Os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) estão desde quinta-feira (29) bloqueados em Raqa, seu principal reduto na Síria, após o último acesso à cidade ser fechado pela aliança árabe-curda que conduz uma ofensiva na cidade.
As Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, "assumiram o controle de uma região ao sul do rio Eufrates, cortando assim a última estrada que o EI poderia utilizar para se retirar de Raqa", explicou à AFP Rami Abdel Rahmane, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Este anúncio é dado exatamente três anos depois da proclamação pelo EI do "califado islâmicos" sobre os territórios conquistados por seus combatentes no Iraque e na Síria.
O cerco se deve graças a captura pelas FDS dos vilarejos de Kasrat Afnan e Kassab, na margem meridional do rio, segundo o OSDH.
Cerca de 2.500 extremistas combatem na cidade, de acordo com o general britânico Rupert Jones, segundo comandante da coalizão internacional.
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'Completamente cercados'
Os combatentes curdos e árabes já controlavam as margens norte, leste e oeste, mas o sul de Raqa, a "capital" de fato do EI na Síria, foi muito mais complicado a conquistar por estar à beira do deserto.
"As FDS cercam completamente Raqa", garantiu Rami Abdel Rahmane.
Na quarta-feira (28), a ONU estimou que cerca de 100.000 civis seguem "bloqueados" na cidade.
"Com a intensificação dos ataques aéreos e combates no chão, o número de vítimas civis aumenta e as vias de fuga se fecham, uma após a outra", declarou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos em um comunicado.
Localizada no norte do país e às margens do rio Eufrates, Raqa contava com cerca de 300.000 habitantes, em sua maioria árabes sunitas, antes da guerra.
A cidade também era habitada por milhares de cristãos armênios e siríacos, enquanto os curdos chegavam a representar 20% de sua população.
A batalha de Raqa é a mais emblemática para as FDS, que estão envolvidas nos combates contra os extremistas há vários meses com o apoio de uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.
Desde a proclamação de seu "califado" em junho de 2014, o grupo ultrarradical, que reivindicou uma série de atentados em outros países, perdeu muito do território conquistado.
De acordo com um estudo do escritório de análise IHS Markit, o EI perdeu em três anos 60% do território que havia conquistado e 80% de suas receitas.
O território do "califado" passou de 90.000 km2 em janeiro de 2015 para 36.200 km2 em junho de 2017, aponta a empresa com sede em Londres.
"A ascensão e queda do EI se caracteriza por uma rápida expansão seguida por um declínio constante. Três anos após a sua proclamação, é evidente que o projeto de governança do califado fracassou", observa Columb Strack, um especialista em Oriente Médio do IHS Markit.
"O resto do 'califado' deve desintegrar-se antes do final do ano e o seu projeto será reduzido a uma série de áreas urbanas isoladas que deverão ser reconquistadas ao longo do ano de 2018", acrescenta.