar no meio do nada. É difícil ver quem vai comprar essa energia", diz ela, acrescentando que o muro proposto deve se estender por cerca de 3.200 km e cruzar vários estados.
Isso implica não apenas diferentes regulamentações, mas também vários parceiros, seja quanto a emprensas produtoras de energia quanto a distribuidores.
"As barreiras regulatórias poderiam, sozinhas, tornar o custo proibitivo", estima Schoolman.
Para Edward Alden, do Conselho de Relações Exteriores, um influente think tank, "um muro de painéis solares seria preferível a uma barricada simples, mas as longas distâncias entre a fronteira e onde a energia seria consumida são suscetíveis de tornar este projeto pouco rentável".
"Eu não acredito que o governo tenha realmente levado a sério essa ideia", disse ele.
Um muro coberto com painéis solares, posicionados no ângulo correto para capturar a luz solar, certamente iria gerar uma grande quantidade de energia se os desafios regulamentares e técnicos forem superados.
Elemental Energy, uma empresa de instalações solares com sede no Oregon (noroeste), acredita que um muro de 3 metros de altura coberto de painéis solares geraris 7,28 gigawatt-hora de eletricidade por dia, o suficiente para abastecer 220.000 casas de tamanho médio, de acordo com Business Insider.
A instalação dos painéis custaria mais 1,4 bilhão de dólares ao custo total de construção do muro, segundo esta avaliação.
Entre as centenas de empresas que responderam ao anúncio de licitação da administração Trump para construir o muro hipotética, a de Tom Gleason justamente propôs no início de abril o uso de painéis solares. Será que o presidente americano teria se inspirado neste projeto?
Gleason garante que seu muro custaria cerca de US$ 6 milhões por milha (1,6 km) e produziria 2 megawatts de eletricidade por hora, "o que se pagaria em 20 anos", disse ao Las Vegas Review Journal.
Com isso, ele disse, "todos ficaram felizes, incluindo o nosso presidente."