Palestina

Primeiro-ministro palestino visita Gaza, no caminho para reconciliação

Rami Hamdalah assegurou que a Autoridade Palestina recuperará o poder sobre esse território controlado pelo movimento islamita Hamas há dez anos

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Publicado em 02/10/2017 às 18:12
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Rami Hamdalah assegurou que a Autoridade Palestina recuperará o poder sobre esse território controlado pelo movimento islamita Hamas há dez anos - FOTO: Foto: AFP
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O primeiro-ministro palestino, Rami Hamdalah, chegou nesta segunda-feira à Faixa de Gaza e assegurou que a Autoridade Palestina recuperará o poder sobre esse território controlado pelo movimento islamita Hamas há dez anos.

Hamdalah, acompanhado por uma dezena de ministros, viajou para Gaza por primeira vez desde 2015.

Centenas de habitantes do enclave, que foi alvo de guerras, do bloqueio israelense e de lutas de poder interpalestinas, foram ouvir o discurso do primeiro-ministro em um ponto de controle do Hamas na fronteira com Israel.

Milhares de pessoas aguardavam fora da passagem fronteiriça, constatou a AFP.

Hamdalah prometeu o fim da divergência que prejudica a ação palestina há anos e o começo de uma nova administração do território.

"O governo começa a exercer seu papel em Gaza a partir de hoje", declarou.

"Viemos a Gaza para pôr fim às divisões e construir a unidade" com o Hamas, disse. A prioridade é "aliviar o sofrimento do povo de Gaza".

A visita de Hamdalah marca a reconciliação entre os dois grupos rivais depois de uma década de divergência. Deve ainda preparar o terreno para transferir progressivamente as responsabilidades - ao menos civis - do Hamas à Autoridade Palestina

Um dia a dia complicado
 

A Autoridade Palestina é reconhecida internacionalmente e supõe-se que deva prefigurar a criação de um Estado independente. O Hamas, considerado grupo terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, a expulsou da Faixa de Gaza em 2007, após quase ter chegado a uma guerra civil com o Fatah.

Desde então, a Autoridade Palestina exerce apenas um controle limitado na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel há 50 anos e a dezenas de quilômetros de Gaza, através do território israelense. O Hamas governa em Gaza onde vivem dois terços dos palestinos dos territórios.

As lutas interpalestinas são consideradas um dos obstáculos para uma solução conflito israelense-palestino.

Hamas aceitou em setembro o retorno do enclave à Autoridade Palestina, pressionado por Egito, pelo isolamento do Catar e por um severo controle financeiro da Autoridade Palestina, que deixou de pagar as faturas de eletricidade para a faixa prevista por Israel.

As medidas do presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abas, tornaram mais difícil a situação para os habitantes do enclave, confrontados a graves dificuldades econômicas e o desemprego, muito alto sobretudo entre os jovens. 

Abu Musa Hamdona, um morador de Gaza de 42 anos, elogiou a visita do governo. "Pedimos que se ocupe dos jovens, isso é o mais importante, que resolva a crise da eletricidade e que melhore as condições de vida do povo de Gaza", disse. 

Manobra de Hamas?

O risco de uma explosão social, junto com um crescente isolamento e um possível enfoque mais pragmático de seus dirigentes, incitou o Hamas a aceitar uma reconciliação com o Fatah, avaliam os especialistas.

No entanto, muitos analistas acham que a boa vontade do Hamas é, na verdade, uma manobra tática para sair de uma situação complicada e duvidam que o movimento vá ceder à Autoridade Palestina o controle sobre a seguridade.

Por sua vez, o enviado especial da ONU, Nickolay Mladenov, declarou à AFP que era "prudentemente otimista". Sem subestimar as dificuldades, destacou "a vontade política real" de Hamas e de Fatah, e instou os países estrangeiros a apoiar o governo de Hamdalah. 

Na segunda-feira à tarde, Hamdalah se reuniu com o chefe de Hamas, Ismael Haniyeh, e com o líder do movimento na Faixa de Gaza, Yahya Sinuar. Na terça-feira, dirigirá um conselho de ministros. 

No entanto, a visita não deixa de ser eminentemente protocolar, pois os detalhes da passagem de poderes serão debatidos em breve no Cairo. 

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