Dois jovens - de 23 e 24 anos - morreram e outras nove pessoas ficaram feridas durante os protestos desta quinta-feira em meio à greve convocada pela oposição contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e sua Assembleia Constituinte, informou a Procuradoria.
Leia Também
Uma das vítimas foi identificada como Ronney Tejera (24) que participava de uma manifestação no bairro de Los Teques, em Caracas, quando foi "atingido por arma de fogo, ação que provocou sua morte imediata", segundo a Procuradoria, que não identificou os responsáveis.
Na cidade de Valencia (norte), Andrés Uzcátegui, 23 anos, morreu durante "uma manifestação" na localidade de La Isabelica, em um confronto que deixou ainda seis feridos, segundo a Procuradoria.
Desde o início da atual onda de protestos contra Maduro, no dia 1º de abril, 99 pessoas morreram e milhares ficaram feridas.
Durante a greve desta quinta-feira, ocorreram confrontos entre manifestantes que bloqueavam as ruas com barricadas e as forças de segurança, que utilizaram bombas de gás lacrimogêneo e tiros de cartucho para dispersar os protestos.
Em Los Ruices (leste de Caracas), manifestantes atiraram pedras em funcionários do canal estatal de televisão VTV e queimaram uma cabine da polícia.
Também ocorreram confrontos nos subúrbios leste e oeste da capital, assim como nos Estados de Zulia (noroeste), Aragua (centro) e na Ilha Margarita.
Segundo Alfredo Romero, diretor da ONG Fórum Penal, a greve desta quinta-feira deixou ao menos 173 detidos em todo o país, mas principalmente em Caracas e nos Estados de Zulia e Nueva Esparta.
"Hora zero" ganhou da cúpula empresarial da Venezuela
A paralisação de 24 horas começou às 6h locais (7h, horário de Brasília). Chamada de "hora zero" pela oposição, essa convocação intensifica as manifestações iniciadas em 1º de abril contra Maduro.
Animada pelos 7,6 milhões de votos do plebiscito simbólico que realizou no domingo passado (16) contra Maduro e contra sua Constituinte, a oposição convocou um cessar das atividades formais e informais, mas de forma ativa.
Várias ruas foram bloqueadas com barricadas e os ônibus não circularam em Caracas e em outras cidades importantes do país.
Dezenas de estabelecimentos comerciais fecharam suas portas hoje, e muitos trabalhadores tiveram de caminhar por várias quadras debaixo de chuva, especialmente no leste de Caracas, onde os protestos se concentraram. O metrô funcionou normalmente.
Mas no centro de Caracas e em bairros com forte presença de chavistas, como Catia (oeste), poucos aderiram à greve.
"Voltamos a triunfar, agora rumo ao domingo, 30 de julho, de vitória em vitória, moral máxima", afirmou Maduro ao referir-se à data da eleição dos membros da Assembleia Constituinte contra a qual a greve foi convocada.
O presidente assegurou que as indústrias básicas e os setores petroleiro, energético e a administração pública trabalharam a 100%, e só reconheceu falhas no serviço de ônibus urbanos que, segundo ele, funcionaram a 90%.
"Eles que nunca trabalharam que fiquem sem trabalhar; nós vamos é em frente", afirmou, durante um comício de campanha pela Constituinte transmitido pela televisão governamental VTV.
A greve contou com o apoio da cúpula empresarial, de câmaras de comércio e indústria, de parte dos sindicatos, de estudantes e funcionários dos transportes. Já o governo controla a estratégica indústria petroleira e o setor público, com quase três milhões de empregados.
"A Assembleia Constituinte é apenas uma maneira de disfarçar a transformação da Venezuela em um Estado comunista", alertou o presidente da Fedecámaras, Carlos Larrazábal.
"Essa paralisação é um embate de forca entre um empresariado e uma população famélica e pauperizada e um governo também quebrado que controla os poucos recursos de um país petroleiro", opinou o presidente do instituto Datanálisis, Luis Vicente León.
"São dias importantes para o governo entender que uma saída democrática e pacífica para a crise, para os trabalhadores, significa retirar a Constituinte", declarou à AFP o líder sindical Froilán Barrios.
O líder opositor Henrique Capriles declarou que "o governo quer tapar o sol com um dedo, mas hoje parece (o feriado) 1º de janeiro em grande parte do país".
"É uma queda de braço entre um empresariado e uma população famélica e pauperizada contra um governo também quebrado, mas que controla os poucos recursos" do país, opinou o analista Luis Vicente León.